domingo, 21 de dezembro de 2014

O ESPAÇO DE CADA UM


Fila do caixa do supermercado na sexta-feira à noite. Eis que aparece uma criatura avantajada se dirigindo diretamente a pessoa que já estava sendo atendida, dando a impressão de que estavam juntas. Do contrário, o normal era que obedecesse à fila.

De repente a criatura saca de sua bolsa um celular quadradão desses de múltiplas funções e passa a "conversar", ignorando todos à sua volta. Depois se percebe que a pessoa que estava sendo atendida no caixa não tem qualquer ligação com a intrusa. Ela vai ganhando tempo numa conversa interminável até que olha para trás e sinaliza para uma moça (possivelmente a filha) para que esta traga o carrinho de compras abarrotado de produtos e toma o lugar à frente dos demais.

A menina vai se aproximando timidamente, com um olhar meio que envergonhado, demonstrando claramente que por si jamais faria uma coisa dessa. Com a ajuda da figura que persiste em esfregar o celular na orelha, com total desprezo pelo que estão na fila, enfia o carro e vai passando os produtos, tudo isso sem largar o maldito celular.

Diante dessa cena, não há como deixar de refletir no como o mundo seria infinitamente melhor se cada pessoa respeitasse o espaço do outro em todos os sentidos, não apenas na fila de um supermercado, mas em cada detalhe que costumamos nos esquecer em nosso cotidiano.

Nas relações de tralhado, as implicações quase que desapareceriam, o colega do escritório tem seu espaço que lhe é devido e merece ser respeitado; a esposa, o marido, o filho, o colega da escola, todos têm seus espaços.

O espaço da convivialidade se divide em aquilo que representa o meu espaço e o espaço do outro. Ambos os espaços são delimitados explicitamente por normas de convivência, escritas ou convencionadas; como também implicitamente o que exigirá de uma pessoa sensata apenas acessar os recursos da lógica e obviamente, do bom senso, do bom siso para se portar de forma harmoniosa e edificante.

Vale dizer que o espaço social sendo dinâmico e marcado profundamente pelo interacionismo, ganhará mais espaço aquele ou aquela que cultivar a discrição, o respeito ao próximo, sobretudo na leitura inteligente dos limites impostos, demarcadores que indicam até onde podemos ir e quando podemos fazer ou deixar de fazer alguma intervenção pessoal. 

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

PROBLEMA OU SOLUÇÃO?




Toda vez que percebemos uma necessidade de mudança ou de uma ação motivada por um desconforto, nos vemos diante do impulso de achar um caminho para essa mudança.

A mudança implica em desconforto imediato, saída da zona de conforto de indivíduos e organizações. A mudança é o problema, o caminho é a solução. Achar esse caminho, essa solução é, certamente, um processo puro de aprendizado.

Esse processo, quando sistematizado, traz a certeza do aprimoramento dos passos para a solução de possíveis problemas futuros. O significado coloquial da palavra cria conotações problemáticas. Entendemos o termo problema como a identificação de uma oportunidade para o aprendizado e para o aprimoramento. Nesse enfoque, problema deve ser visto como algo positivo. Quem tem muitos problemas está cheio de oportunidades de aprender e de melhorar. Isso é que é otimismo, já que problema é o resultado indesejável de um processo.

O problema é uma ponte para inovar, criar novas oportunidades e expandir novos negócios. Quem cria oportunidades é criador de problemas? Esse é um ponto interessante para a reflexão dos gestores que veem certas oportunidades de aprimoramento como ameaças a seu status quo.

Todos os processos devem realimentar-se de informações, tendo como objetivo sempre seu próprio aprimoramento. Cada processo possui uma fase de controle, na qual é verificada a conformidade entre o planejado e o executado. Nessa fase, a variabilidade de um processo é mantida dentro de limites predeterminados e diz-se que o processo está sob controle.

Em muitas obras voltadas para a qualidade, são feitas referências às sete ferramentas da qualidade e também às sete ferramentas gerenciais para a qualidade – sete novas. Esses dois conjuntos de técnicas são muito importantes para a sistematização e para o aprimoramento dos processos de aprendizado.

Esses dois conjuntos de técnicas, com todas as suas variações têm sido responsáveis pelo real aumento da capacidade das pessoas em transformar seus achismos em fatos e dados, suas incertezas em confiança provendo a base para a tomada de decisão adequada em cada processo.

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

FILHOS DESTE SOLO



Pobre Lindoval. Pode-se dizer um homem desaventurado. Um tipo de mistura de negro com índio. Não sabe ler nem escrever. Para ele pouco interessa se o presidente Collor sofrerá um impeachment ou se o sumiço do constituinte Ulysses Guimarães foi ou não acidente fortuito.

Na verdade, o que interessava a Lindoval era vender os papelotes de maconha, tirar o seu que é sagrado e consumir o tempo sentado num elevado que existe numa rua de esquina com o alto do  bairro periférico onde nasceu e sempre viveu. 

A mãe era lavadeira de roupa conceituada em casa de patrões ricos. Frenquentava mais a irmã o The Salvation Army, instituição religiosa e filantrópica, criada em 1865 pelo reverendo Willian Booth em East And, Londres, Inglaterra. A pobreza sempre achou guarida nessa denominação. Periodicamente as fábricas de laticínios da Suíssa enviavam latas de cinco quilos de leite em pó e queijo da melhor qualidade em barras de 500 gramas para ser distribuída pelos membros mais pobres e inscritos que viviam na extrema pobreza.

Lindoval gozava dessa "salvação", pois a mãe sempre dava partes generosas de leite e queijo para alegria dos netos que em pouco tempo passaram de desnutridos esmilinguidos para cabeçudos e barrigudos. Nesse sentido, a vida era um sossego. A mulher ficava fielmente as tardes se inteirando de todos os assuntos corriqueiros da vizinhança (quem traiu quem, quem foi preso, quem morreu, quem foi para São Paulo etc.) mais um grupilho de mulheres igualmente desocupadas com seus filhos ora amamentando ora batendo neles para pararem de berrar.

Quando uma descuidava do marido, já era! A outra, geralmente a amiga mais próxima virava tema da tarde posterior. Mas Lindoval, sempre estava ritualisticamente no mesmo lugar, atento e operante, junto a uns amigos seus, uns caras com feições sombrias e desconfiadas.

A Polícia que não era nada besta, aqui e acolá surpreendia a turma (sob a alegação de atitudes suspeitas). A viatura apontava lá em baixo, parando de vagarinho... Mas os soldados já estavam com arma um punho enquadrando-os contra a parede. Não encontrando nada que valesse uma "carona" para a Central, para não perder o esforço tático, dava pelo menos uns tapas, gritando ao pé d'ouvido: "Vão trabalhar vagabundos! Ladrões safados, tamo ligado em vocês!"

Era sabido que vez por outra um ladrão caia nas mãos do inspetor do bairro. Um agente da lei que descia o cacete nos espinhaços do infeliz, deixando-o dias na salmora para se recuperar e nunca mais roubar qualquer morador da comunidade. Ele tinha como instrumento de trabalho um revolver calibre 38, mais o preferido era o velho e conhecido cipó de boi.

Para manter a ordem social, ao arruaceiro, descuidista, bêbado, tarado, ladrão, rapariga, bastava mencionar o ditoso "cipó de boi" para todos os astutos intentos perderem a força motivacional. Tinha ladrão que levava uma televisão daquelas grandes e pesadas de uma casa pela madrugada. Quando o relógio batia 10 horas, ele mesmo vinha devolver e se desculpar com o legítimo dono.

