sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

A ANÁLISE SWOT NA PERSPECTIVA PESSOAL


A ferramenta primordial para se compreender todos os aspectos que envolvem o mundo do trabalho retorna para o ponto inicial de onde nunca deveria ter saído: a pessoa. Não importa qual o ramo no qual você esteva inserido, sempre estará fadado ao insucesso se menosprezar a importância do lado humano envolvido no processo.

Como não se constitui numa tarefa fácil, precisamos começar tal análise por nós mesmos e, então, partirmos, para o estudo das relações interpessoais, agregando valor à carreira, desta vez, revestida de humanidade pulsante. 

A proposta da análise SWOT numa perspectiva pessoal é a de focar nas forças interiores que interagem podendo produzir resultados ora positivos ora negativos, de modo que, conhecendo e identificando esses forças o profissional terá aumentada a chance de fazer convergir apenas o que representar avanço para si.

SWOT é invenção americana onde o "S" corresponde a 'strenght' (forças), o "W": 'weakness' (fraquezas); "O" para 'oportunities', para oportunidades; e "T" de 'treatness' que significa ameaças. Através dessa análise o profissional buscará identificar quais seus pontos positivos, as forças internas de que dispõe para superar as fraquezas; equacionados esses fatores, passa-se ao segundo passo, quais os mecanismos que poderão estrategicamente ser postos para maximizar as oportunidades frente ao ambiente. Ou seja, para eu atingir determinados objetivos aproveitando satisfatoriamente as oportunidades que o ambiente me propiciam quais as fraquezas que preciso superar e quais as forças que preciso maximizar. 

Dependendo da situação, cada caso é um caso, a análise SWOT, numa perspectiva pessoal, servirá para nortear o profissional, equipando-o de forma introjetada, para os avanços e enfrentamentos com os quais terá de lidar na conquista de seus objetivos. Mas, a receita do sucesso é tão antiga e sua eficácia permanece moderna: prante o bem, semeie amor, construa amizades sólidas e com isso, será fácil perceber que o trecho mais duro do caminho já foi vencido.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

VIOLÊNCIA: UM ESTADO INTIMIDADO



Insegurança. Esse é o sentimento que vem se cristalizando na mente dos brasileiros. Crimes hediondos se tornando cada vez mais frequentes não apenas nos grandes centros metropolitanos mas em todos os lugares desse imenso Brasil.

As correntes teóricas parecem convergir para um denominador comum: as drogas. Se levarmos em consideração o avanço geográfico do crack, por exemplo, e de seus efeitos devastadores sobre famílias, especialmente sobre a juventude, o alcance é mais rápido do que as medidas estratégicas governamentais tanto no campo da saúde preventiva e terapêutica, quanto no campo da segurança pública ostensiva e repressiva. 

Enfim, estamos diante da cultura da violência instaurada pelas facções criminosas operantes nos estratos da sociedade e o Estado tem dado demonstrações de impotência quando confrontado com os números do crime. Será que a saída está no enfrentamento duro, do fogo contra fogo? 

Talvez não seja por esse caminho, já que o inimigo oculto é covarde e se utiliza do meio social para se infiltrar, manter bases operacionais e comandar esquemas inteligentes que neutralizam as forças policiais, vitimizando-as, caçando sem piedade os agentes da lei. 

Quem sabe o caminho não esteja no estabelecimento de uma mega força tarefa composta de contingentes da União, estados e municípios, onde o Exército, Marinha e Aeronáutica concentrariam suas operações de vigilância nas Fronteiras, por onde armas, munições e a cocaína e derivados abastecem o país. Sem o abastecimento dessa droga, as milícias das principais regiões como Rio e a grande São Paulo perderiam gradualmente força.

As policias federal e civil montariam um Centro Avançado de Tráfego de Informações cruzando o monitoramento das investigações e investigados com a Interpol, preparando os terrenos para a ação estratégica da Polícia Militar nas áreas consideradas críticas.

As informações de todo um trabalho inteligente de monitoramento levariam aos nomes dos chefões do crime já presos que comandam, dos presídios, as ações das milícias e uma seleção criteriosa destacaria quem deveria ir para o presidio de segurança máxima federal. 

Quando esse conjunto de iniciativas começasse a mostrar resultados concretos, então, investir maciçamente na educação de base, investir na saúde e habitação e na formação integral do cidadão seria o passo seguinte para o resgate da sociedade e do sentimento de segurança.




quinta-feira, 1 de novembro de 2012

MUNDO CORPORATIVO: “A SÍNDROME DE NABU”



Ah... O velho Nabu. “Nabu” é uma forma carinhosa de chamar o chefinho. Na verdade, trata-se de Nabucodonosor. Difícil? Vamos lá: Na-bu-co-do-no-sor... Pronto... Quando a gente se acostuma se torna fácil. Por falar em costume, os dias aqui nesse imenso palácio têm sido bastante ociosos. Sinto falta daqueles gritos estrondosos do chefinho que se faziam ouvir por toda a Babilônia...  Quando a gente se acostuma sente uma enorme falta!

Mas antes falar dessa ausência lacunar que sinto do chefinho, permitam-me dizer quem sou. Eu me chamo Zahfir. Sou mordomo do Rei. Eu herdei essa honrosa posição de meu pai, que herdou de meu avô, que herdou do pai dele e assim por diante. Enfim, o que interessa mesmo é que o palácio não é mais o mesmo desde que o chefinho se ausentou. O motivo? Vou lhe contar.

Uma vez Nabu, acordou num daqueles dias típicos de imperadores... Passeou pelos jardins, discursando para si mesmo: “Não é esta a grande Babilônia que EU edifiquei para morada real, pela força do MEU poder, e para glória de MINHA majestade?”. Vocês não imaginam o que aconteceu... O chefinho nem terminou de falar, sua voz foi interrompida por outra voz mais retumbante vinda do céu que lhe dizia: “A ti se diz, ó Nabucodonosor: passou de ti o reino. E serás expulso do meio dos homens, e a tua morada será com os animais do campo; far-te-ão comer erva como os bois, e passar-se-ão sete tempos sobre ti, até que conheças que o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens, e o dá a quem quer”.

Para espanto  de todos nós, assim que aquela voz parou de falar, Nabu começou a agir como um louco. Expulso de seu convívio, era visto pastando junto com os bois no meio do mato. Desse dia pra cá, a calmaria tem sido grande aqui no palácio. Fico imaginando no aprendizado que o chefinho esteja tendo com os animais irracionais, um verdadeiro upgrade nesse curso de especialização extensivo e altamente recomendado para chefinhos dessa estirpe.

Estou admirado comigo mesmo filosofando essas coisas. Achava engraçados todos aqueles atos de humilhação e vilania, mas, pensando bem, não tem graça nenhuma.

Se considerarmos que todas as pessoas que nos servem de alguma maneira, da mais simples a aquelas que envolvem um grau maior de dependência, têm uma história de vida, valores, regras de condutas, uma subjetividade individual, singular, que precisam ser respeitados nunca as trataríamos como se não representassem nada, como seres vis, abjetos repugnantes. Isso é óbvio! Somos estruturalmente iguais, nossa ilusória ostentação de poder napoleônico não passa, na melhor das hipóteses, de chiliques bestializantes, e se esse for o caso, Nabu tem mais a nos ensinar – com o que aprendeu com os animais do campo - , de que qualquer guru ou redhunter possa imaginar.

sábado, 1 de setembro de 2012

A EDUCAÇÃO DO BRASIL ALAVANCADA POR CAPANEMA


Memória Nacional: Uma das marcas indeléveis da Era Vargas no campo da educação atendia pelo nome de Dr. Capanema, mineiro como o Presidente, foi nomeado em julho de 1934 para assumir a pasta do MESP – Ministério da Educação e Saúde Pública, criado com o fim de alavancar as bases educacionais do povo brasileiro.

