domingo, 30 de dezembro de 2018

CIUDAD JUÁREZ-MEXICO


Foi em homenagem ao estadista Benito Pablo Juárez Garcia (1806-1872)¹ que uma das maiores cidades do México ganhou o nome de Ciudad Juárez, possuindo mais de 2,8 milhões de habitantes em toda a região metropolitana, está situada num dos 31 estados, o Estado de Chihahua.

É a sétima maior região metropolitana do México, foi fundada em 1659 com o nome de Paso del Norte, e abrangia as duas margens do rio Grande. Só em 1848 foi dividida entre o México e os E.U.A., passando o lado mexicano a designar-se Juárez em 1888 e El Paso, o lado Americano. Conta com 17 parques industriais, dedicados às Maquiladoras.

Uma empresa maquiladora é uma empresa que importa materiais sem o pagamento de taxas, sendo seu produto especifico e que não será comercializada no país onde está sendo produzido. O termo originou-se no México, país onde o fenômeno de empresas maquiladoras está amplamente difundido. Em março de 2006 mais de 1.300.000 de pessoas trabalhavam em fábricas maquiladoras.

O clima de Ciudad Juarez é deserto, e as temperaturas variam muito de uma estação para outra. Não sem motivo que a ciudad Juarez é considerada a metrópole mexicana com o clima mais extremo do país, pois na primavera há fortes ventos com rajadas que chegam a 100 km/h, que geram de poços para tempestades de areia com visibilidade zero; no verão registam-se temperaturas muito elevadas que excedem 40°C, acompanhadas de períodos com umidade relativa muito baixa e, por sua vez, períodos da monção de verão, onde são registadas chuvas torrenciais de muito curta duração que geram inundações severas; e também invernos muito frios que são geralmente acompanhados de queda de neve, bem como a maioria dos dias com temperaturas abaixo de zero, e períodos em que, em alguns dias, as temperaturas máxima e mínima têm valores negativos.


A Ciudad Juarez é lider num conjunto dos 67 municípios que compõem o estado de Chihuahua, o governo do município é composto pelo Presidente Municipal, figura equivalente ao Prefeito, e o conselho formado pelos vereadores (los regidores). 

O conselho da cidade é eleito por um período de três anos que não são elegíveis para a reeleição para o período imediato, mas de maneira não contínua. A sede da Câmara Municipal está na "Unidade Administrativa Lic. Benito Juárez", localizada no centro da cidade ao lado da Ponte Internacional do Paso del Norte.

No prisma cultural, a Ciudad Juárez tem instituições que oferecem uma variedade de exposições culturais, como a Orquestra Sinfônica UACJ, a companhia de balé clássico UACJ e a Orquestra Sinfônica Esperanza Azteca (OSEA), bem como diversos grupos que vêm de diferentes partes do México. e o mundo para fazer apresentações aqui. 

Há um centro em que a maioria das obras, orquestras e performances são exibidas, Centro Cultural Paso del Norte (CCPN), um dos espaços culturais mais modernos do norte do país. Juarez também tem vários museus que expõem diferentes temas, como o Museu Arqueológico de Chamizal, o Museu da Revolução na Fronteira (MUREF), o Museu Regional de San Agustín e o Museu de Arte de Ciudad Juárez. 

O Centro Municipal de Artes (CMA) é uma instituição com carreiras técnico-profissionais em Teatro, Dança, Artes Visuais e Música onde as apresentações e exposições são realizadas pelos próprios alunos.


A cidade é classificada como a mais violenta do mundo (chega a desbancar a cidade de Gaza na Palestina), de acordo com a organização civil mexicana Consejo Ciudadano para la Seguridad Pública (CCSP). Ela é a cidade mais perigosa do México e por este motivo é considerada "Faixa de Gaza mexicana."

Em termos comparativos, a cidade de Queimados, no Estado do Rio de Janeiro ganhou o status de a cidade mais violenta do Brasil, com apenas 137.962 habitantes (IBGE, 2018), e o registro de 134,9 mortes violentas por 100 habitantes (100/h).




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¹Benito Pablo Juárez García (San Pablo de Guelatao, Oaxaca, 21 de março de 1806 – Cidade do México, 18 de julho de 1872) foi um estadista liberal mexicano que serviu cinco períodos como presidente do México:[1] (1858–1861 como interino), (1861–1865), (1865–1867), (1867–1871), e (1871–1872). Por resistir à ocupação francesa, derrubar o imperador e restaurar a república, assim como por seus esforços em modernizar o país, Juárez é frequentemente lembrado como o maior e mais amado líder mexicano. Benito Juárez foi o primeiro líder mexicano a não ter passado militar, e também o primeiro indígena a servir como presidente do México e a comandar um país ocidental em mais de 300 anos.
Juárez nacionalizou os bens do clero em 1859. Era uma tentativa de resolver o problema agrário mexicano por meio da individualização da propriedade comunal. A proposta liberal de reforma agrária pretende reconstituir o campo em bases individualistas, redistribuindo a terra para que cada camponês usufrua dos ganhos de seu próprio trabalho.

sábado, 3 de novembro de 2018

UM HOMEM A SER ESTUDADO



A oportuna observação de um de meus professores numa aula da disciplina Direitos Humanos sobre a figura de Epitácio Pessoa, natural de Umbuzeiro, Estado da Paraíba me chamou a atenção.