Continuando, Lindoval, aos domingos tinha agenda certa e determinada: o campo de pelada do bairro, bastante concorrido. Tinha os moleques vendedores de Dim-dim, pastel, um fiteiro volante de caroça de mão, onde se vendia refresco e geladinho (gelo ralado na hora com corantes diversos) e, uma cachaça braba daquelas que o cabra toma de um gole só, sem fazer careta. E, umas "doninhas do ramo" que, não sei porque vendiam mais que os outros.

A turma que frequentava o jogo era eclética. Tinha gente de bem, pai de família, trabalhador, honesto. Mas não se pode esconder o fato de que a turma da pesada era fiel. As brigas eram constantes nas decisões "mal interpretadas pelo juiz". Nessa hora, a bala cobria e a poeira levantava sem se saber exatamente quem atirou. Nos dias mais fracos, a coisa se resolvia na faca mesmo. Bastava um jogador chamar o outro do tradicional "Filho de..." que o risca faca cantava no bucho de alguém.

Num desses jogos, debaixo de um sol quente de rachar cuca, decididamente era o dia em que Lindoval deveria estar em todo o lugar, menos no campo. 

Não se sabe se foi o escorão ou o bafejar de um palavrão, o oponente abandonou o jogo de imediato em direção à sua mochila de pano com a estampa do Flamengo e arrancou-se de lá com a fúria de um touro descontrolado daqueles que vez por outra atravessa com os chifres o corpo de um besta nas ruelas da Espanha! 

À sua mão ele trazia reluzente pela força do sol uma faca peixeira com endereço certo: o bucho de Lindoval. Nessa hora todos ficam parados vendo o desenrolar do fato. Quem vai se meter num assunto desses? O cara com os olhos vermelhos como o Príncipe das Trevas, rosnando palavras de ira incontida, voou direto na "boca do estômago" do desaventurado Lindoval! 

Foi uma rasgada tão metódica, retilínea, um trabalho preciso de deixar esses estudantezinhos de medicina com nota baixa nesse item. A coisa foi feia. Feia mesmo. As tripas saltaram do bucho!

Lá vem os companheiros de Lindoval descendo a ladeira, trazendo-o numa carroça de mão às pressas para parar algum carro ou chamar um taxi para tentar salvar sua vida.

Lindoval estava firme. Queria viver a todo custo! Ele mesmo colocou as tripas de volta ao intestino e fazia pressão com as mãos para conter a abertura. Depois de um mês no hospital, lá vem o homem com uma tatuagem pegando toda a extensão do bucho, num formato de dragão Chinês.

Ele utilizou o tempo de repouso para se interiorizar. Foi a passos contidos para a Igreja Assembleia de Deus, cumprimentava os irmãos com a paz do Senhor, cantava os hinos da harpa cristã e por isso sua mãe chorava de alegria. 

Quando se recuperou de todo, deixou de jogar por motivos óbvios, nunca mais foi à igreja e a maconhazinha de lei voltou a fazer parte de seu vida. 

Mas de tanto a pessoa ficar ociosa, e as conversas perderem a novidade, Lindoval revolveu enfiar-se com outra mulher, a vizinha. Umazinha de 17 anos, mãe de três filhos que estava meio que intrigada com o marido, um branquelo lavador de carro.

Nas conversas trocadas entre as próprias mulheres, o caso amoroso de Lindoval  entrou na pauta, acidentalmente, já que a principal interessada no assunto estava presente. Ela simplesmente retirou-se sem dar uma palavra para as pareceiras. Riram-se dela, é claro. Aquela gente que também tinham histórias semelhantes, mas sempre se esquecem e gozam das novas vítimas. 

A noite caiu. O bairro foi aos poucos adormecendo. Lindoval ainda saboreando a volúpia daquela outra mulher, também foi-se entregando a um sono gostoso e tranquilo. De madrugada sentiu umas mãos despindo-o. Era a criatura de sempre, sua mulher. Resolveu se manter como que dormindo, para ver até que ponto aquela ação iria e que reações produziriam.

De repente aquelas mãos pararam. E ele na expectativa... A mulher tomada de grande cólera, despeja sobre o corpo nu de Lindoval uma panela de água fervente. Foi uma dor que arrancou um berro dos mais altos, jamais vistos no bairro. Mais uma vez, lá vai Lindoval para o hospital com parte do corpo seriamente comprometida pelo dano.

Retornando para sua casa, já quase curado de todo, não sente mais nenhum desejo de olhar para a outra, nem dirigir um "bom dia ou boa tarde", e se acontecer mais uma tragédia em sua vida será capaz de abandonar a maconha e virar crente, em definitivo. 

João Batista Nunes
Psicólogo Organizacional,
Pós-graduando em Gestão de Recursos Humanos
e acadêmico de Direito.


sábado, 8 de novembro de 2014

PARANHOS, O AMIGO DO IMPERADOR



"Mas o homem nasce para a tribulação, 
como as faíscas se levantam para voar." (Jó 5:7)


Filho de Agostinho da Silva Paranhos e de Josefa Emereciana Barreiros, José Maria da Silva Paranhos mal conheceria o pai. Agostinho morreu em dezembro de 1822, deixando Josefa Emerenciana com um doloroso encargo. Brigado com o irmão - João José - que nos últimos anos combateu sem trégua, Agostinho legou à mulher a tarefa de continuar "na agitação das demandas pendentes com o capitão João da Silva Paranhos", dura missão. 

Ao cabo de dez anos estava pobre e sem esperança. Vencida pela adversidade, com um filho gastando irresponsavelmente o resto dos haveres da mãe, reduzindo-a à miséria, morreu a triste matriarca dos Paranhos em 1839. 

Deixava três filhos: Agostinho, que acusou no testamento de ter "desfalcado em grande quantidade os seus bens"; Antonio, que destinado às armas, já em 1837 combatia a Sabinada, e seria o herói na grande Guerra do Paraguai e José Maria, que com o tio materno, Eusébio Barreiros, ia aprendendo matemática e história, garoto esperto, consolo e esperança da mãe.

Aos seis anos o menino frequentava a escola pública no adro da Igreja do Bonfim, com o professor Embiruçu Camacã coube arrematar a educação fundamental do menino José Maria. Mas o grande mestre foi o tio Eusébio, que lhe ensinava matemática com a paciência dos sábios. Homem de "raro talento e vastíssima ilustração", o tio afeiçoou-se ao sobrinho vivo, inteligente.


Sentiu sua agitação interior, previu, vaticinou. E enquanto José Maria ia estudando história, filosofia, retórica, e mais a matemática que Eusébio lhe ensinava, ia-se formando o espírito lógico, rigoroso, que mais tarde espantaria o país.


Três anos antes da morte de sua mãe, a 2 de fevereiro de 1836, José Maria embarcou na fragata "Imperatriz". Vinha da corte. A voz do tio, que estivera no Rio dirigindo a construção da Casa Forte do Arsenal de Marinha, acordara no menino, nos longos serões da Bahia, o desejo de vir conhecer o centro intelectual do Brasil que, ano após anos, atraia as melhores vocações da Província.


Pagaria, como todos que se arriscavam à grande travessia, o preço da aventura: pouco dinheiro, muito trabalho, grandes esperanças. Dava aulas particulares para se manter. Na Academia de Marinha, onde logo se inscreveu, foi promovido a guarda-marinha em 1840, aos 21 anos de idade. Em 1841 matriculou-se na Escola Militar, buscando o diploma de engenheiro. O gosto das coisas práticas o atraia, mas seu espírito matemático permaneceu rigorosamente organizado. 


Conheceu nesse ano a menina Teresa Figueiredo Faria. Tinha ela treze anos. O guarda-marinha, com 22, apaixonou-se. Chama-lhe Terezinha. Cortejou-a. Convenceu a família. E casou-se em 28 de janeiro de 1842. No fim do ano, em dezembro, era 2º tenente.