Gustavo Capanema foi além das expectativas do governo. No ano seguinte (1935) ele constitui uma Comissão Especial encarregada de estudar a ampliação da Universidade do Rio de Janeiro, essa mesma que deu origem à Universidade do Brasil, destinada a fixar o padrão do ensino superior de todo o país e concebida como uma instituição nacional, formada por estudantes recrutados do Brasil inteiro por critérios de seleção rigorosos.

Exigente no que fazia, no mesmo ano de 1935, acatou texto do Conselho Nacional de Educação que consagrou uma série de princípios e opções educacionais o que incluía a criação de institutos de educação e padronizaria a educação no Brasil de forma igualitária no sentido de estabelecer que toda educação especializada precisaria obedecer um crescendo de conhecimento indo do nível elementar ao superior preparando os alunos para a apropriação de um saber amplo, aplicável à vida prática, para depois, partir para a especificidade da formação superior.

Capanema fundou também o Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos – INEP (1938), colocando o emérito educador Anísio Teixeira (ardoroso discípulo de John Dewey, teórico educacional americano) para chefiar pesquisas e demais trabalhos dentro de uma visão progressista.

A partir do alargamento da visão educacional influenciada pelos estudos produzidos pelo INEP, Capanema concluiu que deveria o Governo Federal investir na base da estrutura educacional, no ensino secundário. Assim a Lei Orgânica do Ensino Secundário, de abril de 1942,  instituiu o ciclo ginasial com quatro anos de duração e o ciclo complementar de três anos, o “clássico” que passou a ser “científico” e evoluiu para “ensino médio”, atual. A partir desse ponto, foram estabelecidos os novos currículos com disciplinas de cultura geral e humanidades.

No tempo do “clássico” a matéria educação religiosa se tornou não-obrigatória, mas as disciplinas moral e cívica, indispensáveis; contemplando a noção do conhecimento que o aluno deveria ter em relação ao civismo, respeito à Pátria, aos Símbolos Nacionais, ao próximo, aos pais, a Deus, como criador de todas as coisas e doador da vida.

O Ministro Capanema, como a Era Vargas, passou, mas deixou um legado que não podemos esquecer: a noção clara de que o sistema educacional deveria ser unificado em todo o território brasileiro, de acordo com um mesmo modelo e que a regulação e fiscalização desse sistema deveria ser feita pelo Governo Federal em todos os níveis; e ao Estado cumpria o dever inescapável de financiar a educação pública assim como subsidiar a educação privada, deixando claro que a ineficiência do sistema educacional é sempre resultante de falta de planejamento eficaz do próprio Governo. 

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

ÉDIPO, A ARMADILHA DO DESTINO


O Rei Laio, casado com Jocasta, teve um filho a quem pôs o nome de Édipo, descendente de Cadmos, fundador de Tebas. Ansioso com o nascimento do filho herdeiro, apressou-se a consultar o oráculo de Delfos, o qual lhe revelou que seu filho, um dia iria matá-lo.

Sua alegria de pai logo se converteu em profunda tristeza. Não queremos matar a criança, Laio resolveu levar o recém-nascido para o monte Cíteron. Presa pelo pé e abandonada, Laio estava certo de que os animais selvagens se encarregariam de dar um fim da criança.

No entanto, a criança foi achada por um Rei chamado Pólibo e pela Rainha Peribéia que resolveu criá-lo como filho na cidade vizinha (Corinto, talvez). Crescido, Édipo resolve ir consultar o oráculo de Delfos e recebe uma notícia aterradora: o oráculo disse que ele mataria seu pai e desposaria sua mãe.

Édipo, julgando que tal coisa jamais iria acontecer, decidiu não retornar para casa, assim seu pai Pólibo e sua mãe Peribéia estariam a salvo de uma tragédia tão horrenda. Achou que deveria partir para Tebas. E assim enquanto estava a caminho, seu carro colidiu com outro que vinha em sentido contrário, num cruzamento estreito.

Os ânimos se alteraram e houve discussão e trocas de insultos. Em resposta aos acessos violentos, Édipo reage e mata dois homens, condutor a passageiro do outro carro envolvido nesse acidente.  Estava assim cumprida a primeira parte da profecia em que Édipo mataria seu próprio pai: o passageiro morto era o Rei Laio, pai de Édipo.

Seguindo para Tebas, Édipo se depara com uma Esfinge, bem às portas da cidade. Um mostro com busto de mulher e corpo de leoa que tinha o costume de devorar os viajantes que não eram capazes de responder aos seus enigmas.
A Esfinge propôs o seguinte enigma: “Qual é o ser que anda com quatro patas de manhã, duas ao meio-dia e com três ao entardecer?”. Édipo parou para refletir, afinal, da resposta correta valeria sua vida. Logo lhe veio o que poderia ser esse enigma. Claro, o que mais poderia ser senão o próprio Homem. Quando criança ao nascer, as quatro patas, quando crescida e adulta, duas patas, o meio-dia, e quando velho, três, o que inclui o cajado utilizado para se locomover e se equilibrar.

Ao ouvir a resposta de Édipo, a Esfinge não suportando a frustração, precipita-se contra os rochedos e morre.

Com esse feito Édipo se tornou um herói nacional. Os tebanos o receberam com grandes honras, pois estavam livres da maldição da Esfinge. Esse feito impressionou a própria Rainha Jocasta. Ele se achou envolvida por Édipo com quem veio a se casar. Estava pois, cumprida, a segunda parte da profecia: Jocasta era, de fato, a mãe de Édipo.

Completamente alheio a real situação, Édipo teve quatro filhos com Jocasta: os jovens Étecis, Polínices; e as moças Antigona e Ismena.

Certo dia, abateu-se sobre Tebas uma terrível peste e quando o Rei Édipo foi consultar o oráculo, deparou-se com toda a verdade sobre o fiel cumprimento da profecia de Delfos. Vergonha e desespero levaram Jocasta a se suicidar. Não suportando toda aquela realidade cruenta, Édipo furou os próprios olhos e partiu de Tebas para nunca mais voltar.

Conduzido pela filha Antígona, Édipo termina sua jornada morrendo em Colono, lugarejo próximo à cidade de Atenas.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

A CULPA FOI DOS SMURFS


Em algumas partes desse imenso Brasil, suco de frutas da época, no saquinho, colocados no congelador vira sacolé, aqui no Nordeste é conhecido como “Dim Dim”, nunca soube o porquê desse designativo. Ainda é possível ver as placas nas casas “vendem-se Dim Dim” da fruta. Ou ainda é possível encontrar algum rapaz andando de um lado para o outro pelo centro da cidade ou nas praias.

Dim Dim de coco ralado, ceriguela, manga, abacate e ai por diante. Nos campos de futebol de bairro era venda garantida. Mas, vou lhe confidenciar uma coisa: minha experiência como consultor de vendas desse produto foi, certa vez, inesquecível!

Eu devia ter uns 10 ou 11 anos de idade quando mamãe comprou e me presenteou você não imagina com o quê? Pois é, uma caixa de isopor, de tamanho médio. Devo confessar que era um empreendimento desafiador. Mas eu estava disposto e motivado. Eu queria agradar meus pais, fazendo-os enxergar um mim um miniaturizado homem de negócios, que como os grandes magnatas começaram do nada quase absoluto.

Mamãe caprichou no revestimento da caixa de isopor, vez especialmente para esse fim, um tipo de bolsa que envolvia a caixa, com um tecido alvejado, daqueles de pano de saco de açúcar, tudo limpo e higienizado. Era coisa que dava gosto de se ver.

