sexta-feira, 15 de março de 2013

DEPRESSÃO E PSICANÁLISE: A MODERNIDADE TEM SEU PREÇO.



Para tornar mais clara essa discussão, talvez seja necessário lembrar o uso do termo 'homem', nesse contexto é genérico, portanto, abrangendo o gênero.

Agora sim, podemos começar afirmando tal qual abordado por estudo feito pela diligente Cristina Sousa Silva et al, o sofrimento psíquico e o esvaziamento afetivo do homem moderno têm levado a depressão. O que se observa hoje é uma nova concepção do luto e da depressão, agregada ao novo homem deste século. Um homem com inúmeras possibilidades, porém perdido, desamparado e que não sabe do que é preciso para ser suprido. Entretanto, como a psicanálise compreende os estados depressivos do homem atual?

Direto ao assunto: a depressão é um transtorno do humor com dados epidemiológicos distribuídos por faixa etária: infância, adolescência e senectude se não tratada corretamente, pode perdurar por muito tempo, com prejuízos a vida dos pacientes.

O termo “depressão” vem do latim e da junção de dois radicais: depressio e onis, que agrega a palavra depressun cujo sentido é baixo. A psicanálise tem dissertado sobre a etiologia dos quadros depressivos e se percebe a prevenção em episódio de suicídio da depressão (GABBARD, 1998).

De acordo com FREUD (1917) existe uma diferença entre luto e depressão melancólica. A perda real de um objeto refere-se ao luto. Na melancolia o objeto perdido é mais emocional que real. Além disso, segundo o autor, o paciente melancólico sente uma profunda perda de auto-estima, acompanhada de auto-acusação e culpa, enquanto que, a pessoa de luto mantém um senso de auto-estima razoavelmente estável.

Ainda de acordo com FREUD (1917) o quadro de depressão melancólica tem relação com a autodepreciação, estado em que os pacientes depressivos tendem a sentir raiva de si mesmos. Mais especificamente, a raiva é dirigida internamente pelo fato de o self do paciente se identificar com o objeto perdido (GABBARD, 1998).

FREUD (1923) acrescentou que os pacientes melancólicos tem um superego severo por relacionar a própria culpa em direção aos objetos amados. Assim, manter a dinâmica da depressão supõe ao sujeito que a instância do ego poderia matar a si próprio apenas tratando-se como um objeto. Isso implica no fato de o suicídio resultar no deslocamento de desejos destrutivos em relação a um objeto internalizado que é dirigido contra o self .

Por sua vez, MELANIE KLEIN (1996) agregou a depressão à perda do objeto amado. Os estados maníaco-depressivos podem ser reflexos da falha da infância em estabelecer objetos internos bons.

De acordo com STELLA, GOBBI, CORAZZA e COSTA, (2002) para identificar os fatores que estariam desencadeando o surgimento de um processo depressivo, ou até mesmo agravando uma depressão existente, é importante verificar se o paciente possui alguma doença clínica que esteja associada à depressão, como também o uso de alguma medicação pode causar sintomas depressivos.

O diagnóstico da depressão perpassa por várias etapas: anamnese com o paciente e a família, exame psiquiátrico, exame clínico geral, avaliação neurológica, identificação de efeitos adversos de medicamentos, exames laboratoriais e de neuroimagem. Estes são procedimentos para verificar o diagnóstico da depressão.

A depressão tem causas desconhecidas, porém, fatores genéticos, psicológicos, ambientais, anatomopatológicos e bioquímicos podem estar envolvidos na sua gênese e evolução.

Em pacientes idosos, a depressão costuma ser acompanhada por por queixas somáticas, hipocondria, baixa auto-estima, sentimentos de inutilidade, humor disfórico, tendência autodepreciativa, alteração do sono e do apetite, ideação paranóide e pensamento recorrente de suicídio. Sabe-se que nos pacientes idosos deprimidos o risco de suicídio é duas vezes maior do que nos não deprimidos (PEARSON, BROWN, 2000).

O tratamento da depressão intenciona reduzir o sofrimento psíquico causado por esta enfermidade. O paciente em tratamento diminui o risco de suicídio, melhora o estado geral dele e garante qualidade de vida.

Com relação aos distúrbios afetivos, o tratamento poderá incluir psicoterapia individual, terapia familiar, grupoterapia e psicofarmacoterapia.

Como formas de intervenção, a psicoterapêutica é indicada para o depressivo como modalidade a psicoterapia breve – minimiza o sofrimento psíquico do paciente.

A intervenção com medicações é necessária por meio dos antidepressivos. Os autores SILVA, SOUZA, MOREIRA e GENESTRA (2003) alertaram que a depressão não tratada coloca em risco a vida do paciente e eleva o sofrimento.  Por isso, o tratamento medicamentoso, na opinião dos autores, constitui o primordial da intervenção terapêutica para reduzir a duração e a intensidade dos sintomas atuais e prevenção da recidiva.