Não pensava na fama, mas em certos setores já o conheciam. Desde 1840 estava na maçonaria, que tinha no Império um grande poder político. É dessa ano a publicação de folheto, publicado por Paula de Brito, "Alguns Discursos, Recitados na Augusta e Respeitável Loja Constituição Maçônica."


No ano de 1844 estreou no jornalismo. Também a cátedra veria inaugurar-se aquela inteligência aguda. Regente da cadeira de artilharia da Academia de Marinha, tornou-se logo popularíssimo entre os alunos, que viam com prazer aquele professor de 25 anos, contrastando singularmente com os velhos mestres tradicionais. Em 1845 terminou enfim seu aprendizado profissional. Formou-se "plenamente" - com distinção - na Escola Militar. 

Era engenheiro. Podia agora enfrentar a vida abertamente, opor-lhe sua inteligência e seus conhecimentos, esforçadamente adquiridos ao longo desses anos em que aprendeu a conviver com a corte. Eusébio Barreiros havia de se orgulhar do sobrinho.

No mesmo ano, a 20 de abril, novo motivo de alegria chegava à casa dos Paranhos, na travessa do Senado, nº 08. Nasceu neste dia José Maria da Silva Paranhos Júnior¹. 

Por esse época foi-se construindo o caminho de ascensão de Paranhos aos primeiros postos do Império. Nomeado presidente da Província do Rio de Janeiro, Aureliano Coutinho chamou o amigo Paranhos para secretário. Assíduo ao trabalho, diligente, José Maria acabou conquistando uma grande autoridade, sem despertar ciúmes nem oposição. "Ilustrado, afável", ninguém lhe disputava o lugar, e ele ia-se impondo a todos pelo raro tino administrativo e capacidade de trabalho. 

Numa conjuntura política conturbada interna e externamente, em setembro de 1850, mandaram-lhe dizer que o visconde do Paraná queria lhe falar. Era o novo plenipotenciário do Brasil em Buenos Aires, líder conservador, Honório Hermeto Carneiro Leão, grande entre os grandes do 2º Reinado. Que lhe quereria dizer? Paranhos foi, entre assustado e expectante, à presença do ministro. Paraná tinha fama de ser homem de poucas palavras, poucos sorrisos. Ia tenso, mal sabia o que o esperava.

Foi grande a surpresa. O visconde tinha uma tarefa difícil: conter diplomaticamente o "blanco" Rosas, violento ditador da Argentina, cuja política em relação ao Brasil ia se tornando cada vez mais agressiva. Na missão, Paraná precisaria de um assistente dinâmico, de largas vistas, conhecedor dos problemas da região. Lera os artigos de Paranhos. Conhecia seus méritos. E, sem rodeios, oferecia-lhe o lugar. A surpresa foi total. A resposta foi pronta, decisiva como o próprio Paranhos.

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¹José Maria da Silva Paranhos Júnior, um notável brasileiro que alcançou a graça, simpatia e a amizade do Imperador, recebendo o título honorífico de "Barão do Rio Branco". Seu pai, havia recebido o título de "Visconde do Rio Branco".

sábado, 18 de outubro de 2014

ZEZIM


Zezim foi um galego, meio loiro, que morava no Bairro do Jeremias, no alto da Rua São Gonçalo em época não muito distante da nossa. Seus pais passavam o dia consumindo cachaça na bodega mais próxima o que ganhavam durante à noite. Eram catadores de lixo. A casa deles era bastante precária, a começar pelo acesso, uma escadaria íngreme, de barro escorregadio. 

Era uma vida dura, cheia de lamúria e de soluços pelos vãos da casa, suspiros das lembranças de outrora no Rio de Janeiro, donde a mãe teria vindo e aqui, juntou-se com o homem que se tornou padastro de Zezim.

Dava para se vê que aquele sujeito não poderia ser o pai de Zezim. Embora pacato, econômico nas palavras até quando estava ébrio, não tinha nada que se pudesse compará a ambos. Zezim tinha de 15 para 16 anos mas era um rapagão, de compleição física avantajada. Não bebia nem fumava. Nunca deu uma tragada de maconha nem roubou. 

Era esse rapaz um analfabeto na absoluta acepção do termo. Não sabendo ler nem escrever, trabalhava desde cedo como engraxate. 

Podia-se concluir que daquela familiar nuclear, era impossível uma convivência harmônica entre os três entes. Não pela pobreza das condições, mas sim pela ambiência conflitante que fazia o rapaz murmurar seu desejo de retornar para o "Ri-de-janeiro", donde nunca deveria ter saído.

Não sucumbia mentalmente por conta do trabalho. De segunda à sábado, engraxante; nos domingos, pelos bares, tanto de Campina quanto de João Pessoa, tocaiante de carros. Nas tardes que se dava ao prazer de ir ao Colégio Estadual da Paraíba, para na última esquina, aguardar uma estudante que se impressionou com seu porte, para tentar convencê-la ao namoro, era um momento sublime.

Se a coisa estivesse difícil e lhe faltasse recursos suficientes para o almoço ou jantar, recorria ao Restaurante Universitário da UEPB, na Av. Getúlio Vargas. O pagamento é claro: tinha que engraxar os sapatos dos cozinheiros, velhos fregueses dessa jovem batalhador.


Vangloriava-se de ter conhecido as belas praias de Natal, João Pessoa, Recife, mas queria mesmo era poder voltar para o Rio.

Zezim é um excelente exemplo de ingenuidade. Aliás, de uma ingenuidade que nunca morreu em determinadas pessoas, não importando o tempo em que elas vivam. 

Voltou, meio que de repente, para o Rio. Poucos meses depois retorna diferente. Lá conhecera uma mulher com quem manteve um breve romance. Ela, portadora do HIV, faleceu. Ele, retornou para seu lar no Jeremias, na sua velha cidade, Campina Grande. Cá, foi de pronto internado no Hospital Universitário. 

Qualquer conhecido que vagasse pelos corredores daquele hospital, naquela ala "específica" e o encontrasse ali, acompanhado de sua mãe, escondendo as lágrimas era dito: Zezim está com pneumonia, coisa passageira. Logo estará de volta ao trabalho! Que nada! Zezim estava entrando na fase terminal, vencido pela AIDS.

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Leia também:

RITINHA PARTEIRA

A DIFUSORA DE LAURA

sábado, 4 de outubro de 2014

E DEPOIS?


Amanhã (dia 05 de outubro) será o dia tão esperado por uma gama de pessoas envolvidas direta ou indiretamente com o pleito eleitoral. Uma disputa acirrada, ânimos tensos, stress, corre-corre, um verdadeiro furdunço. E o povo que diz não gostar de nada disso é o primeiro que toma partido; quem afirma detestar político é o pelotão de frente a se envolver.

Mas, eu particularmente vejo com preocupação o esforço de um sem número de pseudos profissionais metidos nos mais variados meios, especialmente os de comunicação (não todos, evidentemente), utilizando-se de todos os artifícios baixos, sem escrúpulos, fanáticos, extremistas, detratores, sobretudo, oportunistas, que buscam fazer carreira maculando imagens de políticos, numa completa irresponsabilidade.

O dinheiro que ganham pode até ser tentador para esse tipo de gente, mas no fim, não é um bom negócio. E eu vou explicar. 

