O dia no DF começa cedo. Ainda com muita neblina ao horizonte, mas o povão trabalhador já está à caminho do trabalho. Gente de todas as ocupações chegam aos montes em carros, motos e ônibus das cidades satélites, muitos deixam para tomar café na esquina dos prédios, naquelas barracas muito bem arrumadas, aquele café cheiroso, claro, nada comparado ao conforto do lar, mas que fazer? São as exigências da vida.
Eu, como eles, naquela mesma dinâmica cíclica. É claro, o prédio funcional localizado no Setor Norte, perto da Esplanada dos Ministérios apenas uns quadras, dava para ir caminhando, e era o que eu fazia, curtindo meus hinos no MP4, naquele blaze preto, pasta à mão. Caminhando e ao mesmo tempo fascinado com aquele movimento de pessoas rumando para as múltiplas direções. Uns à passos largos, outros, como eu, devagarinho.
Chego na Câmara dos Deputados exatamente às 08:00 da manhã. Pouquíssimo movimento nos corredores. Dirijo-me ao gabinete e percebo no balcão ao lado, um amontoado de revistas, livros, teses, relatórios e demais publicações importantes das instituições públicas e privadas, representativas de todo o Brasil, destinadas ao refugo. Essa mesma visão de desperdício era reverificada quase que diariamente. Tudo para o lixo! Eu ficava simplesmente sensibilizado com aquela cena. Quando retornava para o Estado, muitas vezes pagava o excedente de bagagem, porque não admitia ver análises da obra de Celso Furtado fazendo parte daquele descarte.
Hora do almoço, três opções: um restaurante próximo do gabinete. Este sempre cheio. O segundo, no subsolo tinha menos clientes. Ambos preço bom e comida agradável. Mas, um dia, um colega que prestava assessoria na área de processo legislativo, convidou-me para almoçar numa barraca próxima ao estacionamento chapelaria. Era uma comida que se aproximava muito ao prato do nordeste. Fiquei freguês da barraca. E a troca de conhecimento se estendia a cada hora do almoço. Algo gratificante.
Naquele dia era sessão especial. Estava na pauta o retorno da CPMF. Eu gostava quando havia sessões especiais. Saía tarde do gabinete. Após as 19:00hs, tudo que fazíamos era conversar e atualizar as notícias, temas diversos e gargalhadas. Não importava a que hora terminasse a sessão, tínhamos que esperar a lista de presença de término da sessão para ser computada nossa hora extra. Era algo que fazia diferença substancial no final do mês.
Tarde da noite, chegava no apartamento do deputado, cansado, tomava banho e ia dormir, com uma agenda de tarefas já preestabelecida para o dia seguinte. E assim o tempo passa no dia-a-dia de trabalho no DF.
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