Dize-nos Marganida Contarelli que Epitácio Pessoa tem uma singular importância no âmbito da história do Direito Internacional brasileiro, em face do anteprojeto de Código por ele elaborado. 

Nascido em Umbuzeiro no ano de 1865, teve parte da sua formação no Estado de Pernambuco. Órfão de pai e mãe aos oito anos de idade, veio para o Recife e sob a orientação do seu tio o Barão de Lucena, estudou no Ginásio Pernambucano, em 1874. Matriculou-se na Faculdade de Direito do Recife em 1882 e fez, segundo narra Clóvis Beviláqua, em sua obra sobre a História daquela Casa do Direito, "um dos cursos mais brilhantes de que houve tradição da Faculdade, obtendo distinção em todos os anos", bacharelando-se em 1886.

Em Pernambuco, chegou a ser Promotor de Justiça nas Comarcas de Bom Jardim e do Cabo de Santo Agostinho. Com a proclamação da República foi secretário do Governo da Paraíba ingressando deste então na Política do Estado.

Em 1891, foi nomeado catedrático da Faculdade de Direito do Recife, no curso de Notariado. Representou a Paraíba como Deputado na Assembleia Constituinte para a elaboração da primeira Carta Constitucional Republicana (1890/1891), tornando-se, em 1898, o Ministro da Justiça no Governo Campos Sales.

"Logo se empenhou em realizar a velha promessa do governo brasileiro de dotar o pais com um Código Civil, e para tamanha empreitada", convocou, em 1899, o também professor da Faculdade de Direito do Recife, Clóvis Bevilágua, para a redação do projeto. Nomeou a Comissão que o devia rever, sob sua presidência, e acompanhou com interesse as discussões na Câmara. Muito mais tarde, já em 1915, quando o projeto volta ao Senado, sendo designado para redigir o parecer, o que fez com a superioridade de sempre. O Código Civil foi largamente fruto do seu pensamento e recebeu dele expressiva contribuição, não podendo se dissociar o seu nome de um dos mais notáveis monumentos da História do Direito pátrio.

Nomeado em 1902 para o Supremo Tribunal Federal, com 36 anos, exerceu brilhantemente a magistratura até 1912, constando nos registros do Supremo que "nunca foi vencido como relator de um feito, fato talvez único na história da corte."

Antes de adentrar na apreciação do Projeto de Código de Direito Internacional Público, ressalto outros trabalhos de Epitácio Pessoa que não passa despercebido daqueles que estudam a vida e a obra de tão ilustre brasileiro. O estudo sobre "Terrenos de Marinha" publicado pela Imprensa Nacional em 1904 e pela Revista de Direito, vol. XIII, "A fronteira oriental do Amazonas", em 1917, os Pareceres e discursos entre 1917 e 1918.

Na 3ª Conferência Internacional realizada no Rio de Janeiro, em 1906, foi delegado do Brasil na Comissão de Jurisconsultos encarregada da codificação de Jurisconsultos encarregada da codificação do Direito Internacional, dando continuidade aos trabalhos apresentados em Conferência anterior, ocorrida no México, por um pernambucano, também professor da Faculdade de Direito do Recife, José Hygino Duarte Pereira, que falecera durante a referida Conferência.

O "Projeto de Código de Direito Internacional Público", elaborado por Epitácio Pessoa, foi publicado pela Imprensa Nacional em 1911, é uma obra de grande valor jurídico, com antecipações na visão das relações internacionais que surpreendem o estudioso e permanece, em muitos aspectos, ainda atual, mesmo sendo uma obra escrita há mais de cem anos, de profundas transformações como foi o século XX. O Projeto foi considerado por Levi Carneiro como síntese da melhor doutrina sobre esse difícil ramo da ciência jurídica. 

Epitácio Pessoa, patrimônio da Paraíba, é o filho mais ilustre desta terra; cada paraibano que lhe conhece o desempenho público sabe que esse nome será sempre memorável. Os anais de dois Reinados e várias Repúblicas, de que se compõe a história do Brasil desde a Independência até os nossos dias, só apresentam um homem suscetível de medir-se com Epitácio Pessoa, em ação e pensamento, ao serviço das grandes causas nacionais: é Rui Barbosa. Epitácio, defensor da Justiça; Rui, defensor da liberdade. Eis como os caracterizou Laurita Pessoa Raja Gabaglia e José Octávio, aquela biógrafa do pai, este, autor de seu perfil parlamentar, estampado em publicação da Câmara dos Deputados.

Epitácio e Rui frequentaram todas as tribunas. Ambos gigantes, ambos exceções de culminância no apreço e devoção ao interesse público, à salvaguarda das liberdades, à genuína conservação dos valores. 

Ambos ainda jurisconsultos. Rui, o erudito, o humanista, o prosador vernáculo, constrói com a palavra uma obra de arte; é o esteta das ideias. Epitácio, por sua vez, com a lógica e a razão desenvolve em seus escritos jurídicos o raciocínio da legalidade; serve ao Pais e à Constituição com a honradez de uma vocação republicana.

As ferramentas dialéticas de análise aos fatos, ele as emprega para levantar um edifício argumentativo cuja visão e clareza e sentido da realidade nos deslumbram, ao mesmo passo que comovem e persuadem.