Chegou o dia da estréia. Eu saí levando aquela caixa de isopor pendurada em meu ombro por uma alça igualmente branca. Esperei no ponto do ônibus da Cabral, ansioso para por em prática tudo aquilo que os pensamentos de uma semana me fizera suspirar.

Impaciente, desci no final do Monte Santo em linha reta que dava para a Rua João Pessoa, o point do comércio de Campina Grande. Fui-me indo e vendendo até chegar no centro, até chegar próximo à Praça da Bandeira. Seduzido por algo que me atraiu quase irresistivelmente. O objeto de meu desejo estava dentro de uma Casa Lotérica. Não se tratava de algo relativo a jogos, mas sim de uma televisão ligada na sessão desenho do Show da Xuxa.

Nesse tempo eu nunca poderia imaginar que Xuxa, antes de se tornar a Rainha dos Baixinhos era na verdade atriz de filmes, daqueles proibidos para crianças.

Naquela fatídica manhã, por volta das 10hs, estava passando os Smurfs, aqueles bonequinhos azuis, na época minha de criança, tão engraçados. Coloquei a caixa aos meus pés, perto do balcão e comecei a assistir aquele desenho. Uma TV de 14”, preto e branco, pendurada no suporte que ficava no alto da parede foi o instrumento da minha desventura como empreendedor.

Meus olhos pareciam petrificados diante daquele desenho. Nem sentia o desconforto de assistir olhando para cima sem me mover nem pestanejar, acompanhando o desenrolar de cada cena. Acabado o desenho, para minha surpresa, a caixa de isopor com Dim Dim e o dinheiro das vendas havia sumido tão perfeitamente como um truque de mágica!

Atordoado, percebi que havia sido roubado. Óbvio! Não tinha outra explicação! Não sabia se chorava ou se morria, ainda percorri alguns lugares próximos perguntando inutilmente por qualquer sinal sobre a caixa. Orava com vigor e determinação, mãos suadas, coração palpitante,  com uma fé de transportar montes, prometendo a Deus que se Ele fizesse a caixa aparecer eu faria... faria... Não sei lá o que... Mas que Ele se apiedasse dessa alma! Sobre isso Deus nunca me deu resposta alguma.

Cansado, forças exauridas, sentado na Praça, vendo a tarde chegar, passei para a fase seguinte: as explicações! Mas como me justificar diante de tamanha negligencia! E o prejuízo? E os meus pais, como receberiam a notícia? Meu Deus!!! Uma verdadeira tempestade de pensamento se travava dentro de mim.

Fui tomando à passos lentos o caminho de volta. Imaginando o transtorno que a notícia poderia surtir. Experimentando sensações ruins como as expectativas dos judeus franceses ao ouvirem no rádio o comunicado da invasão das tropas nazistas. Um misto de terror e apreensão a um só tempo!

Quando cheguei na soleira da porta, mamãe me recebeu já perguntando aonde estava a caixa. Disse-lhe, omitindo as circunstâncias, que havia sido roubado. Levaram a caixa e o dinheiro do apurado!

- Irresponsável!!! Bradou ela a plenos pulmões. Como papai ainda não tinha chegado do trabalho, pude sentir os ares mais harmonizados, enfim a paz, suspirei aliviado!

Porém, uma calmaria no mar às vezes é sinal de tempestade: Naquele dia levei uma surra de cordas de papai, para nunca mais esquecer que o trabalho não deve ser negligenciado! Mas, hoje, decorridos esses anos, não culpo a meu pai pela surra, nem a peça de cordas pela dor; tenho raiva mesmo é dos malditos Smurfs.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

A RIQUEZA DO CENTAVO



É praticamente impossível mensurar o montante de moedas de pequeno valor como as de 1, 5 e 10 centavos, que deixam de circular no mercado brasileiro causando um descompasso econômico significante. O Banco Central estima que R$ 500 milhões dessas moedas estejam, boa parte, esquecidas nos lares.
O fato é que nós não fomos educados para reconhecer nessas moedas o devido valor. Por isso, aceitamos sem questionar preços de produtos na base do R$ 1,99, R$ 49,99 e assim por diante, sem nunca exigirmos o troco que nos é de direito e dever.
As empresas que comercializam esses produtos e/ou serviços se sentem confortáveis, porque o que para nós, consumidores individuais, não representa aparentemente perda alguma, em se tratando apenas de um, dois ou três centavos, para o comércio, no cômputo final, representa lucros.
Como ainda não existe legislação que proíba esse comportamento do comércio, a decisão deve ser minha e sua, no sentido de refinarmos nosso olhar para as moedinhas esquecidas no interior de nossa casa. Mas, sobretudo, nos reeducarmos para exigir, respeitosamente, o devido troco mesmo que seja de R$ 0,01 centavo de Real.
E esse comportamento não é interpretado como sendo uma atitude miserável, afinal, que falta faz um centavo, a menor unidade do Real? Se pensarmos assim estaremos alimentando a cultura deformada do comércio que anuncia valores com números garrafais do tipo “tudo por R$ 4,99” sendo que os “99” quase não se lê de tão pequeno.
Contrariamente, quando a tarifa de ônibus custa R$ 2,25, se você passa primeiro para depois pagar e, surpreso, constata que está faltando cinco centavos, uma situação vexatória será gerada, porque instintivamente, o passador de troco, o cobrador, não irá admitir o valor incompleto. Há casos até que a força policial é acionada! Se for ele quem não tiver troco de cinco centavos, nós facilmente não damos importância ao fato.
Um dia observei, em pleno Shopping, uma senhora que esperava pacientemente, em meio a uma fila de hora de almoço, um troco de apenas vinte e cinco centavos. Bem vestida, com porte elegante, rica, por quê não? Depois de refletir um pouco deduzi, o que parecia uma inconveniência da parte dela, era na verdade o que todos nós devemos fazer, por duas razões: 1) dinheiro não cai do céu. Centavo por centavo se estabelece o patrimônio de alguém; é mais provável que você enriqueça economizando, valorizando cada centavo, do que desperdiçando; 2) deve se constituir obrigação sagrada de cada estabelecimento comercial dispor de moedas para troco. O que não ocorre por falta de mais gente como essa dita mulher povoando o comercio.
É preciso mudar essa cultura colocando as moedas que temos em casa em circulação, centavo por centavo. Fazendo assim, o comércio fluirá com maior capacidade de troco e nós, poderemos contribuir gradualmente para formatação de uma prática comercial mais justa, conquentemente, menos enganosa.
Isso é um processo lento, mas – como diriam árabes, gente que sabe o valor dos centavos – para uma caminhada de mil quilômetros começar, basta dar o primeiro passo.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

SYSTÈMES AGROALIMENTAIRES LOCALISÉS


La fragilité des systèmes agroalimentaires localisés. Une comparaison internationale sur le cas des systèmes fromagers


L'objetictif de cette communication est d'apporter une réflexion empirique à partir de résultats d'études réalisées dans des milieux socio-économiques très différents et de rechercher en quoi les fragilités ainsi que les capacités de construction et de résistance des systèmes alimentaires localisés (Syal) sont liées aux conditions générales de dévoloppemnt dans dans lesquelles ils produits alimentaires: des fromages. La comparaison de cestrois cas permettra de discuter la notion de fragilité des Syal à partir des éléments clés qui les structurent, notamment les liens aux territoires, les spécifications et la qualité des produits, les coordinations entre acteurs, les articulations aux marchés.

Les Syal ont une existence bien réalisées tant dans les pays développés que dans les pays en dévoloppement et dont un grand nombre a été présenté dans des colloques par exemple ceux tenus à Montpellier en 2002 et à Toluca en 2004, sous l'égide du Gis Syal¹.

