sábado, 28 de dezembro de 2019

CADÊ O DINHEIRO QUE TAVA AQUI?



Muito já se escreveu sobre qual seria o futuro do dinheiro tal como o conhecemos, feito de papel moeda. Imagine como será pensar num tempo um pouco mais adiante quão estranho era ter que sair de casa para acessar a conta bancária num terminal de autoatendimento instalado numa farmácia ou outro estabelecimento comercial para sacar algumas notas e saldar alguma dívida ou comprar uma pizza.

Com certeza vamos nos lembrar que a ideia trazida pelos bitcoins e outras criptomoedas parecia coisa restrita a investidores acostumados com as novidades do mundo financeiro, e portanto, familiarizados com as transações tecnológicas.

Talvez iremos rir diante da evolução que chegou à velocidade de mil terabytes e nos domesticou a todos, ajustando-nos ao modus do sistema financeiro 100% virtual, como era a representação simbólica contida naquelas notas de papel moeda que utilizávamos e não nos dávamos conta.

Não tendo que utilizar o papel moeda, de pronto, deixará de existir os bancos e casas de cambio espalhadas pelo mundo inteiro. O tilintar de moedas só será possível nos filmes que retratem aquele tempo passado, mas que não tão pretérito assim.

É provável que passemos a lidar com conceitos de crédito aplicável ao ganho financeiro, e assim, o salário seria computado não mais em termos de valores. Mas, acho que nesse estágio, o mundo estaria muito mais avançado, vencendo as barreiras globais de ajustes tecnológicos.

Desaparecendo o dinheiro do mundo os quartéis de drogas terão dificuldades para se manterem ativos, pois a segurança de trâmites de riquezas nacionais e internacionais estarão mais seguros e facilmente detectáveis. As operações de grande volume de riquezas e seus destinatários estarão na mira de órgãos detectores de crimes contra a economia e, nesta tacada, ilícitos fraudulentos tenderão a enfraquecer estruturas de corrupção em todos os países, deixando-as na rota de extinção.

O Estado, nesse aspecto, nunca deixará de ser intervencionista, porque saberá dizer o quanto determinado cidadão enriqueceu/empobreceu e o tempo decorrido dessa ou daquela mudança de status.

Obras faraónicas não terão mais sentido, nem serviços e produtos deixarão de traduzir o nível de satisfação para o qual foram destinados por falta de recursos ou desvios, pois o domínio virtual de valores não permitirá operações que crie desarmonia entre a concepção do projeto, execução e avaliação.

É bobagem pensar que o cidadão precisará portar um smartphone ou tablete, ou ter um computador por perto, já que, a massificação do sistema de créditos virtual exigirá a implantação de terminais em todos os estabelecimentos comerciais, órgãos públicos e privados, logradouros de grande circulação de públicos.

Num sistema integrado globalmente, não importa se o ladrão seja nativo ou de outro país, por mais longínquo que seja, qualquer operação identifica de onde o dinheiro, digo, o crédito, saiu e para onde foi, se pessoa física ou jurídica.

Desta maneira, o mercado negro que comercializa clandestinamente armas, munições, artefatos explosivos, insumos da biopirataria, artigos de artes de primeira grandeza, sofrerá um profundo golpe.

As camadas de segurança desse sistema de crédito virtual será uma chave-mestra criadora de barreiras que se transmutam variavelmente tornando as operações individuais praticamente inexpugnáveis. Por isso, a dica é para os crackers: mudem de profissão.

Se você entendeu bem este texto, pois, estamos diante da ascensão da Nova Ordem Mundial, que durante muitos tempo se esmerou para dizer que qualquer pensamento neste sentido, seria produto de pensamentos próprios dos adeptos de teorias da conspiração ou daqueles que levam a sério demais o capítulo 13 de apocalipse.

Mas, voltando a grande questão: cadê o dinheiro que estava aqui?! O gato comeu!

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

PARA ONDE VAI A TV?



O maior meio de comunicação de massa capaz de influenciar gerações, ditar modas, criar costumes, incutir ideias, gerar condicionamentos de consumos é [ou pelo menos era] a TV. Os Estados Unidos nunca mais foram os mesmos depois da exibição da primeira programação de TV em 1º de junho de 1941. Um primor do engenho humano, algo a primeira vista mágico, fascinante. 