Fé, mestria, senhorio são traços sempre vistos ao lado dos que expõem a verdade. Sem eles não há legítima eloquência. Compôs Epitácio seu discurso político, invariavelmente isento de sutilezas, sofistarias, paralogismos, malabarismos, ambiguidades. Tais vícios se enredam tão somente entre aqueles a quem falece a convicção íntima da causa, o domínio absoluto da ideia, a confiança inabalável pertinente à retidão das proposições e dos juízos exarados. Não era este o caso de Epitácio.

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Saiba mais sobre Epitácio Pessoa: https://www.youtube.com/watch?v=rwb0K2pIhXA

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

ELEIÇÕES LIMPAS, BRASIL FORTE!


O pleito eleitoral é uma das conquistas mais significativas do regime democrático de direito, por expressar a livre decisão do eleitor em manifestar seu voto neste ou naquele candidato. Trata-se de um momento decisivo porque o resultado do voto pode mudar completamente o cenário política de uma cidade, estado, região e o próprio país. 

Em todos os recantos do Brasil se reforçou a ideia de que o período das eleições é, na verdade, a "abertura da caça aos eleitores" pelas já tão conhecidas condutas de grande parte dos candidatos em ganhar as eleições na força do dinheiro, da compra de votos, do tráfico de influências, de negociatas que se processam nos subterrâneos de campanhas políticas. Todas elas representam condutas vedadas, proibidas por lei, crimes eleitorais colocando diretamente no alvo da justiça tanto o corruptor (aquele que compra o voto) como também o corrupto (aquele que se deixa corromper).

Entretanto, se não houver alguém disposto a vender seu voto por alguma quantia ou por alguma promessa de benefício ou favores, dificilmente a corrupção prosperaria. Por essa lógica, só existem políticos corruptos por causa de eleitores corruptos, afinal, eles só podem chegar aos mandatos com o voto do eleitor. 

Portanto, nestas eleições, é preciso conhecer não apenas as propostas do candidato, mas sua vida e trajetória como cidadão e político. Como cidadão, porque qualquer que, por exemplo, é fichado na polícia por agressão à mulher, ou outro tipo de crime comum, não merece representar o povo num mandato. 

É preciso conhecer como político, se no exercício do mandato, quais proposituras apresentou realmente significativas e que representaram as necessidades da coletividade que o elegeu. Quais ideais e bandeiras foram defendidas, o que pensa sobre temas de grande importância como a família, os direitos fundamentais da pessoa, como idosos, deficientes, crianças e adolescentes, ou qual a visão sobre as questões ambientais, e tantas outras. Se tal pessoa, exerceu o mandato e não correspondeu a um trabalho sério, combativo, representativo e de resultados, não merece seu voto, não merece renovar o mandato. Geralmente, gente assim, é faltoso nas sessões e irresponsável quanto ao ser dever de dar o melhor de si pelas causas justas e necessárias.

Se o candidato não exerceu ainda nenhum mandato, merece uma atenção a mais. Precisa se partir da ideia de que ele ou ela deva conhecer o que significa o mandato que pretende concorrer, quais questões sociais pretende defender, quais as propostas que pretende apresentar se assumir o mandato. 

Por fim, algumas considerações importantes: 

1. Eleições acontecem periodicamente, ideias e ideais são discutidos. Mas, não se esqueça: a vida continua seguindo seu curso. Portanto, não se deixe influenciar por pessoas ou atitudes que são prejudiciais à imagem de outras pessoas, palavras agressivas, acusações, propagação de fatos que depreciam ou expõe com intensão de prejudicar alguém.

2. Não se deixe influenciar por figuras míticas próprias do período eleitoral. Dizer que é melhor votar num candidato folclórico porque é engraçado ou porque não é "político profissional", "desses acostumados com a corrupção", é um erro que precisa ser evitado. Acompanhe atentamente os debates, procure se informar, leia o quanto puder sobre determinado político para votar com segurança e poder cobrar dele depois.

3. Não voto nulo ou em branco. Não é a solução. Algumas pessoas demonstrando insatisfação com o processo eleitoral não sabem que o voto nulo, mesmo que atinja 50% não anula uma eleição. O voto em branco, ou "voto de protesto" não vai alterar os resultados da campanha eleitoral, apenas vai somar para o resultado positivo que se queria evitar. 

4. Não se deixe influenciar por pesquisas eleitorais. Não é atoa que elas são bem pagas. Elas são feitas para produzir um efeito psicológico nas pessoas. Apontam um distanciamento significativo entre o primeiro e o segundo candidato, em geral, vendendo a ideia de que para não perder o voto, a pessoa é tendente a votar em quem "já estar na frente e vai ganhar", quando nem sempre o resultado se mostra verdadeiro.


quarta-feira, 8 de agosto de 2018

El Tiempo y Ocio



En Brasil, los principios positivistas que influyeron en el nacimiento de la República reforzaron el mito de la racionalidad iluminista y pusieron de relieve la educación como un poderoso instrumento de reproducción y adiestramiento social.

Este contexto ha intensificado relaciones entre el Estado republicano, la escuela y el modo de trabajo capitalista, influenciando la incorporación de la recreación al cotidiano brasileño.