Parmi les questions qui se posent à propos des Syal, celle de leur fragilité et de leur durabilité n'est pas la moindre. Sont-ils capables, à terme, de se maintenir dans des économias où dominent les entreprises industrielles et commerciales caractérisées par la production de biens et de service à grande échelle, aynt comme stratégie d'établir leur domination par le biais du marché et se souciant peu des territoires où elles étendent leurs activités? Face à la domination de ces puissances économiques, la contribuition des Syal à l'approvisionnement alimentaire est pourtant indéniable, résultat de la ténacité de producteurs luttant contre la fragilité inhérenté inhérente à ces systèmes.

Les principaux paramètres caractérisant ces Syal fromagers retenus pour évaluer leur degré de fragilité, sans exhaustivité ni hiérarchie, relèvent des domaines suivants: - le lien au territoire, notamment à travers l'existence et la mobilisation de ressources (matérielles, humaines, techniques et culturelles) conduisant à une spécificité productive (matière première et/ou produit final, types d'entreprises); - La nature du produit final, qui répond de techniques et de signe officiel de qualité; - le nombre et la diversité des acteus présents dans la cheîne productive et commerciale; - les résuaux de coordination entre acteurs, l'action des povoirs publics; les formes de commercialisation.

Ces quelques caractères analytiques constituent les entrèes de la grille de lecture que nous utiliserons pour comparer les trois Syal. Le fait qu'ils soient tous les trois producteurs de fromages renforce les possibilités de comparaison, en raison de nombreux points communs: - le lien au territoire à travers la matière première alimentaire, le lait, est fort; - les tecnologies et les savoir-faire, très varies, offrent de grandes potentialités de diversification des produits mais n'empêchent pas l'identification par des signes officiels de qualité (appellations d'origine contrôlée, etc.); - La possibilité de produire de manière rentable de petits volumes selon des méthodes artisanales conduit à la présence de grands nombres d'acteus peu différenciés (producteursfermiers, artisans, petites entreprises coopératives et privées); - L'existence d'une demande ancienne et diffuse, émise par des consomamateurs capables de distinguer la qualité des produits, donne de la robustesse à la participation de ces Syal aux marchés, tant localement que dans des espaces larges.

__________
¹Cf. Colloque "Systèmes agro-alimentaires localisés", Gis SYAL, Montpellier, France, 16-18 octobre 2002. Congresso Internacional "Agroindustria rural y territorio-Arte", Toluca, Estado de Mexico, 1-4 décembre 2004.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

GOEBBELS E O MINISTÉRIO DA PROPAGANDA DO FÜHRER

Estudando os elementos perceptuais que formam a imagem (Max Wertheimer, Koffka e Köhller, 1910) fiquei impressionado com o potencial que tem as imagens em influenciar e até mesmo alterar em níveis variados o comportamento humano fazendo com que o cérebro responda aos mais diversos tipos de estímulos, podendo inclusive, tais imagens estar a serviço da manipulação política.

O Terceiro Reich soube, com maestria, apropriar-se desse conhecimento para executar os intentos do Führer, Adolf Hitler. Com uma Alemanha vivendo uma séria crise econômica e o povo convivendo com sentimentos conflituosos, frustantes, próprios de uma época de recessão, desemprego, fome, elementos  que, reunidos, compuseram o cenário perfeito para ascensão de um "messias", como a sociologia e a história universal são recorrentes em apontá-los; só restava preparar o instrumento pelo qual a imagem do plano redentor da Alemanha se tornaria conhecido: a propaganda. 

O poder da propaganda começou a ser entendido por Hitler a partir dos discursos tímidos que no começo parecia não fazer efeito algum. Mas, na essência, a marca do projeto nazista estava apenas sendo esboçada a cada mensagem lançada. 

Quando o programa de Hitler se achava pronto para ser executado, o item da imagem ganhou importância crucial: era preciso mexer com o povo, sentir o pulsar do sangue nas veias, motivá-los! A primeira linha ofensiva foi instituir a imagem da Herrenrasse. Para Hitler, a raça ariana era superior sob todos os aspectos. Quanto mais alimentasse essa imagem, mas um sentimento de orgulho misturado com revolta tomava conta da nação. Esse é o tipo de imagem explosiva, os alemães começaram a ver o povo judeu e outros grupos como indesejáveis. O ódio mortal estava sendo propagado.

É preciso trabalhar a imagem na medida certa para atingir objetivos específicos. Uma propaganda bem dirigida consegue a proeza da modelagem comportamental, termo cunhado pelo camarada fisiologista russo, Ivan Pavlov (1849).

Tendo assumido o poder, Hitler logo instituiu o Ministério da Propaganda e nomeou Joseph Goebbels, amigo seu e hábil orador para a pasta. Goebbels, entendedor da cultura, arte cinema e literatura, não poupou esforços para se notabilizar transformando a Alemanha Nazista numa nova Potencia Mundial, era o tão perseguido sonho da dominação da Raça Ariana sobre todas as demais inferiores.

Goebbels atuou em todas as frentes. No cinema produziu filmes destacando a superioridade alemã. A figura do super soldado alemão era tratada especial desvelo. Dessa iniciativa, emergiu a juventude hitlerista, adolescentes e jovens que poderiam dar a própria vida - sem hesitar - para salvar o Führer.

Na literatura, caçou os direitos intelectuais dos principais autores e inúmeras obras julgadas subversivas eram queimadas em praça pública, como registra Peter Gay, biógrafo de Freud. Obras científicas de valor inestimáveis foram reduzidas a cinzas pela Gestapo, cujos agentes secretos podiam estar em qualquer lugar de frequentação pública como teatros, rádios, encontros científicos, cafés e conversas de corredores.

Engenhoso, mesmo nos momentos que anunciavam a derrota do Nazismo, Goebbels procurava criar cenários que apregoavam o heroísmo, a virada triunfal de Hitler. Se houvesse uma avenida destruída pelos constantes bombardeios do avanço nas nações aliadas e o Alto Comando tivesse que passar por ali, especialistas em cenários recriavam exatamente como era cada detalhe, e a avenida cenográfica estava pronta para Hitler passar com todas as honras e pompas de um conquistador numa Alemanha que jamais se renderá (até que a história provou o contrário). __________
Sugestões de Leitura: O QUE PODEMOS APRENDER COM O FÜHRER
 http://jbnunes-vitrine.blogspot.com.br/2009/09/o-que-podemos-aprender-com-o-fuhrer.html

terça-feira, 31 de julho de 2012

MATARAM JOÃO



Ele foi à João Pessoa para participar de uma reunião com seu advogado. Figura simples, do campo, acostumado à lida dura que a vida legou. Casado, crente da Igreja Batista, cidadão de Sapé,..., militante do movimento rural que lutava pela instituição da Reforma Agrária no Brasil.
João Pedro Teixeira foi preso várias vezes pela Polícia Militar da Paraíba para “averiguações”. Na mira da Polícia Secreta que caçava supostos partidários comunistas, ele não hesitou em continuar defendendo aquilo pelo qual estaria disposto a fazê-lo mesmo em face da morte.
Pobre João, caminhando pelas ruas da Capital, pensando em sua família, nos seus filhos, esbarrou na venda para comprar livros e cadernos. Pensava no brilho de olhares da pequena grei diante do presente que iria levar para casa, o gozo da satisfação, indizível.
Pegou a marinete de volta para casa, ônibus cheio, mas para João o que importava mesmo era ver seus filhos festejarem seu retorno com novidades trazidas de um mundo longe dali, daquela realidade cruenta e cheia de espinhos.
É verdade que, dias para cá, uns cabras andaram espreitando o sítio de João, rodeando a casa com ares ameaçadores. A mulher, com aquele pressentimento divinal, advertiu-lhe: “vamos embora daqui!”, ao que sempre lhe respondia ternamente: “não posso abandonar a causa. Vão-se que ficarei com os retratos.”
Sentimentos profundos tomaram conta de João, tenaz pregoeiro da justiça social, defensor contumaz de condições dignas para o produtor rural castigado pela insensibilidade bestial dos latifundiários que detinham o poder para manobrar o próprio Comando da Polícia, pondo-o sob suas ordens para executarem seus mandos a serviço do desmando.
João, enfim chegou ao ponto de parada, a entrada que dava para a cidade de Sapé, fatigado, seu desejo era atingir o limiar de sua casa o quanto possível. Mas foi nesta estrada que a solidão de seus pensamentos fora rompida com o primeiro dos tiros de rifle que tão covardemente o abateu.
Tombado no meio do caminho, ensangüentado e vendo-se esvair em sangue qual não foi a dor de João, sobremodo, sufocante ao ver espalhado pelo chão de terra batido, os livros que com tanto amor comprara para tentar colorir a vida de seus filhos que solícitos lhe esperava. Aos poucos a imagem de sua esposa Elizabeth, seus filhos, sua casa, seu sítio, foram-se distanciando, tornando-se fracas, confusas, inatingíveis, os ecos de vida soçobraram na cabeça de João até ele não ver mais nada, nada além de dois anjos que vieram para acompanhá-lo ao descanso dos justos - 2 de abril de 1962.