Na TV vê-se de tudo! A rádio novela que fazia as mocinhas chorar a cada final de capítulo, a sonhar com o galã, o príncipe, desapareceu para dar lugar as telenovelas, em preto e branco, mas mesmo assim, encantador, de prender o fôlego diante da personagem algoz que sem o mínimo de escrúpulos fazia a estrela da novela sofrer até o fim. E, novela mesmo era a febre dos autores que eternizavam as cenas de mortes que se repetiam sem se saber que era o criminoso até o dia último quando todos na sala se juntavam para assistir e descobrir em meio a tanto suspense. 

Depois essas taras carentes de inovação foi perdendo lugar para novos tramas. A família pobre era sempre a temática com suas mazelas. Depois a questão da violência, da criminalidade, das drogas, da prostituição, foram sendo incrementadas nas tramas. 

Temáticas como doenças específicas bradavam por espaços inclusivos na sociedade, e isso atraia o grande público pelas cenas tão bem estudadas. 

Os tempos da ditadura militar, com os censores em cada stúdio iam cerceando aqui e ali um ato que não podia ser gravado. Depois, com a reabertura democrática, e avanço neoliberal no Brasil, o colorido das telinhas se fez acompanhar de outras atrações. Incrivelmente NENHUMA DELAS criadas originalmente da raiz cultural brasileira sem que pelo menos um ato ou cena não tenha sido inspirado ou mesmo copiado do que fazia sucesso nas TVs americanas. 

O brasileiro (principalmente a classe artística) tem uma propensão para copiar o que há lá fora e trazer para dentro da tela nacional a atração com toda a pompa de ineditismo. Parece que colocar a cuca para pensar, criar a arte do nada, mas, originalmente daqui da terrinha é algo que beira as raias do impossível. 

O dual telejornal e telenovela foi se mesclando com filmes e principalmente desenhos. A arma da publicidade nacional era conquistar todos os públicos de forma plena. Da criança ao idoso, dos gêneros melodrama ao terror, era isso que preenchia as mentes quando ninguém jamais poderia imaginar que estaríamos vivos em pleno século XXI, porque o Exterminador do Futuro, tinha numa das falas que o mundo havia acabado em 1997. Ufa! Graças a Deus eles estavam errados como a maioria dos filmes de ficção não conseguia pensar um mundo além das fronteiras do ano 2000. 

Quem poderia atinar, mesmo que à sua maneira, naquela época (uns 30 anos atrás) estaríamos hoje utilizando trocas de informações instantâneas, vídeos, imagens, sons, dados bancários, chavecos, cutucadas, curtidas, bloqueios, lives, stores, tudo isso através de um recursos virtual chamado de internet? E o que dizer das possibilidades dos smartphones que aposentou definitivamente o celular?

Sem dúvida, a TV tinha que sair desse ciclo eterno a que estava resumida a grade de programação e abrir espaços para novas atrações. Vamos inovar, criar do zero absoluto algo que crie impacto e mostra para os gringos nossa potencia artística e alto grau de originalidade? 

Nada!!! É mais fácil copiar. De que fonte? Dos gringos, pelos mesmos caminhos tomados de quando a TV era TUPY.

Então, inundou-se a grade de programação da TV brasileira, em praticamente todos os canais (exceto os canais religiosos, por razões óbvias), de temáticas que priorizam a erotizam e identidade multifacetada da sexualidade, enaltecendo a troca de papéis sexuais como que numa necessidade mais que vital de hastear a bandeira dessa ou daquela preferência sexual, fazendo com que o público mais conservador (a expressiva maioria) engolisse de goela abaixo todo o conteúdo que pouco ou nenhum interesse teriam se não fosse exposto sem pedir licença aos lares brasileiros.

Então, a tela se encheu de atrações em todos os meios artísticos mostrando Caetano Veloso beijando a boca de outro homem, Daniela Mercury fazendo declarações amorosas para sua 'esposa' com quem manter 'um casamento' oficial. O público gay trazendo sua mensagem de protesto por essa ou por aquela razão, geralmente ligada à não-discriminação etc.

Fora essas atrações, os telejornais parecem que fizeram um pacto de padronização mudando apenas os apresentadores, mas o layout permanece fiel, com poucas diferenças. Todos eles se dizem comprometido com o jornalismo sério e imparcial. 

Novelas, com cenas picantes, ou que pelo processo de absorção de conteúdos pela repetição deixaram de ser, tornando-se natural cenas de beijos e carícias gays, descobertas de tendências sexuais, "outrora sufocadas pela hipocrisia da sociedade machista" - Dizem eles. 