Primeiro, um profissional ético, vencedor, sabe muito bem que aquele que hoje é oposição, amanhã pode ser situação. Se não ganha com este, pelo menos não perde. Outra razão simples, é que, sem saber, desmiolado que é, desce a lenha na reputação de algum candidato, virando propagandista de uma "verdade" cega, iracunda, atirando para todos os lados, mas que, na vida real, esses "ditos inimigos políticos" são os amigos que se encontram em Brasília nos melhores restaurantes e riem dessas situações bobas com enormes gargalhadas. Claro, protagonizada por acéfalos, bobão e babão que se encarna esse tipo de personagem. 

Naturalmente, os profissionais experientes, vividos, que sempre estarão no mercado e dele extrairá o melhor, sabem que o que digo é a mais pura verdade: não vale a pena denegrir, nem xingar, nem jogar lama no nome de ninguém, porque campanhas políticas não existem somente uma vez.

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

A VEREADORA DA GENTE


Não posso descer a detalhes, mas uma coisa posso afirmar, não se trata de um personagem, não. É gente de carne e osso, que inclusive está vivinha da silva. 

Trata-se da vereadora do povo! Do povo de outrora, de tempos pretéritos! Mas, mesmo assim, do povo!

Maria é o nome da bendita. Uma autêntica mulher do povo, uma vereadora de verdade. Ainda nem amanheceu direito na casa dela, e o cheiro do café já se faz sentir lá fora. Mas, dormir, dentro ou fora de campanha política não é um benefício a que Maria tinha direito. E, ela gostava. Sentia um prazer estranho de ver aquela gente maltrapilha e de todas as cores pintadas pelas vulnerabilidade social. Aqueles rostos sofridos, fitando-a esbugalhados, cheiro de desodorante vencido, guris catarrentos, êita vida duro de parlamentar era a vida de Maria.

Lá fora, sim, no meio da chuva ou se esgueirando perto de um abrigo estava sempre o povo que lhe era fiel. Vieram apertar a mão de Maria e aproveitar para descarregar sobre a edil uma série de pequenos pedidos como remédios, enxoval, ajuda para pagar água, luz, aluguel de cortiço atrasado e tantos outros reclamos que faziam a vida de Maria um verdeiro inferno. E ela gostava daquela rotina.

Maria era convidada para aniversários, batizados, crismas e tantos outros eventos que a pobreza a convidasse para ter o brilho de sua presença. Agora também tem uma coisa: no evento que não era convidada, mesmo assim, ela fazia questão de aparecer.

Se soubesse que um popular ingressou na UTI de um hospital, lá estava Maria chorando com os familiares! As lágrimas e convulsões da ilustre vereadora acabava envolvendo os presentes e tudo se convertia num verdadeiro chororô. 

Certa feita, Maria, sempre solícita, diligente, antenada, como era, jazia na sala de espera com uns dois ou três membros da família de um velhinho moribundo que faltava pouco para dar o último suspiro. O coitado tava todo entubado. Ela procurou, de pronto, saber onde podia fazer uma ligação. Informaram-lhe que era na enfermaria. 

A ligação tinha uma certa urgência e ares de suspense. "Faça-me já um requerimento para entrar na pauta da próxima sessão! Uma moção  de pesar pelo falecimento do INESQUECÍVEL e herói do desenvolvimento de nossa cidade, o senhor Ermenegildo de Sá Oliveira! 

Na sessão plenária, lá estava Maria, toda perfumada com seu contouré inebriante e com aquele batom vermelho que combinava com o vestido de babado, todo chamativo. Um moleque, pediu para que lhe entregasse um bilhete. O teor de logo foi conhecido pelos argutos olhos de Maria: Ilustríssima Vereadora. Sinto informar a Vossa Excelência que o Senhor Ermenegildo acaba de receber alta médica do Hospital e goza de plena saúde. Sem mais para o momento, seu assessor parlamentar. Maria gostava dessas formalidades até quando era dispensável.

Sem delongas, nem rodeios, nem protelações, Maria exclamou: Questão de ordem, senhor presidente!!! Peço a retirada do requerimento Moção de Pesar inscrito nessa pauta, o homem que pensava estar morrendo, recebeu alta e tá gozando de perfeita saúde!

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

TOME NOTA: MEDIAÇÃO DE CONFLITOS, UMA ÁREA DE ATUAÇÃO PROMISSORA


O conflito pode ser definido, de forma simples, como forças opostas que buscam, contrariamente a lei da física, ocupar o mesmo espaço. Parte intrínseca da natureza das coisas, no universo dos viventes o conflito impregna o mundo das relações entre seres. Novas redefinições da vida, paradigmas, visões de mundo são emolduradas pela psicodinâmica do conflito.
Portanto, como afirma Ralf Dahrendorf, "o conflito é um facto social universal e necessário", que se resolve com a mudança social. Karl Marx era da opinião que o conflito tinha a sua origem na dialéctica do materialismo e na luta de classes. E quantos mais teóricos importantes da literatura mundial poderia ser citados tratando desse mesmo importante tema.

A parte que gostaria de destacar sobre esse inesgotável assunto, conduzir-nos-á ao campo de atuação cada vez mais requerida na administração, mormente à pública, em todas as esferas: mediação de conflitos.

A complexidade dos conflitos coletivos envolvendo políticas públicas exige, cada vez mais, do Poder Público, a adoção de ferramentas de prevenção ou tratamento adequado, na esfera dos poderes Executivo e Legislativo, e a implementação de novos caminhos para resolução, em face da crescente judicialização destes conflitos e da insuficiência do processo adversarial tradicional, pensado para dar conta de conflitos atomizados, e com um paradigma voltado para o passado, para resolvê-los.


A inegável repercussão social de tais conflitos torna urgente a utilização de instrumentos capazes de dar conta destes desafios. Se eles não são os mais numerosos no âmbito do Poder Judiciário, são sem dúvida os que apresentam maiores impactos e maior relevância na sociedade civil.

Assim, a mediação de um conflito é a intervenção construtiva de um terceiro imparcial junto às partes envolvidas no conflito, com vistas à busca de uma solução que traga benefícios mútuos, construída pelas próprias partes de acordo com seus interesses essenciais. 

Pode-se compreender o fenômeno do conflito a partir de dois enfoques: 


A) a partir da forma como ele se manifesta; ou
B) a partir de suas causas.

Pela forma como se manifesta, conflitos são situações em que estejam presentes, de forma simultânea (Freitas, 2009). É no plano objetivo, um problema alocativo que incide sobre bens considerados escassos ou sobre encargos considerados necessários. No plano comportamental, contraposição no vetor de conduta entre dois sujeitos, seja de forma consciente ou inconsciente intencionais ou não-adversariais. No plano anímico ou motivacional: sujeitos com percepções diferentes sobre como tratar os problemas alocativos.  

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

TENHA CALMA!!! É APENAS MAIS UMA TENTATIVA DE GOLPE!


Passava das doze horas quando um colega de trabalho em seu apartamento recebe um telefonema. Do outro lado uma voz jovem, demonstrando controle da situação pergunta se Roberto é pai da menina Bianca, de 10 anos.

Pronto. Aqui começa uma das encenações mais frequentes do Brasil que tem vitimado centenas de pessoas num crime de extorsão¹. 

"O negócio é o seguinte, escute com atenção: acabamos de trocar tiro com a polícia aqui no Centro e pegamos sua filha como refém. O assalto não deu certo, mas estamos com sua filha e queremos R$ 20.000,00 para deixá-la viva" - continua a voz no celular. 

O trunfo dessa modalidade de crime é vulnerabilizar a pessoa que atende ao telefone, deixando tão abalado que as chances de racionar e avaliar a situação são mínimas. Um abalo emocional muito forte é sentido e a reação é quase sempre a mesma: ceder ao golpe. 

O bandido interlocutor sabe que assumiu total controle na armação, quando, na conversa, a vítima sobressaltada com "essa terrível notícia" diz: "Não faça mal algum a ela, eu vou providenciar o dinheiro!"