sábado, 23 de junho de 2012

A VIDA DE WUNDT





Wilhelm Wundt* nasceu em 1832, na Alemanha. Passou seus primeiros anos em aldeias próximas a Mannheim. Ele teve uma infância marcada por uma intensa solidão. Obtinha notas ruins na escola e levou a vida de filho único; seu irmão mais velho estava no internato. Seu único amigo da mesma idade era um garoto mentalmente retardado que tinha boa natureza mas mal podia falar. O pai de Wundt era pastor e, embora ambos os pais pareçam ter sido sociáveis, as primeiras lembranças de Wundt a respeito do pai são desagradáveis. Ele se lembra de o pai tê-lo visitado um dia na escola e de ter-lhe batido no rosto por não prestar atenção no professor.

Num certo momento, a educação de Wundt esteve a cargo do assistente do seu pai, um jovem vigário por quem o menino desenvolvera uma forte afeição. Quando esse mentor foi transferido para uma cidade próxima, Wundt ficou tão deprimido que conseguiu permissão para ir viver com ele até os treze anos.

Havia uma forte tradição de erudição na família de Wundt, com ancestrais de renome intelectual em praticamente todas as disciplinas. Parecia, contudo, que essa impressionante linhagem não teria continuidade com o jovem Wundt. Ele passava a maior parte do tempo em devaneios, em vez de estudar, e foi reprovado no primeiro ano do Gymnasium. Não se dava bem com os colegas e era ridicularizado pelos professores.

Aos poucos, no entanto, Wundt aprendeu a controlar os sonhos diurnos e até chegou a alcançar relativa popularidade. Jamais gostou da escola, mas mesmo assim desenvolveu seus interesses e capacidades intelectuais. Quanto terminou o Liceu, aos dezenove anos, estava pronto para a universidade.

Para ganhar a vida e estudar ciências ao mesmo tempo, Wundt resolveu ser médico. Seus estudos de medicina o levaram à Universidade de Tübingen e à Universidade de Heidelberg, onde estudou anatomia, fisiologia, física, medicina e química. 

Depois de um semestre de estudos na Universidade de Berlin com o grande fisiologista Johannes Müller, Wundt retornou a Heidelberg para receber seu doutorado em 1855. Conseguiu o cargo de docente de fisiologia, cargo que ocupou de 1857 a 1864, e, em 1858, foi nomeado assistente de laboratório de Hermann von Helmholtz. Ele achou enfadonha a tarefa de instruir novos alunos quanto aos fundamentos do trabalho em laboratório, e se demitiu do cargo poucos anos depois. Em 1864, foi promovido a professor associado e permaneceu na Universidade de Heidelberg por mais dez anos.

Mas tarde Wilhelm Wundt fundou a ciência experimental da psicologia e estabeleceu seu primeiro laboratório na Universidade de Leipzig, Alemanha. Famoso, atraia para Leipzig um grande número de alunos desejosos de trabalhar com ele. 

As conferências de Wundt eram populares e muito frequentadas. Numa certa época, ele contava com mais de seiscentos alunos em classe. Ele estabeleceu o método de estudo da psicologia: a introspecção ou percepção interior seguindo condições experimentais estritas, obedecendo regras explícitas. Na época, um verdadeiro avanço rumo a construção da independência e identidade que hoje tem a psicologia moderna.



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Fonte: SCHULTZ & SCHULTZ. História da Psicologia Moderna. 8º edição. São Paulo: Cultrix, 1998.

terça-feira, 12 de junho de 2012

O VOTO DA LIVRE E EXPONTÂNEA PRESSÃO


Política é algo dinâmico. Disso todos sabemos. Quem está em evidência hoje, poderá se encontrar no ostracismo amanhã. O oposto é verdadeiro também. Ter poder de voz num estado democrático direito todos têm, mas fala alto quem tem mandato. O Brasil pode até ter mudado após a Constituinte de 1988, mas os moldes de se fazer política guarda estreita relação com os jogos de poder que legaram e cristalizaram a imagem que o país sempre teve, a de desrespeito e aviltamento do voto popular.

Senão vejamos: tudo que mantém os ciclos dessa relação de poder e das estruturas viciadas faz questão de vencer o tempo. Eleições a cada dois anos despendendo um volume de gastos com o processo eleitoral enorme envolvendo o TRE e os Poderes Executivo e Legislativo, o que seria mais racional apenas num pleito só, definir os representantes tanto de lá quanto de cá, do vereador ao presidente da República. Isto reduziria gastos significantes com logística e a soma astronômica de mobilização de pessoal.

Mas o ponto que quero chegar é ainda mais crucial e responde a seguinte pergunta: por que estados e municípios não realizam uma cruzada de concursos para efetivar servidores? Tem movimentos "cunhados" de gestão de qualidade e capacitação técnica de pessoal para "um bom desempenho" no atendimento as demandas e ao público cidadão, mas concursos que atinjam pelo menos 80% de efetivos só existem no País das Maravilhas, àquele de Alice.

A premissa básica é seguinte: o servidor efetivo está imuzado contra determinadas moléstias, dessas que vemos em todo processo eleitoral no país inteiro (Ou para ser justo, em quase todo o país). Nesse dito momento esses deixam de ser pessoas para se tornar números. Há uma força mística que se forma em torno dos tais e os compele a votar em troca de um favor que os mantêm cada um em seus lugares, mesmo que o direcionamento dessa força "coercitiva", opere contra a vontade e individualidade do cidadão e da cidadã, objeto dessa situação.

Em síntese: Não existe exercício pleno de cidadania quando o voto é instrumento de coerção, quando a vontade individual é aviltada e autonomia é alienada. Quem é realmente livre para expressar sua vontade através do voto, o faz baseado naquilo que acredita ser o melhor caminho. Sua escolha, na maioria das vezes é baseada no programa de idéias e na trajetória, no desempenho de quem se propõe a ser candidato a determinado pleito.

terça-feira, 15 de maio de 2012

O SER NO MUNDO INFORMACIONAL

O mundo da coexistência, da convivialidade, da intersubjetividade, da interdependência é, indubitavelmente, o mundo do conflito. Esse atrito de forças cíclicas necessárias a manutenção da vida. A vida em si é um conflito donde resulta a existência. O ser da existência se consume numa busca infindável pelo desvelamento ou descortinamento do não-saber. O abismo do desconhecido é nebuloso, desafiador. Gera insegurança e medo, induz mecanismos de defesa diante da impossibidade limitante do ser. Para tentar superar esse fato, eis o mito com sua verdade que parecia verdadeira, até ser vencida pelo pensamento. Mas como o pensamento poderia se firmar sem algum tipo de registro? A escrita com suas múltiplas facetas e evolução tornou a insegurança do não-saber menos sofrível.

