quarta-feira, 16 de julho de 2014

PSICOLOGIA DO ESPORTE: UM ESTUDO CIENTÍFICO DO COMPORTAMENTO DESPORTIVO


Psicologia (do grego Ψυχολογία, transl. psykhologuía, de ψυχή, psykhé, "psique", "alma", "mente" e λόγος, lógos, "palavra", "razão" ou "estudo") é ciência relativamente nova, pouco mais de cem anos de existência, e pode ser definida como a ciência do comportamento e dos processos mentais. 

Trata-se de um campo vasto que sofre constantes modificações, especializando-se por áreas. Existe a psicologia geral, a psicologia psicanalítica, comportamentalista, jurídica, social, cognitiva e humanista entre outras possibilidades. Um novíssimo ramo que está se sedimentando de forma efetiva é a psicologia dos esportes.

A psicologia do esporte consiste no estudo científico do comportamento humano em contextos esportivos e de exercício, bem como na aplicação prática desse conhecimento nos ambientes de atividade física (GILL; WILLIAMS, 2008).

Na atualidade, com a evolução da psicologia geral, e da psicologia do esporte em particular, é reconhecido o valor dos métodos e das técnicas de avaliação dos parâmetros psicológicos, consideradas atividades altamente especializadas, com ênfase na avaliação e não na testagem. O objetivo principal dessas atividades é avaliar a uniformidade de indivíduos em aspectos essenciais e, por meio de classificação comparativa, observar um indivíduo quanto aos parâmetros da faixa etária a que pertence.

Para a Federação Europeia de Psicologia do Esporte (European Federation of Sports Psychology – FEPSAC), o foco da investigação da psicologia do exercício e do esporte encontra-se nas diferentes dimensões psicológicas da conduta humana: afetiva, cognitiva, motivadora ou sensório-motora (BECKER JÚNIOR, 2000).

A trajetória histórica da psicologia do exercício e do esporte pode ser sintetizada em seis períodos, conforme Weinberg e Gould (2008):

a) os primeiros anos (1895-1920) – o psicólogo Norman Triplett (1861-1931) foi o precursor da psicologia do esporte na América do Norte. Em 1897, ele investigou em que ocasião os ciclistas pedalavam mais rápido, se acompanhados ou sozinhos;

b) a era Griffith (1921-1938) – Coleman Griffith (1893-1966) é considerado o pai da psicologia do esporte nos Estados Unidos. Ele desenvolveu o primeiro laboratório desse ramo da psicologia e publicou dois livros clássicos: “Psychology of Coaching” (1926), no qual discutiu os problemas levantados pelos métodos de treinamento da época, e “Psychology of Athletics” (1928);

c) preparação para o futuro (1939-1965) – no Brasil, a psicologia do esporte teve início na década de 1950, quando o psicólogo João Carvalhaes implementou uma unidade de seleção de candidatos, de natureza psicotécnica, na Escola de Árbitros da Federação Paulista de Futebol (FPF). Após esse trabalho, Carvalhaes iniciou o acompanhamento psicológico dos jogadores do São Paulo Futebol Clube (COSTA, 2006). No plano mundial, o primeiro Congresso Internacional de Psicologia do Esporte foi realizado em Roma, na Itália, em 1965;

d) o estabelecimento da psicologia do esporte como disciplina acadêmica (1966-1977) – com o estabelecimento do curso superior de educação física, a psicologia do esporte passou a ser considerada uma disciplina desse curso, separando-se da disciplina de aprendizagem motora. Nessa época, surgiram as consultorias de psicólogos direcionadas a atletas e a equipes. Nos Estados Unidos, foram estabelecidas as primeiras sociedades científicas da área;

e) ciência e prática multidisciplinar na psicologia do exercício e do esporte (1978-2000) – a psicologia do exercício ganhou espaço. Nesse período, houve um aumento do número de eventos e de publicações científicas na área, que passou a contar com mais estudantes e profissionais. As pesquisas e as intervenções começaram a apresentar um viés multidisciplinar, à medida que os estudantes realizavam mais trabalhos de curso relacionados a aconselhamento e psicologia;

f ) psicologia do exercício e do esporte contemporânea (2000 até o presente) – no Brasil, psicólogos passaram a integrar equipes olímpicas e paraolímpicas. No nível mundial, observou-se um aumento da importância conferida às pesquisas em psicologia do exercício e do esporte, em virtude dos benefícios que o esporte traz à saúde e à qualidade de vida.

Grande parte dos estudos experimentais em psicologia do exercício e do esporte tem em vista dois objetivos, segundo Weinberg e Gould (2008): primeiro, entender como os fatores psicológicos afetam o desempenho físico de um indivíduo; por exemplo, como a ansiedade afeta a precisão de um jogador de basquetebol em um arremesso de lance livre; e, por conseguinte, compreender como a participação em esportes e exercícios afeta o desenvolvimento psicológico, a saúde e o bem-estar de uma pessoa; por exemplo, se existe uma relação entre o ato de correr e a redução da ansiedade e da depressão.

O profissional de psicologia tem a disposição as seguintes áreas de atuação: 

a) esporte de rendimento – a psicologia do exercício e do esporte é mais atuante no esporte de alto nível ou de alto rendimento. Nessa área, são investigados os fenômenos psicológicos determinantes do rendimento, ou seja, a psicologia é utilizada como uma ferramenta para aperfeiçoar o processo de recuperação e para otimizar o desempenho do atleta;

b) esporte educacional ou escolar – nessa área, a psicologia analisa os processos de ensino e de aprendizagem, bem como os processos de educação e de socialização. Aqui, enfoca a questão socioeducativa do esporte e do exercício;

c) esporte recreativo – tem em vista o bem-estar do indivíduo. Nessa área, a psicologia estuda os motivos, as atitudes e os interesses de grupos recreativos de diferentes faixas etárias, atuações profissionais e classes socioeconômicas;

d) esporte de reabilitação – engloba o trabalho tanto de atletas lesionados quanto de atletas deficientes físicos ou mentais. Nessa área, a psicologia investiga os aspectos preventivos e terapêuticos do esporte e do exercício.

João Batista Nunes, psicólogo e acadêmico do curso de direito.



REFERÊNCIAS 

BECKER JÚNIOR, B. Manual de psicologia do esporte & exercício. Porto Alegre: Nova Prova, 2000. COSTA, H. Resgatando a memória dos pioneiros: João Carvalhaes. Boletim Academia Paulista de Psicologia, v. 26, n. 3, p. 15-22, 2006.

GILL, D.; WILLIAMS, L. Psychological dynamics of sport and exercise. 3 ed. Champaign-IL: Human Kinetics, 2008.

WEINBERG, R.; GOULD, D. Fundamentos da psicologia do esporte e do exercício. 4. ed. Porto 36 Alegre: Artmed, 2008.