quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

JOHN BROADUS WATSON




                                                                  João Batista Nunes


Embora sua carreira acadêmica tenha sido breve, John B Watson, o fundador do comportamentalismo, foi fundamental na elaboração de uma psicologia objetiva, livre do mentalismo, e com o mesmo grau de cientificidade da física.

Quando Watson tinha treze anos, seu pai fugiu com outra mulher, para nunca mais voltar, o que magoou Watson pelo resto da sua vida. Muitos anos depois, quando Watson já era rico e famoso, o pai foi a Nova York tentar vê-lo, mas ele se recusou a encontrá-lo.

Na infância e na juventude, Watson foi descrito como um delinquente. Ele mesmo dizia ser preguiçoso e insubordinado, e nunca foi além da média necessária para passar de ano na escola. Seus professores o consideravam indolente, insolente e, às vezes, incontrolável. Ele se envolvia em brigas e foi preso duas vezes, numa delas por dar tiros em área urbana. Mesmo assim, ele se matriculou na Universidade Furman, dos batistas, em Greenville, aos dezesseis anos, decidido a ser ministro religioso.

Ele prometera à mãe, muitos anos antes, que abraçaria a vida clerical. Watson estudou filosofia, matemática, latim e grego, e esperava graduar-se em 1899 e entrar no Seminário Teológico de Princeton no outono seguinte.

Ocorreu uma coisa curiosa no último ano de Watson em Furman. Um dos professores avisou os alunos que quem entregasse o exame final com as páginas trocadas seria reprovado. Watson levou a sério o desafio, pôs a prova invertida e foi reprovado, ao menos foi assim que ele contou a história. Um exame mais recente dos dados pertinentes da história – no caso, as notas que Watson preferiu contar revela algo de sua natureza, isto é, “sua ambivalência diante do sucesso.” Sua constante luta por conquistas e aprovação era sabota com frequência por atos de pura obstinação e impulsividade, mais características de uma evitação da responsabilidade.

Watson ficou em Furman mais um ano e recebeu o grau de mestre em 1900; neese ano, porém, sua mãe faleceu, liberando-o do voto de tornar-se ministro. Em vez do seminário teológico, foi para a Universidade de Chicago. Na época, era “um jovem ambicioso, muito consciente do status social, ávido por deixar sua marca no mundo, mas totalmente confuso quanto à sua escolha de profissão e desesperadamente inseguro com relação à sua falta de meios e de sofisticação social. Ele chegou ao campus com cinquenta dólares no bolso.”  
Escolhera Chicago para pós-graduar-se em filosofia sob a direção de John Dewey, mas, passado algum tempo, considerou Dewey incompreensível. “Eu nunca soube do que ele estava falando na época”, relembrou Watson, [...] “e, infelizmente para mim, continuo não sabendo.” Seu entusiasmo pela filosofia logo diminuiu.

Interessou-se pela psicologia graças à obra de James Rowland Angell, e estudou neurologia, biologia e fisiologia com Jacques Loeb, que lhe deu a conhecer o conceito de mecanismo. Ele trabalhou em várias ocupações – garçom de uma república, tratador de ratos e assistente de zelador (suas tarefas incluíam limpar a escrivaninha de Angell).

Perto do final dos estudos, sofria ataques agudos de ansiedade e não conseguia dormir sem uma lâmpada acesa.

Em 1903, Watson se doutorou, a pessoa mais jovem a obter um doutorado na Universidade de Chicago. Embora fosse aprovado com louvor, ele relata que teve um profundo sentimento de inferioridade quando Angell e Dewey lhe disseram que seu exame doutoral não era tão bom quanto o de Helen Thompson Woolley, que se graduara dois anos antes (Woolley, apesar de sua competência, enfrentou uma considerável discriminação sexual e foi preterida na carreira acadêmica).

Nesse mesmo ano, Watson casou com uma de suas alunas, Mary Ickes, de dezenove anos, filha de uma família social e politicamente importante. Conta-se que a jovem e impressionável Mary escrevera um longo poema de amor para Watson num dos exames, em vez de responder às perguntas.

Não se sabe que nota recebeu, mas Watson ele conseguiu. Sua família se opôs ao casamento; seu irmão chamou Watson, que tivera vários casos com alunas, de “um patife egoísta e presunçoso.”

Watson permaneceu como instrutor na Universidade de Chicago até 1908. Publicou sua dissertação sobre a maturação neurológica e psicológica do rato branco e cedo demonstrou sua preferência por sujeitos animais.

Dizia Ele:

Eu nunca quis usar sujeitos humanos. Detestei servir como sujeito. Eu não gostava das instruções enfadonhas e artificiais que eram dadas aos sujeitos. Sempre me sentia pouco à vontade e agia sem naturalidade. Com os animais, eu me sentia em casa. Tinha a impressão de que. Um determinado pensamento: será que não poderei descobrir, ocorria-me cada vez mais vezes um determinado pensamento: será que não poderei descobrir, observando o seu comportamento, tudo o que os outros alunos estão descobrindo usando [observadores humanos]/?

Alguns dos professores e colegas de Watson se lembram de que ele não era bom em introspecção. Sejam quais forem os talentos especiais ou os temperamentos necessários para isso, ele não os tinha. É possível que isso tenha sido parte do ímpeto que o fez rumar na direção de uma psicologia comportamental objetiva. Afinal de contas, se ele não era bom na prática da técnica essencial do seu campo, suas perspectivas de carreira eram as piores possíveis... a não ser que ele pudesse desenvolver outra abordagem. Além disso, se a psicologia fosse uma ciência dedicada apenas ao estudo do comportamento, que, de fato, podia ser feito tanto com animais como com seres humanos, os interesses profissionais dos psicólogos animais podiam ser promovidos e introduzidos na corrente principal do campo.

Em 1908, quando se tornou elegível para um cargo de professor-assistente em Chicago, Watson recebeu a oferta de um cargo de professor efetivo na Johns Hopkins, de Baltimore.
Embora relutasse em deixar Chicago, Watson não tinha muita escolha, devido à promoção, à oportunidade de dirigir o laboratório e ao substancial aumento de salário oferecidos pela Johns Hopkins. Ali, ele passou doze anos, seu período mais produtivo para a psicologia.

O ousado Watson afirmou certa vez: 


Deem-me uma dúzia de crianças saudáveis e bem formadas e meu mundo específico para criá-las, e eu me comprometo a escolher uma delas ao acaso e treiná-la para que chegue a ser qualquer tipo de especialista que escolher: médico, advogado, artista, comerciante, e inclusive mendigo ou ladrão, sem levar nem um pouco em conta seus talentos, capacidades, tendências, habilidades, vocação ou a raça de seus antepassados (WATSON, 1930, p. 104).

REFERÊNCIAS

WATSON, J. B. Psychology as the behaviorist views it. Psychological Review, 20, pp. 158-177, 1933.

SCHULTZ, D. P. & SCHULTZ, S. E. S. História da Psicologia Moderna. 8ª ed. Revista e Ampliada. São Paulo: Cultrix, 1997.