En ese contexto, se creía que el tiempo libre era perjudicial al desarrollo social, y que debería ser ocupado con actividades recreativas consideradas saludables, profilácticas y educativas en cuanto a la moralidad. Completando la función de la escuela, se consideró la recreación forzosa para que el niño no se quedara inactivo y no sufriera la influencia maléfica de la calle. 

Estrategia que, según Kishimoto, representó una de las formas de desvalorizar la calle, en cuanto espacio de uso público, para lograr así la instituccionalizacíon de prácticas culturales recreativas en espacios cerrados, inspeccionalizados y orientados.

Es importante destacar que en la década de 1930 la política laboral desarrollada por el presidente Getúlio Vargas pretendia crear, en Brasil, nuevos conceptos de trabajo y de trabajador. La propuesta de recreación desarrollada em São Paulo contribuyó con este proyecto como una contraparte de lo que ya se practicaba en el sector urbano industrial: forjar el obrero despolitizado, disciplinado y productivo.

Aunque no haya sido un movimento homogéneo, la organización de programas de recreación para la masa obrera representó una posibilidad de difusión de ese nuevo paradigma. Como parte integrante de este proyecto educativo, poco a poco la recreación pasó a jugar roles específicos en la formación de valores, hábitos y actitudes a ser consolidados en las horas libres, representando una base de sustentación para el modelo de produción capitalista en desarrollo en Brasil. Este nuevo paradigma reforzó la importancia de la recreación y rechazó el ocio, visto como una amenaza al desarrollo de la sociedad y un mal que debería ser combatido.

La Consolidação das Leis de Trabalho - CLT, el 1º de maio de 1943, universalizó las leyes que se referían a la limitación de la jornada laboral en Brasil, fijándola en 8 horas diarias y 48 horas semanales, lo que incluía un periodo mínimo de descanso 11 horas entre dos jornadas laborales consecutivas y un descanso semanal mínimo de 24 horas que, salvo excepciones, debería coincidir con el domingo, y además 30 días consecutivos de vacaciones anuales después de 12 meses contínuos de trabajo. 

João Batista Nunes da Silva
Psicólogo Organizacional

terça-feira, 24 de julho de 2018

HÁ UM MUNDO À SUA VOLTA


A vida moderna, ditada pela rotina, tem determinado um ritmo fora do comum principalmente nas cidades de médio e grande porte. 

Cedo nos levantamos e já entramos num ritual quase que automático. Mal nos alimentamos e as crianças igualmente apressadas para a escola reforçam a cadência e o compasso diário que vai nos levar, de uma rua com pouquíssimo movimento de carros, para uma outra com espaço disputado por motos, carros, caminhões, ônibus, pessoas andando pelas calçadas à passos largos.

Ao volante, acompanhando as notícias pelo rádio, relatos dos crimes ocorridos nessa madrugada, a nota de alerta para a BR interdita devido a um acidente envolvendo vários veículos, com um resultado triste de duas mortes no local. 

De repente alguém aparece do nada em sua moto e faz uma manobra arriscada e desaparece com a mesma irresponsabilidade com que surgiu. O som da ambulância lá atrás se aproximando com alguma dificuldade pelo volume de carros que custam a dar passagem. 

No trabalho uma série de demandas, cobranças, atropelos de informações, supervisores, chefes imediatos cobrando mais agilidade, intrigas de colegas, hora do almoço, retomada das atividades. Hora de se preparar para encarar o trânsito louco da volta. Parece que as pessoas nesse horário "escolheram" ir numa mesma direção, carros a perder de vista numa lentidão irritante. Para completar começa a chover... Mas nem tudo está perdido: quando a pessoa entra na rua de sua casa, o trânsito praticamente deu trégua. 

No outro dia, tudo de novo. Os mesmos lugares, as mesmas ocorrências...

Inequivocamente a vida moderna alterou a forma como enxergamos o mundo à nossa volta em graus variados de miopia social, reprodutoras de comportamentos alimentados pelo ego, pela vontade e disposição de tirar vantagem em tudo aquilo que nos possibilite ganhar tempo, pequenas vitórias e pseudos avanços em detrimento das pessoas com as quais mantemos algum tipo de contato, mesmo que esse contato seja o mais breve. 

É um ritmo que vem, ao longo dessas últimas décadas, fragmentando a essência do humano, aumentando vertiginosamente, ou seja, intenso e rápido, casos de ansiedade, estresses, síndrome do pânico, mal súbito e outros acometimentos psíquicos; respondendo também por uma grande parcela de comportamentos agressivos, desrespeitosos e até animalescos (como os mostrados nos vídeos das mídias sociais).

As pessoas circulam pelas vias cada vez mais num estágio mental agitado. Muitas delas, com energias negativas contidas, esperando algum estímulo externo para explodirem.

Nesse desajuste individual e coletivo, tendemos a esquecer o mundo à nossa volta, o mundo do "outro" (que Jesus classificou nos evangelhos como o nosso próximo); o mundo da co-existência.

Cresce o número de comportamentos sociais que demonstram claramente essa minha afirmação. Pessoa que agem ignorando completamente a existência dos demais seres.

Aquele homem que estaciona o carro em local que prejudica o fluxo dos demais, não se preocupando com o transtorno que está causando; ou aquela senhora que sai pedindo a cada pessoa da fila do caixa de supermercado para passar na frente, por estar atrasada para o trabalho, e quando vence essa aparente barreira, permanece no local se distraindo com outras coisas, demonstrando que era uma ansiedade forjada no engodo, na mentira.

