Em algumas partes desse imenso
Brasil, suco de frutas da época, no saquinho, colocados no congelador vira sacolé, aqui no
Nordeste é conhecido como “Dim Dim”, nunca soube o porquê desse designativo.
Ainda é possível ver as placas nas casas “vendem-se Dim Dim” da fruta. Ou ainda
é possível encontrar algum rapaz andando de um lado para o outro pelo centro da
cidade ou nas praias.
Dim Dim de coco ralado,
ceriguela, manga, abacate e ai por diante. Nos campos de futebol de bairro era
venda garantida. Mas, vou lhe confidenciar uma coisa: minha experiência como
consultor de vendas desse produto foi, certa vez, inesquecível!
Eu devia ter uns 10 ou 11 anos de
idade quando mamãe comprou e me presenteou você não imagina com o quê? Pois é,
uma caixa de isopor, de tamanho médio. Devo confessar que era um empreendimento
desafiador. Mas eu estava disposto e motivado. Eu queria agradar meus pais,
fazendo-os enxergar um mim um miniaturizado homem de negócios, que como os
grandes magnatas começaram do nada quase absoluto.
Mamãe caprichou no revestimento
da caixa de isopor, vez especialmente para esse fim, um tipo de bolsa que
envolvia a caixa, com um tecido alvejado, daqueles de pano de saco de açúcar,
tudo limpo e higienizado. Era coisa que dava gosto de se ver.
Chegou o dia da estréia. Eu saí
levando aquela caixa de isopor pendurada em meu ombro por uma alça igualmente
branca. Esperei no ponto do ônibus da Cabral, ansioso para por em prática tudo
aquilo que os pensamentos de uma semana me fizera suspirar.
Impaciente, desci no final do
Monte Santo em linha reta que dava para a Rua João Pessoa, o point do comércio de Campina Grande.
Fui-me indo e vendendo até chegar no centro, até chegar próximo à Praça da
Bandeira. Seduzido por algo que me atraiu quase irresistivelmente. O objeto de
meu desejo estava dentro de uma Casa Lotérica. Não se tratava de algo relativo
a jogos, mas sim de uma televisão ligada na sessão desenho do Show da Xuxa.
Nesse tempo eu nunca poderia
imaginar que Xuxa, antes de se tornar a Rainha dos Baixinhos era na verdade
atriz de filmes, daqueles proibidos para crianças.
Naquela fatídica manhã, por volta
das 10hs, estava passando os Smurfs, aqueles bonequinhos azuis, na época minha
de criança, tão engraçados. Coloquei a caixa aos meus pés, perto do balcão e
comecei a assistir aquele desenho. Uma TV de 14”, preto e branco, pendurada no
suporte que ficava no alto da parede foi o instrumento da minha desventura como
empreendedor.
Meus olhos pareciam petrificados
diante daquele desenho. Nem sentia o desconforto de assistir olhando para cima
sem me mover nem pestanejar, acompanhando o desenrolar de cada cena. Acabado o
desenho, para minha surpresa, a caixa de isopor com Dim Dim e o dinheiro das
vendas havia sumido tão perfeitamente como um truque de mágica!
Atordoado, percebi que havia sido
roubado. Óbvio! Não tinha outra explicação! Não sabia se chorava ou se morria,
ainda percorri alguns lugares próximos perguntando inutilmente por qualquer
sinal sobre a caixa. Orava com vigor e determinação, mãos suadas, coração
palpitante, com uma fé de transportar
montes, prometendo a Deus que se Ele fizesse a caixa aparecer eu faria...
faria... Não sei lá o que... Mas que Ele se apiedasse dessa alma! Sobre isso
Deus nunca me deu resposta alguma.
Cansado, forças exauridas,
sentado na Praça, vendo a tarde chegar, passei para a fase seguinte: as
explicações! Mas como me justificar diante de tamanha negligencia! E o
prejuízo? E os meus pais, como receberiam a notícia? Meu Deus!!! Uma verdadeira
tempestade de pensamento se travava dentro de mim.
Fui tomando à passos lentos o
caminho de volta. Imaginando o transtorno que a notícia poderia surtir.
Experimentando sensações ruins como as expectativas dos judeus franceses ao
ouvirem no rádio o comunicado da invasão das tropas nazistas. Um misto de
terror e apreensão a um só tempo!
Quando cheguei na soleira da
porta, mamãe me recebeu já perguntando aonde estava a caixa. Disse-lhe,
omitindo as circunstâncias, que havia sido roubado. Levaram a caixa e o
dinheiro do apurado!
- Irresponsável!!! Bradou ela a
plenos pulmões. Como papai ainda não tinha chegado do trabalho, pude sentir os
ares mais harmonizados, enfim a paz, suspirei aliviado!
Porém, uma calmaria no mar às
vezes é sinal de tempestade: Naquele dia levei uma surra de cordas de papai,
para nunca mais esquecer que o trabalho não deve ser negligenciado! Mas, hoje,
decorridos esses anos, não culpo a meu pai pela surra, nem a peça de cordas pela dor;
tenho raiva mesmo é dos malditos Smurfs.