sexta-feira, 17 de agosto de 2012

A RIQUEZA DO CENTAVO



É praticamente impossível mensurar o montante de moedas de pequeno valor como as de 1, 5 e 10 centavos, que deixam de circular no mercado brasileiro causando um descompasso econômico significante. O Banco Central estima que R$ 500 milhões dessas moedas estejam, boa parte, esquecidas nos lares.
O fato é que nós não fomos educados para reconhecer nessas moedas o devido valor. Por isso, aceitamos sem questionar preços de produtos na base do R$ 1,99, R$ 49,99 e assim por diante, sem nunca exigirmos o troco que nos é de direito e dever.
As empresas que comercializam esses produtos e/ou serviços se sentem confortáveis, porque o que para nós, consumidores individuais, não representa aparentemente perda alguma, em se tratando apenas de um, dois ou três centavos, para o comércio, no cômputo final, representa lucros.
Como ainda não existe legislação que proíba esse comportamento do comércio, a decisão deve ser minha e sua, no sentido de refinarmos nosso olhar para as moedinhas esquecidas no interior de nossa casa. Mas, sobretudo, nos reeducarmos para exigir, respeitosamente, o devido troco mesmo que seja de R$ 0,01 centavo de Real.
E esse comportamento não é interpretado como sendo uma atitude miserável, afinal, que falta faz um centavo, a menor unidade do Real? Se pensarmos assim estaremos alimentando a cultura deformada do comércio que anuncia valores com números garrafais do tipo “tudo por R$ 4,99” sendo que os “99” quase não se lê de tão pequeno.
Contrariamente, quando a tarifa de ônibus custa R$ 2,25, se você passa primeiro para depois pagar e, surpreso, constata que está faltando cinco centavos, uma situação vexatória será gerada, porque instintivamente, o passador de troco, o cobrador, não irá admitir o valor incompleto. Há casos até que a força policial é acionada! Se for ele quem não tiver troco de cinco centavos, nós facilmente não damos importância ao fato.
Um dia observei, em pleno Shopping, uma senhora que esperava pacientemente, em meio a uma fila de hora de almoço, um troco de apenas vinte e cinco centavos. Bem vestida, com porte elegante, rica, por quê não? Depois de refletir um pouco deduzi, o que parecia uma inconveniência da parte dela, era na verdade o que todos nós devemos fazer, por duas razões: 1) dinheiro não cai do céu. Centavo por centavo se estabelece o patrimônio de alguém; é mais provável que você enriqueça economizando, valorizando cada centavo, do que desperdiçando; 2) deve se constituir obrigação sagrada de cada estabelecimento comercial dispor de moedas para troco. O que não ocorre por falta de mais gente como essa dita mulher povoando o comercio.
É preciso mudar essa cultura colocando as moedas que temos em casa em circulação, centavo por centavo. Fazendo assim, o comércio fluirá com maior capacidade de troco e nós, poderemos contribuir gradualmente para formatação de uma prática comercial mais justa, conquentemente, menos enganosa.
Isso é um processo lento, mas – como diriam árabes, gente que sabe o valor dos centavos – para uma caminhada de mil quilômetros começar, basta dar o primeiro passo.

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