Estes e tantos outros comportamentos antissociais sinalizam seriamente que, estamos aos poucos nos fechando em nossas redomas individuais, e tendemos a esboçar aqui e acolá condutas que exprimem a ideia de que ignoramos a existência do mundo à nossa volta.

É o mundo da co-existência formado por pessoas essencialmente iguais a nós, que têm a necessidade, o dever e o direito de perseguir seus objetivos comuns e estão fazendo, ou tentando fazer percursos que se cruzam com o nosso. Ou seja, não estamos sós. 


João Batista Nunes
Formado em Psicologia e acadêmico de Direito, em Campina Grande, Estado da Paraíba.

quarta-feira, 13 de junho de 2018

UMA QUESTÃO A SE REFLETIR


No mundo, estamos consumindo em grande escala e de forma irracional e desequilibrada água, energia e alimentos. Como isso geramos resíduos, fome e escassez hídrica. Devemos ter consciência desses impactos negativos no meio ambiente e parar e repensar nossos hábitos, fazendo as mudanças, de forma voluntária e individual, necessárias para diminuir o impacto no futuro, de forma a garantir a sustentabilidade no planeta.

Decidir pela mudança de hábitos que contribuem para o agravamento da situação do meio ambiente é questão de consciência. Passa por um processo interno de remodelagem, de descondicionamento para uma postura sadia e sustentável, reorientada para o consumo racional.

De modo prático, escolha sempre o que comprar, verifique se é possível ver quanto foi consumido de matéria prima para a produção. Veja se o produto faz bem à saúde, como ele será descartado. Só assim você será um consumidor consciente.

Na cozinha, só abra a torneira da pia para lavar vários utensílios de uma vez, já ensaboados. Com isso, evita-se o desperdício de água. No banheiro, ao escovar os dentes, mantenha a torneira fechada enquanto procede a escovação, abrindo-a apenas para o necessário. Grande parte da água do banho pode ser muito bem utilizada para descargas do vaso sanitário. Com medidas simples como esta, você estará contribuindo para a sustentabilidade do Planeta e garantindo um futuro sustentável das gerações que virão. 

A boa notícia é que a sua fatura mensal de água ira reduzir os custos em até 30%. O mesmo pode ocorrer com o uso da energia. Ao sair de um compartimento da casa, desligue a luz (do quarto, do corredor, da garagem, do escritório etc.); desligue os cabos de stand by dos eletrodomésticos, responsáveis pelo incremento desnecessário na sua conta de luz. Ar condicionados, ventiladores, televisores, computadores e outros ligados sem que alguém esteja utilizando, representa desperdício de uma energia que está se tornando escasso. 

É verdade que essas mudanças geram certo desconforto no início. como toda mudança é normal que a pessoa se sinta desafiada a adotar novo ritual até que a disciplina vire rotina automática. Mas, são medidas de grande importância que devem ser ensinadas às crianças para que reproduzam um viver sustentável.

quinta-feira, 17 de maio de 2018

O ANJO DE HAMBURGO



                                              Por João Batista Nunes da Silva

Quem é essa brasileira, de pulso firme, de temperamento sanguíneo, que ousou enfrentar seus superiores na embaixada de Hamburgo (Alemanha), e driblar por várias vezes a Gestapo para salvar centenas de homens, mulheres, velhos e crianças da escalada da morte nazista?

Ela trabalhando no Departamento de Vistos como chefe da seção de passaportes, concedeu o documento a milhares de judeus, apesar das restrições feitas à entrada de judeus no Brasil pelo Estado Novo a partir de 1938.

Nas horas em que não estava no trabalho socorria refugiados, a própria custa, com dinheiro e víveres, enfrentando seríssimos riscos sob os olhares dos oficiais SS que se ocupavam do extermínio sistemático de mais de seis milhões de judeus na Alemanha de Hitler.

Aracy Guimarães Rosa (1908-2011) foi a segunda esposa do diplomata e escritor Guimarães Rosa. Funcionária do Itamaraty em Hamburgo ajudou inúmeros judeus a fugir do nazismo. Conhecida como “Anjo de Hamburgo”, foi homenageada nos museus do Holocausto de Jerusalém e de Washington.

Aracy Moebius de Carvalho Guimarães Rosa (1908-2011) nasceu em Rio Negro, Paraná, o dia 5 de dezembro de 1908. Filha de pai brasileiro e mãe alemã, ainda criança foi morar com os pais em São Paulo. Em 1930, casou-se com o alemão Johann Eduard Ludwig Tess, de quem se separou cinco anos depois. Vítima do estigma que marcavam as mulheres separadas, destemida, poliglota e culta, embarcou com o filho de cinco anos em um navio rumo à Alemanha. Instalada na casa de uma tia, passou privações.

Fluente em português, alemão, inglês e francês, em 1936 encontrou trabalho no Itamarati, como chefe da seção de passaportes do consulado brasileiro em Hamburgo. Enquanto se adaptava ao país, assistiu a expulsão dos judeus do funcionalismo público, testemunhou seu banimento das escolas e das universidades e os viu perderem seus direitos e propriedades.