Registros dos mais variados assuntos, uma acomulação evolutiva do saber, saberes e sentidos que se desdobram em tantas outras possibilidades de sentidos que desembocam no infinito. E aí, o ser já se depara com outro problema que já não se situa mais na possibilidade do não-saber; mas sim, na impossibilidade de contar o saber no espaço e tempo. O Homem gênero é ser que se situa no vórtice da produção de saberes, tão rápido e indomável, que quando se atualiza já está desatualizado. É examente esse o problema do mundo informacional. O saber está bem diante do ser, é palpável, real, porém, a virtualidade do saber se nos escapa como um panhado de areia que não conseguimos conter na palma da mão, esvai-se por entre os dedos.

Pelo que se constata, o  conflito permanece seguindo seu curso e o ser continua delimitado pela impossibilidade do não-saber, não pela falta, mas sim, pelo acumulo infinitamente maior e incontido; sendo que, esse acumulo por ser dinâmico, deixa transparecer a transitorietade da própria vida.

O mundo que começou com registros contidos de informações passou a evoluir  de tal forma que está sendo absorvido pelo vórtice de conhecimentos cada vez mais auto-atualizantes. O ser do mundo informacional se desatualiza na proporção inversa da convergência com que o mundo se atualiza.  

quarta-feira, 11 de abril de 2012

O OÁSIS É AQUI MESMO




Nos últimos anos, o Nordeste vem ganhando projeção econômica por causa de seu punjante crescimento econômico. Em função desse movimento, há um verdadeiro boom em andamento no mercado de trabalho da região, resultado dos investimentos de empresas locais, nacionais e multinacionais que apostam no aumento gradual do poder de consumo dos 53,8 milhões de habitantes - o que corresponde a 28% da população brasileira. O rendimento médio dos nordestinos ainda está bem abaixo do padrão brasileiro, R$ 620,00 reais por mês para pessoas acima de 25 anos de idade, ante a média nacional, de 800,00 reais. Ainda assim, o Nordeste obteve o maior avanço na participação do Produto Interno Bruto (soma de todas as riquezas geradas pelo país) ao longo da última década, saltando de 12% para 13%.

De olho em todo esse potencial, grandes fabricantes de bens de consumo estão entrando para valer no Nordeste e se preocupam em conhecer a fundo os hábitos e preferências dos nordestinos.

A grande boa notícia, para nós, nativos do Nordeste, é que ao mesmo tempo que abrem oportunidades para profissionais de todo o Brasil, as grandes empresas que atuam na região estão decididas também a valorizar a mão de obra local, já que a familiaridade com a cultura é um atributo importante, não havendo mais necessidade de fuga de cérebros, nem profissinais recém formado em diversas áreas saírem para o sudeste do país, o oásis é aqui mesmo.

Existe uma demanda crescente pela busca de profissionais em diversos setores, para psicólogos organizacionais, a deixa é o setor de RH, para TIs, o setor imobiliário entre tantos. O fato é que o nível de empregabilidade cresce no Nordeste aceleradamente auscutando o movimento de crescimento da econômia da região.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

PSICOLOGIA FORENSE: DA MEDICINA ÀS CIÊNCIAS HUMANAS




A Psiquiatria, surgida em 1793 com o médico frencês Philippe Pinel, trouxe um conjunto de idéias e metodologias para o campo da Psicologia, principalmente à Psicologia Clínica e Psicopatologia, por tratarem e lidarem com doenças mentais. A história mostra que a maior parte das teorias psicológicas tem sido utilizada no domínio da patologia. Muitos dos métodos, técnicas e teorias que se tem em Psicologia (principalmente as ligadas à doença mental) se basearam em conceitos já existentes da Psiquiatria e os ampliaram.

O recorte da relação Psiquiatria e Direito nesta fundamentação teórica, não se reveste de uma mera citação histórica e, sim, de um marco de referência, visto que a Psiquiatria, como disciplina da medicina, surgiu muito antes da Psicologia. No entanto, esta última surgiu no contexto das ciências humanas situando-se entre a Filosofia e a Biologia. Com o primeiro laboratório de Psicologia Experimental (1879), Wundt, em Leipzig (ALE), iniciava a história oficial da Psicologia enquanto ciência. Em seus estudos investigava os processos psicológicos relacionados aos elementos da mente.

Sendo assim, atualmente a Psicologia pode ser definida como o estudo científico do comportamento e dos processos mentais. Ou ainda, como sugere Simões e Tiedemann (1985), a Psicologia aborda diversos assuntos, como as bases fisiológicas do comportamento, o desenvolvimento psicológico, aprendizagem, percepção, memória, motivação, emoção, inteligência, a linguagem e o pensamento, personalidade, a psicopatologia e as influências sociais sobre o comportamento e outros.

A fundamentação da Psicologia enquanto trajetória científica se difetnecia da Psiquiatria no tocante ao foco loucura e suas implicações. Mas o que marca esse diferença? O fato é que no seu desenvolvimento enquanto ciência, a Psicologia se estabeleceu além do espectro da loucura, isto é, além de investigar todos os fenômenos que participam da ocorrência das doênças mentais, também incorporou a investigação, o estudo e a análise dos processos comuns a todo ser humano em sua totalidade. Sua prática envolve a possibilidade de explicar um determinado comportamento sem que, necessariamente, este seja resultado de uma patologia mental.

COMPREENSÃO DAS LEIS

A evolução do conhecimento da Psicologia permitiu a expansão de uma prática além do laboratório. A necessidade da compreensão das leis e fatores que regem a relação entre a vida mental e a expressão do comportamento, ao longo do tempo, foi sendo explorada pelo desenvolvimento de concepções e abordagens das várias escolas da Psicologia: o condutivismo de Watson, a Psicologia da Forma, ou Gestalt de Wertheimer, a Psicanálise de Freud, a Teoria Neuroreflexológica de Ivan Pavlov, a Tipologia de Sheldon, a Psicologia Patológica de Jaspers e Janet, a Psicologia Social de Murphy e Albert e o Behaviorismo de Skiner (Serafim, 2003).

Este avanço aproximou, entre outros aspectos, a Psicologia do Direito, com ênfase ao final do século XIX. Surge a partir desta interface, a Psicologia do Testemunho, pela qual se investigava a fidedignidade do relato do sujeito em um processo jurídico.

No Brasil, não diferente da história mundial, a prática forense foi iniciada pela Psiquiatria (melhor situando pela medicina legal). Em 1814 é publicada a primeira matéria sobre Medicina Legal e em 1835, durante o império, foi promulgada a Lei de 04 anos e os alienados que tornava inimputáveis (não responsáveis por seus atos) os menores de 14 anos e os aliendados, hoje, entendidos como doentes mentais graves. (Rigonatti e Barros, 2003).

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

A CONQUISTA DO PROMORAR

No tempo em que o prefeito de Campina era Enivaldo Ribeiro foi que se deu a invasão do Promorar. Um conjunto que foi construido entre o bairro do Jeremias e o Araxá. As casas novinhas em folha. As portas pintadas umas de verde, outras de cinza, telhados e madeiramento tinino de novo, estavam lá, no alto, esperando o momento em que a pobreza em multidão se mobilizasse e se apropriasse de vez cada um de uma casa.

Chamar a polícia para quê? Para repelir trabalhadores com suas familias? Dona Pretinha com uma penca de filhos, o menorzinho catarrento em seus braços! Nada disso! Lá vem o representante do bairro, o senhor Ivan Cabral, andando sempre com sua pasta de plástico debaixo do braço, com uns papeis estranhos dentro, atraindo para si centenas de olhares indagadores, famintos por respostas, afinal, sabiam que estavam alí na iminência de saírem da mesma forma que ousaram entrar.

