sábado, 18 de outubro de 2014

ZEZIM


Zezim foi um galego, meio loiro, que morava no Bairro do Jeremias, no alto da Rua São Gonçalo em época não muito distante da nossa. Seus pais passavam o dia consumindo cachaça na bodega mais próxima o que ganhavam durante à noite. Eram catadores de lixo. A casa deles era bastante precária, a começar pelo acesso, uma escadaria íngreme, de barro escorregadio. 

Era uma vida dura, cheia de lamúria e de soluços pelos vãos da casa, suspiros das lembranças de outrora no Rio de Janeiro, donde a mãe teria vindo e aqui, juntou-se com o homem que se tornou padastro de Zezim.

Dava para se vê que aquele sujeito não poderia ser o pai de Zezim. Embora pacato, econômico nas palavras até quando estava ébrio, não tinha nada que se pudesse compará a ambos. Zezim tinha de 15 para 16 anos mas era um rapagão, de compleição física avantajada. Não bebia nem fumava. Nunca deu uma tragada de maconha nem roubou. 

Era esse rapaz um analfabeto na absoluta acepção do termo. Não sabendo ler nem escrever, trabalhava desde cedo como engraxate. 

Podia-se concluir que daquela familiar nuclear, era impossível uma convivência harmônica entre os três entes. Não pela pobreza das condições, mas sim pela ambiência conflitante que fazia o rapaz murmurar seu desejo de retornar para o "Ri-de-janeiro", donde nunca deveria ter saído.

Não sucumbia mentalmente por conta do trabalho. De segunda à sábado, engraxante; nos domingos, pelos bares, tanto de Campina quanto de João Pessoa, tocaiante de carros. Nas tardes que se dava ao prazer de ir ao Colégio Estadual da Paraíba, para na última esquina, aguardar uma estudante que se impressionou com seu porte, para tentar convencê-la ao namoro, era um momento sublime.

Se a coisa estivesse difícil e lhe faltasse recursos suficientes para o almoço ou jantar, recorria ao Restaurante Universitário da UEPB, na Av. Getúlio Vargas. O pagamento é claro: tinha que engraxar os sapatos dos cozinheiros, velhos fregueses dessa jovem batalhador.


Vangloriava-se de ter conhecido as belas praias de Natal, João Pessoa, Recife, mas queria mesmo era poder voltar para o Rio.

Zezim é um excelente exemplo de ingenuidade. Aliás, de uma ingenuidade que nunca morreu em determinadas pessoas, não importando o tempo em que elas vivam. 

Voltou, meio que de repente, para o Rio. Poucos meses depois retorna diferente. Lá conhecera uma mulher com quem manteve um breve romance. Ela, portadora do HIV, faleceu. Ele, retornou para seu lar no Jeremias, na sua velha cidade, Campina Grande. Cá, foi de pronto internado no Hospital Universitário. 

Qualquer conhecido que vagasse pelos corredores daquele hospital, naquela ala "específica" e o encontrasse ali, acompanhado de sua mãe, escondendo as lágrimas era dito: Zezim está com pneumonia, coisa passageira. Logo estará de volta ao trabalho! Que nada! Zezim estava entrando na fase terminal, vencido pela AIDS.

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sábado, 4 de outubro de 2014

E DEPOIS?


Amanhã (dia 05 de outubro) será o dia tão esperado por uma gama de pessoas envolvidas direta ou indiretamente com o pleito eleitoral. Uma disputa acirrada, ânimos tensos, stress, corre-corre, um verdadeiro furdunço. E o povo que diz não gostar de nada disso é o primeiro que toma partido; quem afirma detestar político é o pelotão de frente a se envolver.

Mas, eu particularmente vejo com preocupação o esforço de um sem número de pseudos profissionais metidos nos mais variados meios, especialmente os de comunicação (não todos, evidentemente), utilizando-se de todos os artifícios baixos, sem escrúpulos, fanáticos, extremistas, detratores, sobretudo, oportunistas, que buscam fazer carreira maculando imagens de políticos, numa completa irresponsabilidade.

O dinheiro que ganham pode até ser tentador para esse tipo de gente, mas no fim, não é um bom negócio. E eu vou explicar. 

Primeiro, um profissional ético, vencedor, sabe muito bem que aquele que hoje é oposição, amanhã pode ser situação. Se não ganha com este, pelo menos não perde. Outra razão simples, é que, sem saber, desmiolado que é, desce a lenha na reputação de algum candidato, virando propagandista de uma "verdade" cega, iracunda, atirando para todos os lados, mas que, na vida real, esses "ditos inimigos políticos" são os amigos que se encontram em Brasília nos melhores restaurantes e riem dessas situações bobas com enormes gargalhadas. Claro, protagonizada por acéfalos, bobão e babão que se encarna esse tipo de personagem. 

Naturalmente, os profissionais experientes, vividos, que sempre estarão no mercado e dele extrairá o melhor, sabem que o que digo é a mais pura verdade: não vale a pena denegrir, nem xingar, nem jogar lama no nome de ninguém, porque campanhas políticas não existem somente uma vez.