quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

ANTES DA FESTA, UM "ESQUENTA" PRA FICAR LIGADO


Alcoolismo entre jovens: uma armadilha que pode ser fatal

Cresce o número de jovens iniciados no alcoolismo, principalmente no meio universitário. Isso me faz lembrar uma frase do psiquiatra Augusto Cury no livro Superando o Cárcere da Emoção: “Nossas escolas formam acadêmicos em profissionais, mas não tem formado mentes pensantes.” Eis aí a grande diferença. A possibilidade de ingressar no mundo das drogas “lícitas”, como alguns preferem referir, é facilitada como placas de sinais de trânsito indicando um acesso sem restrições. Às vezes o “esquenta” começa nas esquinas ou num posto de combustível onde tem uma loja de conveniência que vende de chocolate a uísque, acessível a qualquer adolescente. É possível ver, em muitos casos, viaturas da polícia passando ao largo, ignorando a situação.

Como se vê, ao mesmo tempo em que a lei brasileira define como proibida a venda de bebidas alcoólicas para menores de 18 anos (Lei nº 9.294, de 15 de julho de 1996), é prática comum o consumo de álcool pelos jovens – seja no ambiente domiciliar, seja em festividades, ou mesmo em ambientes públicos.

A sociedade como um todo adota atitudes paradoxais frente ao tema: por um lado condena o abuso de álcool pelos jovens, mas é tipicamente permissiva ao estímulo do consumo por meio da propaganda.

Especialistas que lidam diretamente com o assunto afirmam que o problema do alcoolismo entre adolescentes e jovens pode ter origem numa predisposição genética, onde o sujeito está predisposto a, cedo ou tarde, vir a ser um alcoólatra; outra explicação está situada no campo psicológico, é o escapismo. Adolescentes e jovens vêem a bebida como rota de fuga, fuga dos conflitos existenciais, famílias desestruturadas, violência doméstica, busca pela auto-afirmação e uma série de causas.

O fato é que o adolescente, o jovem, não consegue perceber a gravidade do problema. Baladas regadas a bebidas misturadas, daquelas que quanto maior o teor alcoólico melhor, representam uma verdadeira armadilha e aquilo que parecer ser extremamente prazeroso vai se tornando aos poucos trágico e sem nenhuma graça.

Mas o que me parece terrivelmente degradante é a configuração de uma situação de vulnerabilidade na qual a pessoa do adolescente e o jovem, entregues completamente ao consumo desenfreado do álcool se deixam prender.

O teor elevado de álcool no cérebro faz com que as barreiras da consciência sejam rompidas. Barreiras que representavam os conteúdos sadios da educação, do aprendizado moral legado pela família, escola e igreja sejam desarmadas, fazendo com que o ser atinja o processo de despessoalização para se tornar um acessório do prazer objetal, portanto egoístico e sem afeto.

Tenham-me por careta, eu não ligo – até agradeço. Mas, para mim, festinhas em Centros Acadêmicos, Baladas badaladas, Turminhas do carro turbinado, a caça à Mina siliconada, movida pela mistura alcoólica e outras ofertas, tô fora!

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

"O CÓDIGO DA PERSONALIDADE" SOB SUSPEITA


Comprei, recentemente o livro de Travis Bradberry intitulado "O Código da Personalidade" (Editora Sextante, 2010), que anuncia de forma bastante atraente o seguinte enunciado de capa: Conheça seus talentos e suas dificuldades, compreenda as pessoas com quem convive e aprenda a se relacionar melhor". O livro anuncia também, em destaque, que um teste pode ser feito pela internet, onde o leitor irá descobrir suas principais qualidades.

Até aí tudo bem. Marketing agressivo e eficazmente atraente, como os americanos costumam fazer com aquilo que querem vender. Eles sabem disso porque a Escola Behaviorista de Waltson é da terra do Tio Sam, e a Gestalt que estuda, entre outra coisas, os elementos perceptuais que entram na configuração mental das pessoas, teve grande parte de seus estudos importados da Alemanha, como o foi Freud e a Escola Psicanalítica. A moral da estória, é que americano com ferramentas de persuasão desse naipe, tem capacidade de vender gelo a esquimó.

Não posso negar que, ao folhear o livro de Travis, fiquei impressionado como psicólogo e leitor desse gênero. Impressionado, não com o conteúdo "fantástico" prometido nos enunciados da capa, mas com a pretensa tentativa de enquadrar aquilo que possamos abstrair do estudo da personalidade em apenas quatro tipos, a saber: Dominante, Interpessoal, Sensato e Cauteloso. Uma classificação simplista demais para o complexo e, tantas vezes, obscuro, chamado personalidade.

Ao final do livro, no verso da capa, tem um código para o leitor acessar o site "www.personalitycode.com/idisc.php?lang=portuguese", e então fazer o teste que irá revelar suas qualidades, seus potenciais. Imagine, quem não quer obter um perfil seguro de sua personalidade, sem que para isto tenha de contratar os serviços de um profissional estritamente da área de psicologia?

Acessei o portal. E, li alguns textos que, em síntese, falavam a mesmíssima coisa do livro. Percebi que para não patinar no gelo aleatoriamente, fui em busca do teste. Comecei a marcar questões com as quais me identificava. Depois, achei que poderia concluir no outro dia, já que o próprio livro asseverava que o mesmo teste poderia ser feito quantas vezes a pessoa quisesse.

Decorridos três dias, acessei o site e, ao tentar logar, apareceu a seguinte mensagem: "You received an error. Your email and password cannot be found in our database. Please contact TalentSmart® for assistance at (888)-818-7627 (Toll free, US callers only), (858) 509-0582, or CLICK HERE to send us an online request. We're sorry for the inconvenience".

Então, pensei comigo mesmo: What?!

Depois de tentar, tentar e tentar fazer o login com minha senha já cadastrada no site, e abrir meu e-mail na mesma proporção das tentativas para ver se o portal havia enviado a recuperação de senha como prometera no link. Nada! Foi aí que uma janela do site dava para um formulário extenso cujos campos exigiam informações pessoais restritas das quais não podemos abrir mão, senão para a Receita Federal (do Brasil, hein?!).

Disso tudo me restou mais uma lição importante: nem tudo que brilha é ouro! Além da lição, é claro, alguns hipóteses que merecem ser levadas em consideração: 1) Primeiro, pesquisas sobre a personalidade como essa de Travis, é de se achar estranha, porque não fala de metodologia aplicada, nem público alvo definido, nem outras implicações sérias que dão credibilidade a quaisquer pesquisas; 2) Quando se tem, numa pesquisa, um formulário exaustivo que visa perscrutar informações pessoas restritas, é de se desconfiar até sobre quem e quais motivações estão por trás, e o uso dessas informações. É sério! O site é tão ardiloso que, inevitavelmente leva os leitores do livro a acessarem para cair nesse formulário. Eis o perigo. Algo que de científico nada tem!; 3) E se, tanto o livro, quanto o site, forem a pesquisa sendo levada a efeito sem o conhecimento expresso das pessoas que acessam? Se for assim, estamos diante de um crime federal e aí, com a palavra as autoridades, brasileiras, é lógico.