sábado, 8 de novembro de 2014

PARANHOS, O AMIGO DO IMPERADOR



"Mas o homem nasce para a tribulação, 
como as faíscas se levantam para voar." (Jó 5:7)


Filho de Agostinho da Silva Paranhos e de Josefa Emereciana Barreiros, José Maria da Silva Paranhos mal conheceria o pai. Agostinho morreu em dezembro de 1822, deixando Josefa Emerenciana com um doloroso encargo. Brigado com o irmão - João José - que nos últimos anos combateu sem trégua, Agostinho legou à mulher a tarefa de continuar "na agitação das demandas pendentes com o capitão João da Silva Paranhos", dura missão. 

Ao cabo de dez anos estava pobre e sem esperança. Vencida pela adversidade, com um filho gastando irresponsavelmente o resto dos haveres da mãe, reduzindo-a à miséria, morreu a triste matriarca dos Paranhos em 1839. 

Deixava três filhos: Agostinho, que acusou no testamento de ter "desfalcado em grande quantidade os seus bens"; Antonio, que destinado às armas, já em 1837 combatia a Sabinada, e seria o herói na grande Guerra do Paraguai e José Maria, que com o tio materno, Eusébio Barreiros, ia aprendendo matemática e história, garoto esperto, consolo e esperança da mãe.

Aos seis anos o menino frequentava a escola pública no adro da Igreja do Bonfim, com o professor Embiruçu Camacã coube arrematar a educação fundamental do menino José Maria. Mas o grande mestre foi o tio Eusébio, que lhe ensinava matemática com a paciência dos sábios. Homem de "raro talento e vastíssima ilustração", o tio afeiçoou-se ao sobrinho vivo, inteligente.


Sentiu sua agitação interior, previu, vaticinou. E enquanto José Maria ia estudando história, filosofia, retórica, e mais a matemática que Eusébio lhe ensinava, ia-se formando o espírito lógico, rigoroso, que mais tarde espantaria o país.


Três anos antes da morte de sua mãe, a 2 de fevereiro de 1836, José Maria embarcou na fragata "Imperatriz". Vinha da corte. A voz do tio, que estivera no Rio dirigindo a construção da Casa Forte do Arsenal de Marinha, acordara no menino, nos longos serões da Bahia, o desejo de vir conhecer o centro intelectual do Brasil que, ano após anos, atraia as melhores vocações da Província.


Pagaria, como todos que se arriscavam à grande travessia, o preço da aventura: pouco dinheiro, muito trabalho, grandes esperanças. Dava aulas particulares para se manter. Na Academia de Marinha, onde logo se inscreveu, foi promovido a guarda-marinha em 1840, aos 21 anos de idade. Em 1841 matriculou-se na Escola Militar, buscando o diploma de engenheiro. O gosto das coisas práticas o atraia, mas seu espírito matemático permaneceu rigorosamente organizado. 


Conheceu nesse ano a menina Teresa Figueiredo Faria. Tinha ela treze anos. O guarda-marinha, com 22, apaixonou-se. Chama-lhe Terezinha. Cortejou-a. Convenceu a família. E casou-se em 28 de janeiro de 1842. No fim do ano, em dezembro, era 2º tenente.


Não pensava na fama, mas em certos setores já o conheciam. Desde 1840 estava na maçonaria, que tinha no Império um grande poder político. É dessa ano a publicação de folheto, publicado por Paula de Brito, "Alguns Discursos, Recitados na Augusta e Respeitável Loja Constituição Maçônica."


No ano de 1844 estreou no jornalismo. Também a cátedra veria inaugurar-se aquela inteligência aguda. Regente da cadeira de artilharia da Academia de Marinha, tornou-se logo popularíssimo entre os alunos, que viam com prazer aquele professor de 25 anos, contrastando singularmente com os velhos mestres tradicionais. Em 1845 terminou enfim seu aprendizado profissional. Formou-se "plenamente" - com distinção - na Escola Militar. 

Era engenheiro. Podia agora enfrentar a vida abertamente, opor-lhe sua inteligência e seus conhecimentos, esforçadamente adquiridos ao longo desses anos em que aprendeu a conviver com a corte. Eusébio Barreiros havia de se orgulhar do sobrinho.

No mesmo ano, a 20 de abril, novo motivo de alegria chegava à casa dos Paranhos, na travessa do Senado, nº 08. Nasceu neste dia José Maria da Silva Paranhos Júnior¹. 

Por esse época foi-se construindo o caminho de ascensão de Paranhos aos primeiros postos do Império. Nomeado presidente da Província do Rio de Janeiro, Aureliano Coutinho chamou o amigo Paranhos para secretário. Assíduo ao trabalho, diligente, José Maria acabou conquistando uma grande autoridade, sem despertar ciúmes nem oposição. "Ilustrado, afável", ninguém lhe disputava o lugar, e ele ia-se impondo a todos pelo raro tino administrativo e capacidade de trabalho. 

Numa conjuntura política conturbada interna e externamente, em setembro de 1850, mandaram-lhe dizer que o visconde do Paraná queria lhe falar. Era o novo plenipotenciário do Brasil em Buenos Aires, líder conservador, Honório Hermeto Carneiro Leão, grande entre os grandes do 2º Reinado. Que lhe quereria dizer? Paranhos foi, entre assustado e expectante, à presença do ministro. Paraná tinha fama de ser homem de poucas palavras, poucos sorrisos. Ia tenso, mal sabia o que o esperava.

Foi grande a surpresa. O visconde tinha uma tarefa difícil: conter diplomaticamente o "blanco" Rosas, violento ditador da Argentina, cuja política em relação ao Brasil ia se tornando cada vez mais agressiva. Na missão, Paraná precisaria de um assistente dinâmico, de largas vistas, conhecedor dos problemas da região. Lera os artigos de Paranhos. Conhecia seus méritos. E, sem rodeios, oferecia-lhe o lugar. A surpresa foi total. A resposta foi pronta, decisiva como o próprio Paranhos.

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¹José Maria da Silva Paranhos Júnior, um notável brasileiro que alcançou a graça, simpatia e a amizade do Imperador, recebendo o título honorífico de "Barão do Rio Branco". Seu pai, havia recebido o título de "Visconde do Rio Branco".