Desafiando o antissemitismo encampado nos bastidores do governo de Getúlio Vargas, que restringiu a entrada de judeus no Brasil, foi responsável pela concessão de vistos em Hamburgo, Aracy passou a omitir dos superiores qualquer informação que identificasse um requerente como judeu. Mesmo correndo sérios riscos se fosse descoberta, ajudou incontáveis famílias de judeus a escapar da morte nos campos de concentração de Adolf Hitler.

Em 1938 Aracy de Carvalho conheceu Guimarães Rosa, que depois se tornaria um dos maiores escritores brasileiros, e havia sido transferido para Hamburgo. Ela se apaixonou por ele, mesmo sabendo da transgressão da chefe da seção de passaporte, lhe deu total apoio. Aracy e Guimarães Rosa foram investigados pelas autoridades do Brasil e da Alemanha.

Em 1942, quando o Brasil rompeu relações diplomáticas com a Alemanha e aliou-se aos Estados Unidos, à Inglaterra e à União Soviética, contra Hitler, o casal foi mantido por 100 dias em um hotel, em poder da Gestapo, até se estabelecer a troca de diplomatas entre os dois países.

De volta ao Brasil, como eram desquitados, só oficializaram a união na Embaixada do México, no Rio de Janeiro, em 1947. O romancista dedicou-lhe “Grande Sertão: Veredas” (1956), obra central na moderna literatura brasileira.

Em 1982, Aracy Guimarães Rosa foi laureada com a mais alta honraria para os “não judeus” que se arriscaram para proteger vítimas do Holocausto – foi declarada “Justa entre as Nações”, pelo governo de Israel. Recebeu homenagens também no Museu do Holocausto de Washington e Jerusalém.

Aracy Guimarães Rosa faleceu na cidade de São Paulo, no dia 3 de março de 2011, em consequência do Mal de Alzheimer.

Desfecho

Ao sentir a aproximação do Exército soviético se aproximar, os oficiais SS aceleraram o extermínio de milhares de judeus, não importando se homens, mulheres, velhos, jovens e crianças nas câmaras coletivas de gás dos inúmeros complexos dentro dos campos de concentração. Relatos das forças aliadas ao chegarem em algumas das divisões desses campos, ainda era possível ver a poeira produzida pelas fumaças dos crematórios abarrotados de corpos. 

Anjos de carne e osso

A história universal está repleta de seres humanos iluminados, de carne e osso, que representaram um papel decisivo na vida de centenas de pessoas, chegando a fazer enormes sacrifícios para promover o bem. Nomes como o de Aracy nunca será esquecido.


REFERÊNCIAS

FRAZÃO, Dilva. Aracy Guimarães Rosa. A burocrata brasileira. 2016. In: eBiografia https://www.ebiografia.com/aracy_guimaraes_rosa

OLIVEIRA, Dimas da Cruz. 2ª Guerra Mundial: Holocausto. São Paulo: HunterBooks, 2015.

sábado, 3 de fevereiro de 2018

FAKE NEWS - UMA PSEUDO VERDADE

                                                                           
                
JB Nunes

Explorar a credulidade das pessoas sempre fora um artifício perversamente gostoso de fazer, por ser um terreno fértil que produz invariavelmente uma reação e induz comportamentos muitas vezes fatais como aquele que culminou com a morte de uma jovem senhora no Guarujá, Rio de Janeiro (maio de 2014) por causa de uma divulgação na internet. Ele foi perseguida, linchada e morta de forma selvagem pela própria população. No final, ela era inocente. 

Era uma 'verdade' que parecia tão verdadeira que levou as pessoas a agir exatamente como os caçadores de bruxas da Idade Média. Assim é o fake news. De fake (falso em inglês) palavra que era utilizada apenas nos casos de perfis falsos usados por pessoas que queria se manter ocultas em contas sociais na internet como o facebook; e news (também do inglês, notícia).

Apenas nesses dois parágrafos iniciais dá para notar que, em geral, as pessoas são naturalmente volúveis e sugestionáveis e podem ser (com graus variáveis) induzidas a se comportar dessa ou daquela maneira quando expostas a algum tipo de estímulo (visual, auditivo etc.). É nesse ponto que reside o perigo que vai da produção de julgamentos infundados, distorção de imagens, calúnia (Dic. Aurélio: "falsa imputação (a alguém) de fato definido como crime), difamação (Dic. Aurélio: ato de difamar, como em descrédito) e outras modalidades de implicações cíveis e criminais.  

O fake news é lançado na internet e propagado pelos próprios internautas. Poucos são os portais e blogs de notícia que ainda detém o "selo" de qualidade e primam pela verdade dos fatos. 

Com exceção das exceções, existe uma verdadeira falange, formada de hordas mal intencionadas programadas para divulgar fake news sobre personagens que gravitam no cenário político, artístico e demais segmentos. No whatsapp, por exemplo, são comuns textos, imagens e videos montados causando um verdadeiro reboliço em grupos, e que, no final, são absurdos propagados aos quatros ventos sem quaisquer fundamentos.

Mundo flash, dinâmico, marcado pela rapidez das mudanças, precisamos ser mais e mais cautelosos em todos os aspectos da vida. Precisamos ser seletivos, criteriosos, sobretudo, críticos.