Nessa hora, um turbilhão de pensamentos invadem a mente da vítima ao mesmo tempo em que não a permite pensar em mais nada a não ser vê-se livre dessa situação. Mesmo que tenha alguém ali, ao seu lado, tentando falar algo, é em vão. A pessoa sai desesperada a agência bancária mais próxima para levantar a quantia exigida pelo bandido, e seguir, finalmente, todos os passos da entrega.

Quando enfim o dinheiro é repassado para o bandido que sai num carro ou moto em disparada, em poucos minutos se descobre que tudo aquilo não passou de uma manipulação emocional engendrada para extorquir a vítima e que a filha, mencionada pelo bandido como sequestrada, na verdade, acaba de ser deixada pela Kombi Escolar em sua casa, em paz e segurança, vindo de mais um dia comum de aulas do colégio. 

RECOMENDAÇÕES IMPORTANTES

Nessas horas, tomado pela surpresa de uma ligação sinistra, por mais que seja difícil, respire um pouco, tenha calma, avalie a situação por um instante.

Mantendo-se informado(a) nos noticiários sobre essas modalidades de crimes dá para identificar que as estratégias mudam mas há um padrão comportamental utilizado pelo bandido. Não se deixe dominar ou ser conduzido pelo cara que está do outro lado da linha. 

Não forneça informações sobre os membros de sua família do tipo: quantos são, os nomes, idades etc. para pessoas estranhas seja por telefone, e-mail, web. Não atenda pessoas com supostas "Pesquisas domiciliares" mesmo que apresentem supostas identificações. 

Há informações estritamente pessoais que não devem ser repassadas. É claro que pesquisas do IBGE, por exemplo, o censo, realizado a cada 10 anos, o cidadão e a cidadã tem por direito e dever fornecer as informações requeridas. Afora isso, evite receber em sua casa ou fornecer, por quaisquer meios informações.

NÃO CUSTA NADA SABER...

Fiquei impressionado com os estudos do Dr. Willian Sargant (1981) intitulado "Possessão da Mente", obra na qual fica evidenciada a temática da sugestão mental, experiência ligada a percepção das pessoas, a maneira como podemos ser influenciados em níveis impressionantes. Há indivíduos que são altamente sugestionáveis e em casos de um telefonema de um golpista, são suscetíveis de se submeter aos comandos facilmente, diferente de outros perfis.  

Autor: João Batista Nunes, psicólogo e estudante de direito.

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¹Extorsão: O Código Penal define essa modalidade de crime nos seguintes termos: "Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar fazer alguma coisa", art. 158 do Código Penal.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

PSICOLOGIA DO ESPORTE: UM ESTUDO CIENTÍFICO DO COMPORTAMENTO DESPORTIVO


Psicologia (do grego Ψυχολογία, transl. psykhologuía, de ψυχή, psykhé, "psique", "alma", "mente" e λόγος, lógos, "palavra", "razão" ou "estudo") é ciência relativamente nova, pouco mais de cem anos de existência, e pode ser definida como a ciência do comportamento e dos processos mentais. 

Trata-se de um campo vasto que sofre constantes modificações, especializando-se por áreas. Existe a psicologia geral, a psicologia psicanalítica, comportamentalista, jurídica, social, cognitiva e humanista entre outras possibilidades. Um novíssimo ramo que está se sedimentando de forma efetiva é a psicologia dos esportes.

A psicologia do esporte consiste no estudo científico do comportamento humano em contextos esportivos e de exercício, bem como na aplicação prática desse conhecimento nos ambientes de atividade física (GILL; WILLIAMS, 2008).

Na atualidade, com a evolução da psicologia geral, e da psicologia do esporte em particular, é reconhecido o valor dos métodos e das técnicas de avaliação dos parâmetros psicológicos, consideradas atividades altamente especializadas, com ênfase na avaliação e não na testagem. O objetivo principal dessas atividades é avaliar a uniformidade de indivíduos em aspectos essenciais e, por meio de classificação comparativa, observar um indivíduo quanto aos parâmetros da faixa etária a que pertence.

Para a Federação Europeia de Psicologia do Esporte (European Federation of Sports Psychology – FEPSAC), o foco da investigação da psicologia do exercício e do esporte encontra-se nas diferentes dimensões psicológicas da conduta humana: afetiva, cognitiva, motivadora ou sensório-motora (BECKER JÚNIOR, 2000).

A trajetória histórica da psicologia do exercício e do esporte pode ser sintetizada em seis períodos, conforme Weinberg e Gould (2008):

a) os primeiros anos (1895-1920) – o psicólogo Norman Triplett (1861-1931) foi o precursor da psicologia do esporte na América do Norte. Em 1897, ele investigou em que ocasião os ciclistas pedalavam mais rápido, se acompanhados ou sozinhos;

b) a era Griffith (1921-1938) – Coleman Griffith (1893-1966) é considerado o pai da psicologia do esporte nos Estados Unidos. Ele desenvolveu o primeiro laboratório desse ramo da psicologia e publicou dois livros clássicos: “Psychology of Coaching” (1926), no qual discutiu os problemas levantados pelos métodos de treinamento da época, e “Psychology of Athletics” (1928);

c) preparação para o futuro (1939-1965) – no Brasil, a psicologia do esporte teve início na década de 1950, quando o psicólogo João Carvalhaes implementou uma unidade de seleção de candidatos, de natureza psicotécnica, na Escola de Árbitros da Federação Paulista de Futebol (FPF). Após esse trabalho, Carvalhaes iniciou o acompanhamento psicológico dos jogadores do São Paulo Futebol Clube (COSTA, 2006). No plano mundial, o primeiro Congresso Internacional de Psicologia do Esporte foi realizado em Roma, na Itália, em 1965;

d) o estabelecimento da psicologia do esporte como disciplina acadêmica (1966-1977) – com o estabelecimento do curso superior de educação física, a psicologia do esporte passou a ser considerada uma disciplina desse curso, separando-se da disciplina de aprendizagem motora. Nessa época, surgiram as consultorias de psicólogos direcionadas a atletas e a equipes. Nos Estados Unidos, foram estabelecidas as primeiras sociedades científicas da área;

e) ciência e prática multidisciplinar na psicologia do exercício e do esporte (1978-2000) – a psicologia do exercício ganhou espaço. Nesse período, houve um aumento do número de eventos e de publicações científicas na área, que passou a contar com mais estudantes e profissionais. As pesquisas e as intervenções começaram a apresentar um viés multidisciplinar, à medida que os estudantes realizavam mais trabalhos de curso relacionados a aconselhamento e psicologia;

f ) psicologia do exercício e do esporte contemporânea (2000 até o presente) – no Brasil, psicólogos passaram a integrar equipes olímpicas e paraolímpicas. No nível mundial, observou-se um aumento da importância conferida às pesquisas em psicologia do exercício e do esporte, em virtude dos benefícios que o esporte traz à saúde e à qualidade de vida.

Grande parte dos estudos experimentais em psicologia do exercício e do esporte tem em vista dois objetivos, segundo Weinberg e Gould (2008): primeiro, entender como os fatores psicológicos afetam o desempenho físico de um indivíduo; por exemplo, como a ansiedade afeta a precisão de um jogador de basquetebol em um arremesso de lance livre; e, por conseguinte, compreender como a participação em esportes e exercícios afeta o desenvolvimento psicológico, a saúde e o bem-estar de uma pessoa; por exemplo, se existe uma relação entre o ato de correr e a redução da ansiedade e da depressão.