A indicação do tipo de abordagem terapêutica dependerá da precisão diagnóstica e dos riscos inerentes a cada paciente. Poderá se escolher um tratamento em consultório, ambulatório institucional ou ambiente hospitalar. No momento contemporâneo, avalia-se a necessidade do uso de psicofármacos e se associa a psicoterapia.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 


BECK, A.T; ALFORD, B.A. Depressão causas e tratamento. Porto Alegre: Artmed, 2011.

ESTEVE, F. C; GALVAN, A.L. Depressão numa contextualização contemporânea. Revista Atletheia, n.24.p. 127-135, jul./dez. 2006.

FREUD, S. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Edição standard brasileira.Volume XVII (1917-1919). Rio de Janeiro: Imago, 1996.

FREUD, S. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Edição standard brasileira.Volume XIX (1923-1925). Rio de Janeiro: Imago, 1996.

GABBARD, G.O. Psiquiatria psicodinâmica. 2ed. Porto Alegre: Artmed,1998.






sexta-feira, 8 de março de 2013

QUEM TEM FLORES MANDA FLORES...




Naquele tempo, o tempo dos coronéis, donos das enormes terras e fazendas, donos de muita gente miúda, expectadora de uma luta infindável, das velhas brigas de seus senhores, das conquistas de mais quinhão, do desfile de vaidades e ostentação; pois bem, aconteceu uma estória que foi passando de pai para filho, de boca em boca, de barbearia em barbearia, de boteco a cabaré, o dito se revivia, uns aumentavam a prosa, outros, o dito resumiam.

Era que o coroné Antonio Pereira Silva de Gusmão, cujo pai de seu pai foi o último dono de negros escravos, herdou da família a Fazenda Quixaba que tinha terras a perder de vistas. Herdou também o gênio forte, o jeito truculento e a fome voraz por mais e mais terras da região. As cabeças de boi não tinha quem contasse de tantas que ele tinha; mas, inconformado, ainda queria mais.

Certa feita, sabedor da grande festa de aniversário que seu vizinho coroné Belarmino mandara fazer, homem também de grandes posses, não tão grandes quanto Antonio Pereira, não conseguiu se conter de um sentimento que lhe consumia por dentro. Um convite lhe havia sido feito! Que audácia! 

Matutou, ruminou, pensou... Até que um sorriso satânico lhe rasgara a cara: - Já sei o que vou fazer! E, nisso, seus cabras se espantaram com tamanha gargalhada e resmungo introjetado do sisudo Antonio Pereira.  

Mandou um cabra seu pegar o par de chifres maior que tivesse na fazenda. A outro cabra mandou ir à cidade, na ligeireza de um relâmpago, à venda, comprar uma caixa de chapéu para presente. Mandou trazer uma fita vermelha, daquelas decoradas com bordados vinda da capital. Ele mesmo se empenhou em colocar os chifres arrumados na caixa, enrolou a fita e... Pronto! O presente do coroné, seu vizinho estava em ordem. Num cartão: "Com os cumprimentos do Coronel Antonio Pereira Silva de Gusmão!".

Os meses se passaram e o corené Berlamino toma conhecimento que, enfim, chega o dia da festa de aniversário de conoré Antonio Pereira. Nisto, o diligente vizinho mandou que um cabra seu fosse a cidade comprar uma caixa de chapéu para presente. O filho de Berlamino observava de perto aquela empresa. O cabra chegou e com presteza depositou a embalagem na mesa. Todos ali esperavam que o sinhozim Berlamino pagasse na mesma moeda a desfeita de Antonio Pereira, afinal, era justo que aquele diabo tivesse a mesma surpresa!

O olhar do filho do coroné Berlamino parecia petrificado acompanhando com agudeza o desenrolar do feito. De sua alma parecia emergir um estranho orgasmo, próprio daqueles que guardam intensamente o desejo da vingança.

Para a decepção da plateia ali formada, o coroné Berlamino mandou que lhe trouxessem um boquê de flores e pusessem dentro da caixa de chapéu e, com zelo adornasse com uma fita decorada, e a enviasse ao vizinho aniversariante.

Desgostoso, o filho foi tomado por um silêncio sepulcral. O pai, percebendo o sentimento de decepção extremada, perguntou qual a razão daquele rosto decaído. "Este diabo lhe afrontou publicamente com aqueles enormes chifres em forma de presente e, agora, o senhor lhe manda flores!!! Não entendo!". Ao que lhe respondeu seu pai: "Filho, guarde sempre consigo esta lição: quem tem chifres, manda chifres, quem tem flores, manda flores!"