Primeiro ponto: não seja "maria vai com as outras". É o tipo de pessoa influenciável, de primeira informação, que absorve o conteúdo, que sofre o impacto (texto, imagem, vídeo, áudio), que - num grupo de whatsapp é propensa a seguir o 'cão-alfa', ou seja, aquele que parece exercer maior influência nas discussões. Lembre-se que no primeiro século tinha pessoas (os sofistas) que ganhavam bastante dinheiro pelas praças e feiras das cidades da Ásia Menor propagando fábulas como verdades. Abstraia sua própria opinião.

Segundo ponto: calma!!! Por mais estupenda, arrebatadora que seja a notícia cheque a fonte (e até a fonte da fonte). Curtir, compartilhar, repassar em grupos do whatsapp conteúdos que não traz identificada a fonte (autor da matéria, crédito da foto, agencia ou blog de notícia com a indicação de que fonte foi reproduzida e data) é contribuir de forma negativa para o jogo sujo da falsa informação que prejudica pessoas e instituições. Um dos caminhos de checagem é o google news. 

Terceiro ponto: seja crítico. Quanto mais regionalizada a notícia e interiorizada, tanto mais atende a objetivos parciais, que não interessa informar mais moldar atitudes. No mundo das notícias existem jornalistas e Jornalistas. Aqueles que vão além de se deixar comprar, oferecem seus produtos demonstrando eficiência em mudar governos, desconstituir imagens de pessoas públicas e até criar imagens positivas de indivíduos que margeiam o zero absoluto.

Quanto ponto: contenha seus impulsos. Não há criatura com senso de justiça mais aguçado do que o ser humano. A notícia por mais estarrecedora que pareça tem a função precípua de informar, quando não, prestar-se a função de utilidade pública. Lembre-se do que preceitua a Constituição Federal no art. 5º, inciso LV: "aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes." Alguém de primeira informação, incitada pelo instinto provocado pelo conteúdo pode esboçar reações diversas como irritação, ira, cólera, um  ódio mortal por questão que não tem a completude, a visão aprofundada. Resultado: a pessoa passa a denegrir, macular, rotular, condenar, desconhecendo o fato jurídico de que ninguém será considerado culpado sem sentença judicial condenatória. Houve caso nos EUA em que o condenado a injeção letal, teve a sua inocência comprovada em última hora! 

Por fim, no âmbito legislativo já existe iniciativa em tramitação criminalizando a prática do fake news. Trata-se do  Projeto de Lei do Senado 473/2017 que prevê até três anos para quem divulgar notícias falsas, sabendo que se tratam de informações inverídicas, sobre assuntos de relevância para o interesse público, como saúde, segurança pública, economia e política.

Segundo o que propõe o documento, penas de seis meses a dois anos de detenção serão possíveis a quem divulgar as fake news. Se a divulgação for feita em meio virtual, a pena passa a ser de reclusão de um a três anos. Se a divulgação da notícia falsa visar obtenção de vantagem, para quem publica ou para outrem, há possibilidades de aumento da pena em até dois terços. Todas as punições podem ser acompanhadas, também, de multas.

Quando a divulgação de notícias falsas atinge um alvo específico, há previsão no Código Penal para que se imputem penas relacionadas aos crimes já existentes, como calúnia, difamação ou infâmia. O objetivo do Projeto de Lei é coibir a prática de divulgação de informações inverídicas quando essa ação atinge o que Ciro Nogueira chamou de "o direito difuso de a população receber notícias verdadeiras e não corrompidas”.

  

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

JOHN BROADUS WATSON




                                                                  João Batista Nunes


Embora sua carreira acadêmica tenha sido breve, John B Watson, o fundador do comportamentalismo, foi fundamental na elaboração de uma psicologia objetiva, livre do mentalismo, e com o mesmo grau de cientificidade da física.

Quando Watson tinha treze anos, seu pai fugiu com outra mulher, para nunca mais voltar, o que magoou Watson pelo resto da sua vida. Muitos anos depois, quando Watson já era rico e famoso, o pai foi a Nova York tentar vê-lo, mas ele se recusou a encontrá-lo.

Na infância e na juventude, Watson foi descrito como um delinquente. Ele mesmo dizia ser preguiçoso e insubordinado, e nunca foi além da média necessária para passar de ano na escola. Seus professores o consideravam indolente, insolente e, às vezes, incontrolável. Ele se envolvia em brigas e foi preso duas vezes, numa delas por dar tiros em área urbana. Mesmo assim, ele se matriculou na Universidade Furman, dos batistas, em Greenville, aos dezesseis anos, decidido a ser ministro religioso.

Ele prometera à mãe, muitos anos antes, que abraçaria a vida clerical. Watson estudou filosofia, matemática, latim e grego, e esperava graduar-se em 1899 e entrar no Seminário Teológico de Princeton no outono seguinte.

Ocorreu uma coisa curiosa no último ano de Watson em Furman. Um dos professores avisou os alunos que quem entregasse o exame final com as páginas trocadas seria reprovado. Watson levou a sério o desafio, pôs a prova invertida e foi reprovado, ao menos foi assim que ele contou a história. Um exame mais recente dos dados pertinentes da história – no caso, as notas que Watson preferiu contar revela algo de sua natureza, isto é, “sua ambivalência diante do sucesso.” Sua constante luta por conquistas e aprovação era sabota com frequência por atos de pura obstinação e impulsividade, mais características de uma evitação da responsabilidade.