O profissional de psicologia tem a disposição as seguintes áreas de atuação: 

a) esporte de rendimento – a psicologia do exercício e do esporte é mais atuante no esporte de alto nível ou de alto rendimento. Nessa área, são investigados os fenômenos psicológicos determinantes do rendimento, ou seja, a psicologia é utilizada como uma ferramenta para aperfeiçoar o processo de recuperação e para otimizar o desempenho do atleta;

b) esporte educacional ou escolar – nessa área, a psicologia analisa os processos de ensino e de aprendizagem, bem como os processos de educação e de socialização. Aqui, enfoca a questão socioeducativa do esporte e do exercício;

c) esporte recreativo – tem em vista o bem-estar do indivíduo. Nessa área, a psicologia estuda os motivos, as atitudes e os interesses de grupos recreativos de diferentes faixas etárias, atuações profissionais e classes socioeconômicas;

d) esporte de reabilitação – engloba o trabalho tanto de atletas lesionados quanto de atletas deficientes físicos ou mentais. Nessa área, a psicologia investiga os aspectos preventivos e terapêuticos do esporte e do exercício.

João Batista Nunes, psicólogo e acadêmico do curso de direito.



REFERÊNCIAS 

BECKER JÚNIOR, B. Manual de psicologia do esporte & exercício. Porto Alegre: Nova Prova, 2000. COSTA, H. Resgatando a memória dos pioneiros: João Carvalhaes. Boletim Academia Paulista de Psicologia, v. 26, n. 3, p. 15-22, 2006.

GILL, D.; WILLIAMS, L. Psychological dynamics of sport and exercise. 3 ed. Champaign-IL: Human Kinetics, 2008.

WEINBERG, R.; GOULD, D. Fundamentos da psicologia do esporte e do exercício. 4. ed. Porto 36 Alegre: Artmed, 2008.

sábado, 21 de junho de 2014

ENSAIO SOBRE O LESBIANISMO


O neurologista e psiquiatra austríaco Sigmund Freud (1856-1939) escandalizou a Europa, principalmente o meio mais puritano e moralista do século XIX, ao teorizar sobre a sexualidade humana, um assunto que até então as ciências humanas não ousavam tocar.

Devo admitir que, para falar sobre certos assuntos, num rigoroso ambiente intelectual da época, exigiria coragem de qualquer um, mas Freud transpôs todos os limites ao ponto de ser satanizado e ter seus escritos rebaixados, por não poucos, à categoria das obras perversas, ou seja, um louco pervertido a serviço do desmonte da moral, virtude e bons costumes.

Mas, inequivocamente, deveu-se a Freud o crédito de ter provocado o mundo acerca dos vários aspectos que envolvem a sexualidade humana, os quais subjaziam nos porões e demais lugares obscuros de uma sociedade regida pelas conveniências das convenções sociais. Coisa assemelhada ao pai que espanca severamente e expulsa do aconchego familiar a filha que se descobre não mais virgem e, esse mesmo pai tão moralista é o mesmo freguês incorrigível dos bordéis da cidade. 

Ou daquele clérigo que não hesita em excomungar um pobre coitado por desobediência a algum preceito religioso, mas esse mesmo sacerdote se vê enredado pela volúpia e atração irrefreável por alguns sob sua liderança.

Enfim, Freud ousou afirmar, no escopo de sua teoria da sexualidade (Leipzig e Viena, 1905, mais tarde, publicado e traduzido pela editora Standart, 24 volumes, sob a direção geral do Dr. Jaime Salomão) que o desvio da pulsão sexual de seu objeto incorreria, entre outras modalidades de desvios, no comportamento sexual invertido. 

Em relação ao objeto, tem-se que seria o canal de indução do desejo sexual, neste caso, o homem sente desejo sexual pela mulher, e esta por ele. Quando não se dá nesse nível, essa pulsão ou instinto sexual é desviado para outro objeto, o do mesmo sexo, podendo ser uma relação homem a homem ou mulher com mulher, onde indivíduos buscam a plena satisfação e correspondência do prazer sexual.

Numa explicação pouco mais complexa, a situação do comportamento do invertido ou homossexualismo se daria num nível de defesa maníaca. Uma maneira do ego se proteger face a determinadas ansiedades de ordem essencialmente paranóide, mas também depressiva. 

No que se refere às defesas maníacas a psicanálise nos permite supor, tal como abordara Melanie Klein, que elas surgem já na posição esquizo-paranóide e que estão também presentes na posição depressiva; por esta razão, as defesas maníacas podem relacionar-se às ansiedades - e mecanismos - tanto paranóides como depressivas. 

O adensamento dessa discussão freudiana culminará com os "Três ensaios sobre a sexualidade", nos quais o homossexualismo assume o caráter de um "comportamento invertido", como já frisado, e que varia grandemente sob diversos aspectos. 

Pode ser o invertido absoluto, no qual se estabelece a escolha do objeto sexual exclusivamente a partir de seu próprio sexo (essa escolha decorre de uma origem narcísica). 

Podem haver também os invertidos anfigênicos, ou seja, os hermafroditas psicossexuais; nesse caso seus objetos sexuais tanto podem ser do mesmo sexo como do sexo oposto, não possuindo a característica da exclusividade. 

Existem também os invertidos ocasionais, os expostos às influências de certas condições exteriores, como por exemplo, os presidiários, que na falta do objeto sexual normal (termo utilizado por Freud), obtém prazer com o objeto do mesmo sexo.

Em síntese: os invertidos absolutos, em muitos casos, assim que se autodescobrem homossexuais o sentimento predominante chega a ser, em muitos casos, de completa aversão ao sexo oposto; ao passo que os anfigênicos, hermafroditas psicossexuais se identificam com a bissexualidade, tendendo a pender predominantemente para um sexo, mas, não negando a possibilidade de se satisfazer plenamente com o outro. Não se constituindo em regras fixas de comportamento, é claro; e, os invertidos ocasionais, são aqueles ou aquelas que, por carência afetiva, ou alguma outra forma de envolvimento, de maneira fortuita, pouco frequente, são envolvidos em experiências sexuais homoafetivas. Geralmente, nesses casos, há sempre um cenário propício e convidativo. 

Representações iconográficas apontam o lesbianismo, se permitido ou não pelas sociedades, não se há como delimitar com exatidão, como uma prática de tempos imemoriais. 

Phillipe Àries pontuou esse e outros comportamento em "História da Vida Privada", volumes 1,2 e 3, comprovando uma prática, de fato, bastante antiga.

Porquê essas considerações sobre o lesbianismo? Porque não se pode esconder o fascínio existente desde o explicitado pela antropologia cultural, quando das fases nas quais o matriarcalismo era aqui e acolá, dominante. 

O germe dessa dominância produziu um ser que a cultura falocrática fez questão de pintar como "sexo frágil", e tal rótulo tem escondido várias facetas dessa implicação. A mulher consegue de comunicar de múltiplas maneiras, dentre as quais, os olhos se constituem ótimos exemplos. 

No jogo sexual, ela é paciente. Capaz de passar, de forma preliminar, vários minutos de contemplação da parceira, cercando-a de elogios e explorando exatamente as regiões mais prazerosas do corpo. Existe um cultuamento do corpo que se traduz como um componente essencial no longo percurso do clímax, do pico máximo de prazer.

O encontro de olhares, as carícias, a contemplação, o beijo prologado convergem igualmente para a direção do pleno prazer. É nesse item que muitos homens têm perdido a batalha da conquista, muitas vezes para outra mulher. 

Estudo de caso: KMC (21 anos) diz que teve sua primeira experiência sexual com outra mulher, quando na adolescência, na casa da amiga, aonde bebeu e foi convidada a tomar banho juntas. As carícias começaram por parte da amiga e a sensação de prazer logo se tornou maior que a apreensão primeira em relação a tudo que estava acontecendo naquela ocasião. Ela afirmou que namora com um rapaz, mas não dispensa o prazer lésbico.

