domingo, 27 de abril de 2014

A PARTICIPAÇÃO DA MULHER NO PROCESSO POLÍTICO BRASILEIRO-UM OLHAR GENDRADO


Na discussão de gênero e do papel ativo feminista que busca avançar rumo a cristalização de uma consciência harmonizada com os reais valores sociais de igualdade entre homens e mulheres, eis que surge o vocábulo 'gendrado', identificador dessa significativa militância.

Diz-se que uma pessoa gendrada é aquela inserida na dinâmica social e cultural relacionada à experiência sexuada, aos valores, regras, normas e demais vinculações ligadas a essa experiência. Logo, "olhar gendrado é um olhar voltado para o gênero e não para o sexo homem e mulher, ou seja, um olhar em torno de um conjunto de ideias sobre o que É SER UMA MULHER e o que É SER UM HOMEM nos padrões que definem o que é socialmente considerado feminino e masculino"¹.

No olhar gendrado se baseia o movimento feminista, que pode ser conceituado como "uma doutrina ou movimento social que professa a ideia de liberdade e igualdade, tendo a frente mulheres e volta-se, em especial, à crítica das desigualdades entre os sexos e as formas desiguais de relacionamentos sociais"².

No Brasil, a lula pela educação e o direito ao voto caracterizou o feminismo na segundo metade do século XIX. Nesse contexto foram criados vários jornais feministas: em 1852, o Jornal das Senhoras; em 1873, o Sexo Feminino; e, em 1880, a Revista Família. Todos tratavam de questões ligadas à emancipação feminina.

Nísia Floresta Brasileira Augusta era o pseudônimo da potiguar Dionísia Gonçalves Pinto, nascida em 12 de outubro de 1810 e já em 1831 estreava no jornal Espelho das Brasileiras escrevendo artigos sobre a condição feminina. Em 1832 publica em Recife seu primeiro livro: Direitos das mulheres e injustiça dos homens, reeditado posteriormente em Porto Alegre em 1833 e em 1839 sai a terceira edição, dessa vez publicada no Rio de Janeiro. Em 1838 cria um colégio feminino no Rio de Janeiro e em 1842 sai a primeira edição do livro Conselhos à minha filha. Nísia faleceu em 1885 em Bonsecours, interior da França onde residia, após publicar muitos livros e artigos em vários idiomas, em sua maioria tratando da condição feminina.

O MOVIMENTO SUFRAGISTA

Em 1880, ainda sob o Império, a dentista baiana Isabel de Mattos Dillon, requereu da justiça seu alistamento como eleitora e conseguiu ganhar a demanda em segunda instancia. Mais tarde, Isabel Dillon tentou candidatar-se à primeira Constituinte Republicana. Sua pretensão foi rechaçada pelo Ministro do Interior do Governo Provisório, Cesário Alvim, através do decreto Nº 511 de junho de 1890, que apesar de não restringir explicitamente o voto feminino, na prática, esse regulamento excluiu as mulheres do conceito de “cidadão”.

O sufragismo brasileiro - alimentou as aspirações femininas pela conquista de direitos jurídicos/políticos. Para conquistar o voto feminino, as sufragistas realizaram várias manifestações, em especial, no âmbito do Parlamento. Por meio da atuação de alguns deputados, muitos projetos foram apresentados visando garantir o direito de voto às mulheres, todos eles rechaçados.

Mas foi apenas com a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, criada em 1922, sob a liderança de Bertha Lutz que a luta sufragista ganhou um maior impulso, chegando à conquista do voto feminino.

O direito de voto para as mulheres foi estabelecido, por fim, em 1932, como o Decreto nº 21.176de 24 de fevereiro, que regulava em todo o país o alistamento eleitoral e as eleições federais, estaduais e municipais. O direito de voto foi incorporado a Constituição de março de 1934, no art. 108, com o seguinte texto: “São eleitores os brasileiros de um ou outro sexo, maiores de 18 anos, que se alistarem na forma da lei”.