Noite à dentro, sem energia elétrica, sem água ligada, um murmúrio de pessoas andando em todas as direções, sem muros delimitadores, gente de todo tipo carregando suas bugigangas. Era couchão velho, trouxas de roupas, panelas e pratos, tudo misturados dentro de caixa de papelão. Ninguém conseguia dormir naquelas condições. A verdade é que o clima de incerteza, somado a rumores que corriam entre o povo de que a polícia iria despejar a todos pela manhã tornavam a situação angustiante.

- Ouçam todos, por favor! Bradou Ivan Cabral diante dos ânimos exaltados.
- Já falei com o prefeito e o secretário Fulano de Tal e eles me disseram que ninguém saisse de sua casa, ninguém será despejado!

Nesse momento a gritaria tomou conta daquele lugar e o povo começou a se sentir mais à vontade para cuidar de suas novas propriedades.

Seu José, que vendeu a casa para Dona Socorro, que comprou a chave de seu José com o dinheiro da venda de uma porca, a "Ritinha Rônqui-rônqui", logo se arrependeu de tê-la vendido. Com a mala à mão, pôs-se a dizer que não queria mais aquele dinheiro e que a venda estava desfeita. Dona Socorro, que não engolia desaforo calada disse que fez o negócio foi com um homem não com um cachorro! O negócia estava mantido e pronto!

Seu Genário, que também se apossou da casa logo em frente também confirmou que o negócio tava feito e ponto final!

E assim, os dias passaram. Nas madrugadas frias, lá para as quatro da manhã, a fila de gente com lata na mão se formava para pegar água na casa de Seu Alaim, perto do Posto de Saúde. O único que se dignava a acudir aquela gente sofrida num momento tão difícil! A CAGEPA instalou água nas casas, depois a CELB, luz e assim a cidadania foi se aproximando mais daquela gente. Essa é a história da conquista do Promorar.

domingo, 22 de janeiro de 2012

TENSÃO E EFICIÊNCIA PESSOAL




As pessoas são definidas como indivíduos que possuem status, isto significa, entre outras coisas, indivíduos capazes de manterem um determinado nível de de tensão.

Poderíamos frisar que a pessoa será tanto mais eficiente quanto maior for o grau de tensão que puder suportar com exito. Assim, em nosso mundo moderno, os mais competentes, os mais capazes, são os que se acomodam com melhor exito ás tensões resultantes da moderna vida social. As pessoas vitoriosas são as que obtêm, afinal, na sua personalidade, integração adequada dos elementos em conflito, tão característicos das sociedades urbanas modernas. Quanto mais numerosos forem os papéis que elas puderem desempenhar ao mesmo tempo, quanto mais numerosos os status que forem capazes de manter simultaneamente, tanto mais altamente desenvolvidas e organizadas serão suas personalidades.

Embora possa resultar na desorganização da personalidade, se levado muito longe, o conflito entre grupos contribui para a eficiência pessoal. Quanto mais intenso for o conflito entre os grupos a que um indivíduo pertence, tanto maior tenderá a ser seu desenvolvimento, desde que. é claro, uma solução vitoriosa seja obtida, em cada caso.

A ascensão do negro nos Estados Unidos, por exemplo, tem talvez sido mais rápida e mais extensa que a do negro no Brasil. Esta diferença deve-se. em não pequena parte, às reações normais do negro norte-americano a uma situação de preconceito racial. O sentimento de inferioridade que o negro (especialmente o mulato claro) tem sofrido nos Estados Unidos, estimulou enormemente sua ambição, forçando-o a mostrar aos brancos puros a sua competência pessoal, a educar-se e a educar seus filhos, a tornar-se mais eficiente, a acumular propriedades, e a avançar, por estes e outros meios, na escala social.

A este respeito, dever-se frisar que é o conflito que desenvolve a mente. Alias, o próprio pensamento surge no conflito. Por outras palavras: só pensamos quando temos de enfrentar algum problema, quando existe em nosso espírito um conflito pesando as diversas possibilidades e decidindo-se por uma delas.

Isto explica em parte considerável a chamada inteligência dos povos civilizados, em comparação com o retardamento mental de povos isolados. Quando há ausência de mudança social e, consequentemente, não existem problemas novos a resolver, não há necessidade de pensar, refletir, tomar decisões. Quando todas as exigências da vida podem ser satisfeitas pelo comportamento costumeiro; quando todos os problemas que surgem em sua experiência podem ser facilmente resolvidos por meio do emprego de certo costume que seu povo desenvolveu há muito tempo, em face do mesmo problema, não há necessidade de pesar as alternativas e de tomar decisões, isto é, de pensar.

Na sociedade civilizada, ao contrário, onde devido à rápida mudança social estamos constantemente enfrentando problemas agudos, novos tanto para nossos pais como para nós, e para os quais não existe solução costumeira, somos forçados, ou melhor, desafiados a pensar e, assim, a desenvolver nossos espíritos.

Portanto, o conflito entre tendências de gir, quando resolvido, resulta em desenvolvimento mental. E a falta de conflito entre as tendências resulta numa estagnação deste desenvolvimento. Talvez seja por essa razão que essa geração, conhecida como geração Y tenderá a ser mais desenvolvida mentalmente porque se depararão com problemas complexos, a maior parte ligados ao mundo virtual, dos quais nossos pais e nós - boa parte - não teríamos ideia das maneiras de solucioná-los. A tendência é que mentes assim tenham maior capacidade e rapidez de processamento dos inesgotáveis estímulos de nosso dia-a-dia na pós-modernidade.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

UM DIA DE SESSÃO




O dia no DF começa cedo. Ainda com muita neblina ao horizonte, mas o povão trabalhador já está à caminho do trabalho. Gente de todas as ocupações chegam aos montes em carros, motos e ônibus das cidades satélites, muitos deixam para tomar café na esquina dos prédios, naquelas barracas muito bem arrumadas, aquele café cheiroso, claro, nada comparado ao conforto do lar, mas que fazer? São as exigências da vida.

Eu, como eles, naquela mesma dinâmica cíclica. É claro, o prédio funcional localizado no Setor Norte, perto da Esplanada dos Ministérios apenas uns quadras, dava para ir caminhando, e era o que eu fazia, curtindo meus hinos no MP4, naquele blaze preto, pasta à mão. Caminhando e ao mesmo tempo fascinado com aquele movimento de pessoas rumando para as múltiplas direções. Uns à passos largos, outros, como eu, devagarinho.

Chego na Câmara dos Deputados exatamente às 08:00 da manhã. Pouquíssimo movimento nos corredores. Dirijo-me ao gabinete e percebo no balcão ao lado, um amontoado de revistas, livros, teses, relatórios e demais publicações importantes das instituições públicas e privadas, representativas de todo o Brasil, destinadas ao refugo. Essa mesma visão de desperdício era reverificada quase que diariamente. Tudo para o lixo! Eu ficava simplesmente sensibilizado com aquela cena. Quando retornava para o Estado, muitas vezes pagava o excedente de bagagem, porque não admitia ver análises da obra de Celso Furtado fazendo parte daquele descarte.

Hora do almoço, três opções: um restaurante próximo do gabinete. Este sempre cheio. O segundo, no subsolo tinha menos clientes. Ambos preço bom e comida agradável. Mas, um dia, um colega que prestava assessoria na área de processo legislativo, convidou-me para almoçar numa barraca próxima ao estacionamento chapelaria. Era uma comida que se aproximava muito ao prato do nordeste. Fiquei freguês da barraca. E a troca de conhecimento se estendia a cada hora do almoço. Algo gratificante.