CRC (26 anos)  Após um beijo na boca dado por uma professora ensino fundamental, "descobriu-se lésbica" e todas as suas experiências sexuais tem sido com mulheres.

ACV (41 anos) Depois de 19 anos de casamento, teve sua experiência sexual com a vizinha lésbica. Desde então, deixou o marido e passou a viver com ela noutra cidade.

As experiências sexuais com outra mulher tendem a ser, de acordo com pesquisa do comportamento sexual feminino, desenvolvida por importante Centro Médico Francês (1979) decisivas para modelagem comportamental. Geralmente tem como componente favorável a carência afetiva sentida por uma das partes, supridas a contento. 

Por fim, hipoteticamente, quando a mulher tem desenvolvida uma compreensão segura do que realmente quer para sua vida, e sobre o assunto é um pouco mais inteirada, tende a ser uma conquista lésbica quase impossível se processar.

No jogo simbólico, ao contrário do homoafetivo masculino, a lésbica sempre terá a necessidade de (esgotadas todas as manobras sexuais que no início da relação dão enormes espasmos de prazer que se desgastam caindo na mesmice) de recorrer a um substituto do pênis, pois a relação termina notando a ausência insubstituível da penetração. Dai as empresas do ramo se especializarem em reproduzir todos os tipos de pênis de látex (do simples ao sofisticado) para atender aos gostos mais exigentes.

No jogo da conquista, como as demonstrações de afeto e carinho entre mulheres são comuns, naturais, espontâneas, o processo de conquista homoafetivo é algo que, em muitos casos, chega  a ser camuflado levando-se o tempo julgado necessário a todo um percurso, ou pelo receio de como a outra - até então alheia a esse sentimento específico e incomum para ela - irá reagir; ou por outras razões mais complicadas envolvendo a pessoa-alvo. 

A camuflagem é tão tênue que, comportamentos afetivos vão-se evoluindo do convencional ao estritamente prazer-erótico. Nesse estágio, a outra - por mais "bobinha" que tentou demonstrar ser, já percebe que se trata, na verdade de uma conquista lésbica. 

Do contrário, a reação é de nojo, repugnância e total desacordo, gerando-se um clima extremamente desagradável tanto para uma como para outra, quando a relação era de amizade duradoura.

Mas uma tática infalível para se vencer as barreiras do senso moral estruturadas através das regras de convivência familiar, social e religiosa é a de se conquistar através dos encontros entre amigas regado à bebidas. Busca-se vencer resistências quando se atinge a embriaguez. As experiências sexuais lésbicas, neste caso, podem produzir dois efeitos: a pessoa se envolve e "curte" e passa a dar largueza a esse tipo de relação, de forma plena ou parcial, no caso da relação bissexual, ou a pessoa "curtiu" a experiência, mas a pulsão sexual hetero predominou.


O Autor: João Batista Nunes é psicólogo, pós-graduando em GRH e acadêmico do curso de Direito.

Fontes Bibliográficas 

Buhler C. A Psicologia na Vida do Nosso Tempo. Lisboa: Fundação Caloust Gulbenkian, 1962;

Schultz, D. & Schultz, S. História da Psicologia Moderna. São Paulo: Editora Cultrix, 1981.


quarta-feira, 11 de junho de 2014

A GEOPOLÍTICA EM TORNO DA ÁGUA


"Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos... 
A caatinga estendia-se de um vermelho indeciso salpicado de 
manchas brancas que eram ossadas. 
Miudinhas, perdidas no deserto queimado, os fugitivos agarraram-se, 
somaram as suas desgraças e os seus pavores."¹ 



A história das guerras tem sido, via de regra, produzida em torno da geopolítica e geoestratégia, embora, esses termos sejam modernos, mas sua essência remonta períodos imemoriais. A luta por espaços privilegiados, riquezas e recursos naturais levaram cidades-estados a invadir outros domínios. Nações que, sob pretextos pré-fabricados, declararam guerras visando estruturar a hegemonia não o faziam sem que, intimamente, tivessem reais motivações não declaradas.

Disputa por mercados, ampliação de territórios, domínio do petróleo parecem questões que se apequenam diante do cenário mundial que se projeta e se confirma: a escassez de água em nível global.

A ÁGUA doce, por ser um bem cada vez mais escasso - somente 0,07% é acessível ao consumo humano - , vem se transformando em preciosa e cobiçada commodity mundial. Atualmente, o preço médio da água encanada no mundo é US$ 1,80 por m3.

Hoje, 1,6 bilhão de pessoas grave insuficiência de água e 2,6 bilhões não dispõem de saneamento básico. Dados do international Water Management Institute (IWMI) mostram que no ano 2025 mais de 30% da população mundial, 1,8 bilhão de pessoas de diversos países, deverá viver com absoluta falta de água.

Há em curso uma disputa pelo controle e acesso à água potável, movida pela lógica de que aquele que detiver este controle terá um poder de vida ou de morte sobre milhões e milhões de pessoas.

Isto porque quanto mais a água for escassa e rara, mas frequentes e numerosos serão os conflitos e as guerras intra-nação e internações por ela. Neste contexto, água não mais será uma fonte de paz e cooperação, mas de guerra e rivalidade. O futuro corre o risco de ter uma economia da água baseada em competição pela sobrevivência. É a petrolização da água.
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¹Graciliano Ramos in Vidas Secas, 1938.

João Batista Nunes formado em psicologia, estudante de direito e pós-graduando em GRH.

domingo, 27 de abril de 2014

A PARTICIPAÇÃO DA MULHER NO PROCESSO POLÍTICO BRASILEIRO-UM OLHAR GENDRADO


Na discussão de gênero e do papel ativo feminista que busca avançar rumo a cristalização de uma consciência harmonizada com os reais valores sociais de igualdade entre homens e mulheres, eis que surge o vocábulo 'gendrado', identificador dessa significativa militância.

Diz-se que uma pessoa gendrada é aquela inserida na dinâmica social e cultural relacionada à experiência sexuada, aos valores, regras, normas e demais vinculações ligadas a essa experiência. Logo, "olhar gendrado é um olhar voltado para o gênero e não para o sexo homem e mulher, ou seja, um olhar em torno de um conjunto de ideias sobre o que É SER UMA MULHER e o que É SER UM HOMEM nos padrões que definem o que é socialmente considerado feminino e masculino"¹.

No olhar gendrado se baseia o movimento feminista, que pode ser conceituado como "uma doutrina ou movimento social que professa a ideia de liberdade e igualdade, tendo a frente mulheres e volta-se, em especial, à crítica das desigualdades entre os sexos e as formas desiguais de relacionamentos sociais"².

No Brasil, a lula pela educação e o direito ao voto caracterizou o feminismo na segundo metade do século XIX. Nesse contexto foram criados vários jornais feministas: em 1852, o Jornal das Senhoras; em 1873, o Sexo Feminino; e, em 1880, a Revista Família. Todos tratavam de questões ligadas à emancipação feminina.

Nísia Floresta Brasileira Augusta era o pseudônimo da potiguar Dionísia Gonçalves Pinto, nascida em 12 de outubro de 1810 e já em 1831 estreava no jornal Espelho das Brasileiras escrevendo artigos sobre a condição feminina. Em 1832 publica em Recife seu primeiro livro: Direitos das mulheres e injustiça dos homens, reeditado posteriormente em Porto Alegre em 1833 e em 1839 sai a terceira edição, dessa vez publicada no Rio de Janeiro. Em 1838 cria um colégio feminino no Rio de Janeiro e em 1842 sai a primeira edição do livro Conselhos à minha filha. Nísia faleceu em 1885 em Bonsecours, interior da França onde residia, após publicar muitos livros e artigos em vários idiomas, em sua maioria tratando da condição feminina.