Watson ficou em Furman mais um ano e recebeu o grau de mestre em 1900; neese ano, porém, sua mãe faleceu, liberando-o do voto de tornar-se ministro. Em vez do seminário teológico, foi para a Universidade de Chicago. Na época, era “um jovem ambicioso, muito consciente do status social, ávido por deixar sua marca no mundo, mas totalmente confuso quanto à sua escolha de profissão e desesperadamente inseguro com relação à sua falta de meios e de sofisticação social. Ele chegou ao campus com cinquenta dólares no bolso.”  
Escolhera Chicago para pós-graduar-se em filosofia sob a direção de John Dewey, mas, passado algum tempo, considerou Dewey incompreensível. “Eu nunca soube do que ele estava falando na época”, relembrou Watson, [...] “e, infelizmente para mim, continuo não sabendo.” Seu entusiasmo pela filosofia logo diminuiu.

Interessou-se pela psicologia graças à obra de James Rowland Angell, e estudou neurologia, biologia e fisiologia com Jacques Loeb, que lhe deu a conhecer o conceito de mecanismo. Ele trabalhou em várias ocupações – garçom de uma república, tratador de ratos e assistente de zelador (suas tarefas incluíam limpar a escrivaninha de Angell).

Perto do final dos estudos, sofria ataques agudos de ansiedade e não conseguia dormir sem uma lâmpada acesa.

Em 1903, Watson se doutorou, a pessoa mais jovem a obter um doutorado na Universidade de Chicago. Embora fosse aprovado com louvor, ele relata que teve um profundo sentimento de inferioridade quando Angell e Dewey lhe disseram que seu exame doutoral não era tão bom quanto o de Helen Thompson Woolley, que se graduara dois anos antes (Woolley, apesar de sua competência, enfrentou uma considerável discriminação sexual e foi preterida na carreira acadêmica).

Nesse mesmo ano, Watson casou com uma de suas alunas, Mary Ickes, de dezenove anos, filha de uma família social e politicamente importante. Conta-se que a jovem e impressionável Mary escrevera um longo poema de amor para Watson num dos exames, em vez de responder às perguntas.

Não se sabe que nota recebeu, mas Watson ele conseguiu. Sua família se opôs ao casamento; seu irmão chamou Watson, que tivera vários casos com alunas, de “um patife egoísta e presunçoso.”

Watson permaneceu como instrutor na Universidade de Chicago até 1908. Publicou sua dissertação sobre a maturação neurológica e psicológica do rato branco e cedo demonstrou sua preferência por sujeitos animais.

Dizia Ele:

Eu nunca quis usar sujeitos humanos. Detestei servir como sujeito. Eu não gostava das instruções enfadonhas e artificiais que eram dadas aos sujeitos. Sempre me sentia pouco à vontade e agia sem naturalidade. Com os animais, eu me sentia em casa. Tinha a impressão de que. Um determinado pensamento: será que não poderei descobrir, ocorria-me cada vez mais vezes um determinado pensamento: será que não poderei descobrir, observando o seu comportamento, tudo o que os outros alunos estão descobrindo usando [observadores humanos]/?

Alguns dos professores e colegas de Watson se lembram de que ele não era bom em introspecção. Sejam quais forem os talentos especiais ou os temperamentos necessários para isso, ele não os tinha. É possível que isso tenha sido parte do ímpeto que o fez rumar na direção de uma psicologia comportamental objetiva. Afinal de contas, se ele não era bom na prática da técnica essencial do seu campo, suas perspectivas de carreira eram as piores possíveis... a não ser que ele pudesse desenvolver outra abordagem. Além disso, se a psicologia fosse uma ciência dedicada apenas ao estudo do comportamento, que, de fato, podia ser feito tanto com animais como com seres humanos, os interesses profissionais dos psicólogos animais podiam ser promovidos e introduzidos na corrente principal do campo.

Em 1908, quando se tornou elegível para um cargo de professor-assistente em Chicago, Watson recebeu a oferta de um cargo de professor efetivo na Johns Hopkins, de Baltimore.
Embora relutasse em deixar Chicago, Watson não tinha muita escolha, devido à promoção, à oportunidade de dirigir o laboratório e ao substancial aumento de salário oferecidos pela Johns Hopkins. Ali, ele passou doze anos, seu período mais produtivo para a psicologia.

O ousado Watson afirmou certa vez: 


Deem-me uma dúzia de crianças saudáveis e bem formadas e meu mundo específico para criá-las, e eu me comprometo a escolher uma delas ao acaso e treiná-la para que chegue a ser qualquer tipo de especialista que escolher: médico, advogado, artista, comerciante, e inclusive mendigo ou ladrão, sem levar nem um pouco em conta seus talentos, capacidades, tendências, habilidades, vocação ou a raça de seus antepassados (WATSON, 1930, p. 104).

REFERÊNCIAS

WATSON, J. B. Psychology as the behaviorist views it. Psychological Review, 20, pp. 158-177, 1933.

SCHULTZ, D. P. & SCHULTZ, S. E. S. História da Psicologia Moderna. 8ª ed. Revista e Ampliada. São Paulo: Cultrix, 1997.