Naquele dia era sessão especial. Estava na pauta o retorno da CPMF. Eu gostava quando havia sessões especiais. Saía tarde do gabinete. Após as 19:00hs, tudo que fazíamos era conversar e atualizar as notícias, temas diversos e gargalhadas. Não importava a que hora terminasse a sessão, tínhamos que esperar a lista de presença de término da sessão para ser computada nossa hora extra. Era algo que fazia diferença substancial no final do mês.

Tarde da noite, chegava no apartamento do deputado, cansado, tomava banho e ia dormir, com uma agenda de tarefas já preestabelecida para o dia seguinte. E assim o tempo passa no dia-a-dia de trabalho no DF.


quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

A BODEGA DE SEU GARRINCHA

O ano é 1985. O bairro do Jeremias acorda aos poucos para mais um dia de trabalho. As portas e janelas vão apresentando as primeiras caras sonolentas, cabelos espichados e som de menino novo chorando. Seu Manuel já passou montado em sua bicicleta com marmita ao bagageiro. Dizem as mulheres da Lavanderia que a filha dele, Ritinha, a mais nova, "se perdeu" com um marginal que foi preso ontem pelo Comissário do Bairro.

O cheiro do café quentinho paira no ar. "Menino! Acorda pra comprar pão!" - Grita Dona Maria. O menino, ainda tonto da noitada de sono, esfrega os olhos remelentos, passa pelo móvel junto a rede onde jaz mais um espichado, vencido pelo sono, e vai à bodega de Seu Garrincha.

Naquele estabelecimento comercial pioneiro, comum, tradicional, pitoresco, indispensável à época, tem de tudo que você possa imaginar. Tem rolo de fumo "Do Bom" logo em cima do balcão. Tem mortadela das boas, tem frutas, verduras, material de limpeza. Tem peças de cordas, até arreios tem. Tem leite em pó, mas também tem leite de vaga tirado faz meia hora. Pendurado no telhado da bodega tem chinelos, vassouras de todos os tipos. Mas o especial mesmo fica em cima do balcão: toucinho de porco. Ao lado da peça de charque. Tudo ajeitado e conservado pelo sal grosso.

Quanto ao proprietário, dizem os fofoqueiros do bairro que era soldado de polícia, mas deu um negócio na cabeça dele e ele foi aposentado. Seu Garrincha, altura mediana, forte e barrigudo, com faca afiada à mão, sempre apto para atender da melhor forma possível o freguês. Dá logo um rasgo numa lasquinha de queijo de coalho, do menos amarelo é claro, para agradar o freguês.

No canto da parede, perto da balança de ferro, ficava o bendito caderno, com uma caneta azul, amarrada num cordão. Era o caderno dos fiados. Dificilmente alguém passava a perna em Seu Garrincha. Talvez porque fiado não se vende a toda qualidade de gente. E quem é comerciante sabe disso muito bem.

Nos fins de semana era comum algumas figuras se encontrarem na Bodega do Garrincha. Era a turna da pinga. Afinal, tudo pode faltar numa bodega. Mas bodega que se presta não pode faltar uma boa pinga. E Seu Garrincha tinha cachaça para ninguém botar defeito. Lá estava Bio do Cavaquinho, dando um verdadeiro show. Cantava, tocava, dizia uma piada, e risos e mais risos. E Seu Gerealdo, o fotógrafo? De dia, um profissional muito requisitado, de noite, um boêmio com seu violão. Para completar, Roberto Carlos, cego de um olho, sem técnica musical alguma, mas quando tomava umas daquelas brabas, punha seu violão velho para tocar. Era um artista. Com cabelos longos, sentia-se envaidecido quando alguém, passando pela rua, gritava: "Roberto Carlos! Roberto Carlos!"

Quando essa turma se reunia na Bodega do Garrincha a musicalidade se expressava. Um torresminho aqui, uma pinga ali, e tome música! Pessoal repeitador, gente de família.

Era ali, na final da rua São Gonçalo, para chegar no Promorar, que esse intenso comercio se desenvolvia. Mesmo limitado pelo espaço, a Bodega de Seu Garrincha tinha de tudo. Se a pessoa não conseguiu dormir com problemas na boca do estômago, a Bodega haveria de ter a solução.

Não duvido que até serviço bancários, como empréstimos rápidos e descomplicados, que dispensam a tagarelice e papelada de banco, Seu Garrincha dava jeito. Até de o sujeito tivesse uma geladeira ou fogão para pegar noutro bairro, só era acertar com Seu Garrincha que ele mandava busca na sua D10. Pronto! Problema resolvido.

A Bodega de Seu Garrincha, como ficou configurado, é espaço de cultura e arte, de negócios, de prestação de serviços, de aquisição de bens de consumo, é o point do bairro. É lugar de informação, de conhecimento dos causos, de quem morreu, quem viajou para o Rio, quem foi preso, quem casou, quem se "perdeu", quem se achou. Enfim, é um espaço rico que só o bairro pode produzir.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

A VIDA SEGUE SEU RUMO...


...COMO AS ÁGUAS DE UM RIO.



Ano novo, novas expectativas, novos sonhos, novas metas e por ai em diante. De tudo que se possa dizer sobre esse maravilhoso espetáculo da vida a suma é: deixe as águas do rio seguir seu curso. Essa filosofia só poderia ter sua origem na orientalidade, isto justificada na própria maneira como indivíduos de determinada parte do mundo já se desenvolve numa cultura da observação.

Observam eles o que nós, dessa parte do mundo, insistimos em não ver, ou pelo menos somos tardios. Nos estressamos facilmente com coisas bobas, perdemos a paciência cada vez mais com situações triviais, normalmente contornadas se não fora nossa pressa em resolve-las na base do imediatismo.

Nunca tivemos tantas facilidades tecnológicas, e tantas distâncias minimizadas, pelo avanço tecnológico iremos muito mais além, só não podemos nos esquecer nossa condição humana, da nossa transitoriedade, de nossa passagem fugaz e por isso mesmo precisamos reaprender aspectos que nos tornaríamos mais felizes se nos detivéssemos mais para observar a simplicidade objetiva daquilo que está ao redor de cada um de nós. E, nesse aspecto, a observação contemplativa da riqueza imensa que representa um dia de vida, quaisquer outros aspectos perdem a condição de primazia.

Não foi por acaso que o maior mestre de todos os tempos que já andou entre nós afirmou tentando sanar, curar-nos dessa tendência neurotizante provocada pelo imediatismo das coisas, afirmando que as muitas preocupações não poderão acrescentes nenhum fio de cabelo à nossa cabeça.

Ele que andou e cumpriu sua missão em perfeita harmonia com o cosmos, com as leis estabelecidas pelo Autor do Universo tinha a nítida compreensão da existência de uma sistema tão complexo que rege todas as coisas animadas e inanimadas que, subtendo-as a leis as quais não podemos mudar.

Um sistema que não dispensa uma única espécie animal ou vegetal, unindo num todo a coexistência para manutenção desse equilíbrio de forças que são responsáveis pela renovação cíclica da vida seja na terra, nos mares no ar, tudo gira em torno desse dinamismo e as coisas mais simples do mundo são exatamente as mais necessárias nesse intrincado movimento, de tal modo que a nossa alma humana não tem muito tempo disponível para se deleitar com tantas maravilhas postas a nosso dispor, quanto mais se nos apegarmos a superficialidade estéril das coisas.

Portanto, desligue um pouco a televisão, saia com amigos, visite àquele (a) que você há muito tempo não vê, caminhe pela praia, sentido as areias por entre os dedos dos pés, contemple às árvores, as plantas, as flores, o azul do céu, o nascente do sol. Chore sem receio nem vergonha, sorria, ame, perdoe, esqueça as mágoas, renove-se, deixe as águas do rio seguir seu curso e a vida, seu rumo.