Ele foi à João Pessoa para
participar de uma reunião com seu advogado. Figura simples, do campo,
acostumado à lida dura que a vida legou. Casado, crente da Igreja Batista,
cidadão de Sapé,..., militante do movimento rural que lutava pela instituição
da Reforma Agrária no Brasil.
João Pedro Teixeira foi
preso várias vezes pela Polícia Militar da Paraíba para “averiguações”. Na mira
da Polícia Secreta que caçava supostos partidários comunistas, ele não hesitou
em continuar defendendo aquilo pelo qual estaria disposto a fazê-lo mesmo em
face da morte.
Pobre João, caminhando
pelas ruas da Capital, pensando em sua família, nos seus filhos, esbarrou na
venda para comprar livros e cadernos. Pensava no brilho de olhares da pequena
grei diante do presente que iria levar para casa, o gozo da satisfação,
indizível.
Pegou a marinete de volta
para casa, ônibus cheio, mas para João o que importava mesmo era ver seus
filhos festejarem seu retorno com novidades trazidas de um mundo longe dali,
daquela realidade cruenta e cheia de espinhos.
É verdade que, dias para
cá, uns cabras andaram espreitando o sítio de João, rodeando a casa com ares
ameaçadores. A mulher, com aquele pressentimento divinal, advertiu-lhe: “vamos
embora daqui!”, ao que sempre lhe respondia ternamente: “não posso abandonar a
causa. Vão-se que ficarei com os retratos.”
Sentimentos profundos
tomaram conta de João, tenaz pregoeiro da justiça social, defensor contumaz de
condições dignas para o produtor rural castigado pela insensibilidade bestial
dos latifundiários que detinham o poder para manobrar o próprio Comando da
Polícia, pondo-o sob suas ordens para executarem seus mandos a serviço do
desmando.
João, enfim chegou ao
ponto de parada, a entrada que dava para a cidade de Sapé, fatigado, seu desejo
era atingir o limiar de sua casa o quanto possível. Mas foi nesta estrada que a
solidão de seus pensamentos fora rompida com o primeiro dos tiros de rifle que
tão covardemente o abateu.
Tombado no meio do
caminho, ensangüentado e vendo-se esvair em sangue qual não foi a dor de João,
sobremodo, sufocante ao ver espalhado pelo chão de terra batido, os livros que
com tanto amor comprara para tentar colorir a vida de seus filhos que solícitos
lhe esperava. Aos poucos a imagem de sua esposa Elizabeth, seus filhos, sua
casa, seu sítio, foram-se distanciando, tornando-se fracas, confusas,
inatingíveis, os ecos de vida soçobraram na cabeça de João até ele não ver mais
nada, nada além de dois anjos que vieram para acompanhá-lo ao descanso dos
justos - 2 de abril de 1962.
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