O MOVIMENTO SUFRAGISTA

Em 1880, ainda sob o Império, a dentista baiana Isabel de Mattos Dillon, requereu da justiça seu alistamento como eleitora e conseguiu ganhar a demanda em segunda instancia. Mais tarde, Isabel Dillon tentou candidatar-se à primeira Constituinte Republicana. Sua pretensão foi rechaçada pelo Ministro do Interior do Governo Provisório, Cesário Alvim, através do decreto Nº 511 de junho de 1890, que apesar de não restringir explicitamente o voto feminino, na prática, esse regulamento excluiu as mulheres do conceito de “cidadão”.

O sufragismo brasileiro - alimentou as aspirações femininas pela conquista de direitos jurídicos/políticos. Para conquistar o voto feminino, as sufragistas realizaram várias manifestações, em especial, no âmbito do Parlamento. Por meio da atuação de alguns deputados, muitos projetos foram apresentados visando garantir o direito de voto às mulheres, todos eles rechaçados.

Mas foi apenas com a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, criada em 1922, sob a liderança de Bertha Lutz que a luta sufragista ganhou um maior impulso, chegando à conquista do voto feminino.

O direito de voto para as mulheres foi estabelecido, por fim, em 1932, como o Decreto nº 21.176de 24 de fevereiro, que regulava em todo o país o alistamento eleitoral e as eleições federais, estaduais e municipais. O direito de voto foi incorporado a Constituição de março de 1934, no art. 108, com o seguinte texto: “São eleitores os brasileiros de um ou outro sexo, maiores de 18 anos, que se alistarem na forma da lei”.

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¹CEFOR-Câmara dos Deputados, 2014.
² BARSTED; ALVES, 1987, P. 206.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

O PENSAMENTO ESTRATÉGICO

O pensamento ou pensar é um processo cognitivo primário e complexo, objeto de estudo de vários filósofos, fisiologistas e psicólogos ganhando força no século XIX, mas sempre mantendo um olhar no passado histórico. Ao longo da história, filósofos, matemáticos, biólogos e outros pesquisadores se interessaram pelas capacidades mentais que os seres humanos possuem. Platão e Aristóteles, por exemplo, já teorizavam sobre o pensamento e a memória, partindo de sua base empírica. Portanto, um longo caminho se processou para que hoje tivéssemos, dentro ainda de grandes limitações, uma compreensão razoável sobre o pensamento, esse processo mental tão importante para nossas vidas, em todos os sentidos e aplicações.

  


sábado, 19 de abril de 2014

SOMOS HI:TECH, MAS DEPENDENTES DA ECONOMIA FÓSSIL


Lendo uma das sumidades na área de energias renováveis, o Dr. Hermann Scheer, autor de "Economia Solar Global - Estratégias para a modernidade ecológica" (2011), editado pelo Centro de Referências para Energia Solar e Eólica Sérgio de Salvo Brito - CRESESB/Cepel, vim a compreender um pouco mais de perto acerca de um assunto tão premente para o alargamento de nossa visão crítica. De fato, podemos até ser uma sociedade hi:tech em vários setores do engenho humano, mas, sem dúvida, somos predominantemente dependentes da economia fóssil, aquela que se alimenta dos insumos que a indústria transforma em combustíveis altamente, comprometedores para a construção de uma sociedade sustentável.

A economia mundial baseia-se em recursos energéticos não renováveis como o carvão, o petróleo, o gás e o urânio, cuja utilização tem consequências catastróficas para o homem e para o ambiente, provocando a já acelerada extinção dos recursos do planeta.

Como destacado pelo autor, "qualificar a economia mundial como fóssil justifica-se pelo fato que o abastecimento em escala planetária realiza-se em sua maioria, com energias  fósseis, das quais dependem quase todas as atividades da humanidade[...]", op. cit. , p. 191). 

O que somos e até onde podemos ir está relacionada a opção de uma determinada base de recursos que traduzem a importância fundamental para o desenvolvimento econômico e, consequentemente, para a evolução da sociedade. 

Para se ter uma ideia do panorama do consumo energético, de acordo com estatísticas, o consumo mundial de energia se baseia em cerca de 32% na combustão de petróleo, cerca de 25% na combustão de carvão, cerca de 17% na combustão de gás natural, cerca de 5% no uso de combustível nuclear e cerca de 14% na queima de biomassa - com a particularidade de que esta queima tem sido acompanhada por um processo de regeneração em pequena proporção. Somente 6% do consumo total está coberto pela força hidráulica. 

Uma das principais teses defendidas pelo Dr. Scheer é a de que a civilização mundial somente poderá escapar da armadilha dos recursos fósseis se fizer todo o possível para começar, sem demora, a substituí-los por recursos renováveis e compatíveis com a natureza a fim de tornar-se independente daqueles.

Assim, por que não a energia solar? Uma economia planetária permite satisfazer o conjunto das necessidades de energia e matérias-primas graças ao uso de fontes energéticas e materiais de tipo solar. "O potencial inesgotável das energias solares ou renováveis engloba a luz e o calor do Sol, as ondas e os ventos, a força hidráulica, a energia procedente das plantas e outras substâncias."

Os materiais de origem vegetal também têm caráter solar, pois são produzidos pelo Sol através da fotossíntese. Os termos usuais para designá-los são: biomassa, materiais recicláveis, materiais ou biógenos. 

Para o autor, num entanto, o nome coletivo de matérias-primas solares, que não apenas ressalta sua procedência direta, mas também faz alusão à alternativa que pode e deve conduzir de energias e materiais fósseis àqueles que o Sol produz continuamente e em sintonia com a natureza. 

quinta-feira, 20 de março de 2014

EU FAÇO DIREITO NA CAVERNA DE PLATÃO!


Na sala lotada, reina o calor. Ar-condicionado sem manutenção. Janelas abertas, criando uma ambiência conflitiva entre o som automotivo do churrasquinho lá fora e aula da professora aqui dentro. Uma explanação de alta relevância constitucional é, de repente solapada, por um fuzuê externo incompatível que rouba a cena, induz, misturando-se com a barrulheira provocada por aquele estímulo. 

Afora isto, tudo bem. Isto é, quase tudo bem... 

Eu faço Direito na Caverna de Platão! Uma instituição de ensino superior super inflada com alunos do FIES - Fundo de Financiamento Estudantil cada vez mais lotando os corredores e salas, ao ponto de estarem tão apinhadas de gente que os mosquitos se ressentem da falta de espaço!


Um diagnóstico da estrutura organizacional interna e externa revelou que a Caverna de Platão deixa muita a desejar.

Como ponto positivo merece destaque o elenco de professores excelentes, que esforçam para desempenharem seu papel mesmo em face de tantas limitações. 

Sendo uma empresa de natureza familiar, ficou patente na análise que não há espaço para desenvolvimento do profissional competente ascender, ou propor mudanças, avançar, dar feições empresariais que confiram qualidade. É nesse ponto que se observa sérios problemas ligados ao clima organizacional, um dos pilares do sucesso na empresa.

Nota-se uma completa desarmonia com o ideal de qualidade de uma empresa séria! Não se tem um sistema de gerencialmente de informação eficaz. O portal de instituição não funciona na parte de intranet prejudicando professores e alunos. Não há segurança no perímetro, apenas um "faz-de-conta". Um acumulo de carros num vasto estacionamento improvisado em terrenos, boa parte das ruas com péssima iluminação, uma situação preocupante!

João B Nunes
Psicólogo e Estudante de Direito