____________
¹CEFOR-Câmara dos Deputados, 2014.
² BARSTED; ALVES, 1987, P. 206.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

O PENSAMENTO ESTRATÉGICO

O pensamento ou pensar é um processo cognitivo primário e complexo, objeto de estudo de vários filósofos, fisiologistas e psicólogos ganhando força no século XIX, mas sempre mantendo um olhar no passado histórico. Ao longo da história, filósofos, matemáticos, biólogos e outros pesquisadores se interessaram pelas capacidades mentais que os seres humanos possuem. Platão e Aristóteles, por exemplo, já teorizavam sobre o pensamento e a memória, partindo de sua base empírica. Portanto, um longo caminho se processou para que hoje tivéssemos, dentro ainda de grandes limitações, uma compreensão razoável sobre o pensamento, esse processo mental tão importante para nossas vidas, em todos os sentidos e aplicações.

  


sábado, 19 de abril de 2014

SOMOS HI:TECH, MAS DEPENDENTES DA ECONOMIA FÓSSIL


Lendo uma das sumidades na área de energias renováveis, o Dr. Hermann Scheer, autor de "Economia Solar Global - Estratégias para a modernidade ecológica" (2011), editado pelo Centro de Referências para Energia Solar e Eólica Sérgio de Salvo Brito - CRESESB/Cepel, vim a compreender um pouco mais de perto acerca de um assunto tão premente para o alargamento de nossa visão crítica. De fato, podemos até ser uma sociedade hi:tech em vários setores do engenho humano, mas, sem dúvida, somos predominantemente dependentes da economia fóssil, aquela que se alimenta dos insumos que a indústria transforma em combustíveis altamente, comprometedores para a construção de uma sociedade sustentável.

A economia mundial baseia-se em recursos energéticos não renováveis como o carvão, o petróleo, o gás e o urânio, cuja utilização tem consequências catastróficas para o homem e para o ambiente, provocando a já acelerada extinção dos recursos do planeta.

Como destacado pelo autor, "qualificar a economia mundial como fóssil justifica-se pelo fato que o abastecimento em escala planetária realiza-se em sua maioria, com energias  fósseis, das quais dependem quase todas as atividades da humanidade[...]", op. cit. , p. 191). 

O que somos e até onde podemos ir está relacionada a opção de uma determinada base de recursos que traduzem a importância fundamental para o desenvolvimento econômico e, consequentemente, para a evolução da sociedade. 

Para se ter uma ideia do panorama do consumo energético, de acordo com estatísticas, o consumo mundial de energia se baseia em cerca de 32% na combustão de petróleo, cerca de 25% na combustão de carvão, cerca de 17% na combustão de gás natural, cerca de 5% no uso de combustível nuclear e cerca de 14% na queima de biomassa - com a particularidade de que esta queima tem sido acompanhada por um processo de regeneração em pequena proporção. Somente 6% do consumo total está coberto pela força hidráulica. 

Uma das principais teses defendidas pelo Dr. Scheer é a de que a civilização mundial somente poderá escapar da armadilha dos recursos fósseis se fizer todo o possível para começar, sem demora, a substituí-los por recursos renováveis e compatíveis com a natureza a fim de tornar-se independente daqueles.

Assim, por que não a energia solar? Uma economia planetária permite satisfazer o conjunto das necessidades de energia e matérias-primas graças ao uso de fontes energéticas e materiais de tipo solar. "O potencial inesgotável das energias solares ou renováveis engloba a luz e o calor do Sol, as ondas e os ventos, a força hidráulica, a energia procedente das plantas e outras substâncias."

Os materiais de origem vegetal também têm caráter solar, pois são produzidos pelo Sol através da fotossíntese. Os termos usuais para designá-los são: biomassa, materiais recicláveis, materiais ou biógenos. 

Para o autor, num entanto, o nome coletivo de matérias-primas solares, que não apenas ressalta sua procedência direta, mas também faz alusão à alternativa que pode e deve conduzir de energias e materiais fósseis àqueles que o Sol produz continuamente e em sintonia com a natureza.