segunda-feira, 14 de novembro de 2016

BAIRRO DO JEREMIAS: UM COMÍCIO NO PÉ DA LADEIRA


O Bairro do Jeremias em Campina Grande, interior do Estado da Paraíba, por volta do ano de 1980, era ao lado dos bairros de José Pinheiro, Centenário e Liberdade palcos tradicionais dos comícios políticos. Dois locais eram estratégicos. Tinha candidato que preferia fazer seu comício no alto do Jeremias. No começo da Rua Santo Agostinho, ou Simão Bolivar, esquina com a XV de Novembro (principal acesso Centro/Bairro, vindo pelo Bairro da Palmeira), ou no baixo Jeremias. Neste caso, o caminhão ficava na esquina da Rua Francisco Borges da Costa (Rua do Homem Mocego) com a Simão Bolivar, mirando a expansão da Feirinha do Jeremias. O som podia ecoar até à Vila dos Teimosos, de modo que,  quem estivesse hospitalizado no Hospital da FAP, poderia ouvir perfeitamente toda a programação. 

Nessa última opção de local, o caminhão ficava num declive, ligeiramente inclinado, no pé da ladeira.

A gente sofrida composta de trabalhadores assalariados na sua maioria, estudantes, idosos, mulheres e crianças se concentravam na Feirinha esperando a chegada dos candidatos. Não importava se, de repente, a noite fosse tomada por uma leve neblina, e o chuvisco reforçasse aquele friozinho de batida de dentes. Mesmo assim o povo não arredava o pé, do pé da ladeira onde geralmente ficava o caminhão dos candidatos.

Cada candidato tinha seu representante no bairro. Ivan Cabral, um antigo líder comunitário durante muito tempo apoiou Zé Maranhão. Depois, passou a apoiar Ronaldo Cunha Lima. Depois passou a representar Walter Brito. Celinha assume posição de líder e passa a apoiar Ronaldo Cunha Lima. 

Enivaldo Ribeiro, apoiado por Laura de Chico Venâncio. Doutor Damião, por outro comunitário com seu potencial mobilizador  e assim por diante.

O grande atrativo eram os shows com artistas do momento ou da nostalgia romântica. Cantores como João Gonçalves com suas músicas de duplo sentido, Marinêz e os Três do Nordeste com o autêntico forró representavam verdadeiras festas ao ar livre. De início, cantores e bandas de pequena monta, depois, lá por volta das 22h começavam os discursos dos candidatos. Depois, começava o arrasta pé que se estendia das 23h às 0 horas. E o povo lá, firme na diversão. No meio desse fuá, as crianças faziam a festa na disputa por quem juntava mais santinho de candidatos. Eles diziam as mocinhas que distribuiam entre o povo, "tem santinho, aí?"  

O povão gostava também de ouvir os discursos inflamados dos candidatos. Tinha sempre um bêbado ou uma bêbada, ou os dois abraçados dançando juntos e fazendo prezepadas lá na frente do caminhão ou do trio elétrico de Walter Brito. 

Eles gostavam de ouvir Enivaldo Ribeiro, Dr. Damião, Zé Maranhão com aquela tranquilidade que é a sua marca, garantindo que iria lutar pelo "ricurso" necessário para mais saúde, moradia, segurança e tudo mais. 

Entretanto, a emoção era generalizada quando Ronaldo começava a discursar, intercalando aqui e ali com a prosa e a rima. Tinha gente que gritava e aplaudia, as mais atiradas esbravejavam: "Ronaldo, coisa linda!!!"

O resultado desses comícios quase sempre surtia seus efeitos. Dos prosélitos que acorriam para essas agromerações muitos se tornaram grandes defensores das figuras mais emblemáticas da política. Com tais não tinha negociação. O voto era certo em cada pleito, por décadas.


João B Nunes
Formado em Psicologia e Acadêmico de Direito

Memoria Social

1) A Difusora de Laura 
http://jbnunes-vitrine.blogspot.com.br/2011/11/difusora-de-laura.html

2) Ritinha Parteira
http://jbnunes-vitrine.blogspot.com.br/2014/03/ritinha-parteira.html

3) O Cego Zé Maurício
http://jbnunes-vitrine.blogspot.com.br/2013/02/o-cego-ze-mauricio.html

4) A Bodega de Seu Garrincha
http://jbnunes-vitrine.blogspot.com.br/2012/01/bodega-de-seu-garrincha.html