E, como não poderia deixar de mencionar: os taks shows, tão idênticos até no formato das canecas! A mesma dinâmica, textura, enrolation de sempre. Os programas de auditórios do domingo com inovações que se reprisam e se repetem, numa eterna falta de criatividade. Uma exploração de situações sociais vulneráveis, com enfase no nordestino, no cantor mirim pobre, na família que mora debaixo da ponte, no quadro acorda um artista que finge que não sabe que vai ser acordado. Numa mulher sofrida da periferia que sofre com a feira do rosto e falta de dentes. Pronto! Foi-se a tarde de domingo, aliás, o domingo inteiro! 

Acho que os diretores de tais programações acreditam piamente que o povo brasileiro não percebeu ainda a completa ausência de criatividade, e por isso, consumem recursos e mais recursos produzindo os mesmos conteúdos idiotizantes, sempre se remetendo a quadros que fizeram sucesso no passado, mas que já estão desgastados. 

Os reality shows é algo que se atinge uma performance de saturação simplória, brigas, agarras, machões tatuados perdidos em sua própria identidade sexual, mulheronas turbinadas de silicones sem conteúdo algum, rodas de conversas fétidas, impregnadas de traições e malignidades que nada têm a ensinar a essa nova geração, como aquela propagando do cigarro Malboro que os EUA diziam que deixava o fumante charmoso e irresistível, quando estava propagando o câncer geral na nação. 

Tudo isso se resume numa só palavra: saturação. Meu querido apresentador!!! Coloque a cabecinha para pensar um pouco! Una-se a uma equipe de visionários, pessoas inteligentes, criativas e potencialize sinergias com foco na mudança de paradigmas, porque o reuso dos velhos quadros já não consegue mais acompanhar a evolução das mentes dos telespectadores brasileiros. Como diria o saudoso Chacrinha, no auge do seu sucesso: a cabeça do brasileiro não é penico!


João Batista Nunes
joaobnunespb@hotmail.com

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

EU E O MEU EGO



Não há ninguém mais íntimo do que o nosso ego. Ele está ali onde ninguém mais além de nós podemos situá-lo. Ele bem que poderia ser nosso melhor amigo. Até certo ponto ele até se esforça para ser, afinal, se quase sempre nos comportamos de modo a supervalorizarmos traços pessoais, conquistas, sucesso etc. e etc. tem seu toque especial.

Ryan Holiday em sua obra O Ego é seu inimigo – como dominar seu pior adversário é uma excelente leitura para quem ainda não se deu conta da existência e atuação desse ente em suas vidas.

Para o autor, em qualquer momento da vida, as pessoas se encontram em um de três estágios. Estamos aspirando a algo, tentando abrir uma brecha no universo. Alcançamos o sucesso, talvez um pouco, talvez muito. Ou fracassamos, recente ou continuamente. A maioria de nós se encontra em fluxo nesses três estados, aspiramos até alcançarmos o sucesso, temos sucesso até fracassarmos ou até aspirarmos a mais, e depois que fracassamos podemos começar a aspirar a ou alcançar o sucesso outra vez.

O ego é o inimigo a cada passo do caminho. De certo modo, ele é o inimigo da construção, da manutenção e da recuperação.

A proposta do autor em relação ao que pode ser feito para estarmos um passo à frente dos ataques de nosso próprio ego é esquematizada numa estrutura que, segundo ele, poderá nos ajudar a ser: humildes em nossas aspirações; generosos em nossos sucessos; e, resilientes em nossos fracassos.

Isso não quer dizer que você não seja único e que não tenha nada de incrível com que contribuir em sua breve passagem por este planeta. Não quer dizer que não haja espaço para ultrapassar limites criativos, inventar, sentir-se inspirado ou ter mudanças e inovações verdadeiramente ambiciosas como meta. Pelo contrário: para fazermos essas coisas da melhor maneira e corrermos tais riscos, precisamos de equilíbrio. Como observou o quaker William Penn: “Construções que se encontram tão expostas às intempéries precisam de uma boa fundação.”

Pense nisso.

João B. Nunes          
joaobnunespb@hotmail.com

domingo, 10 de novembro de 2019

CONEXÕES


A vida se desenvolve entre o público e o privado dentro de uma trama social. De acordo com o dicionário Aurélio (2015), “trama” é ‘um conjunto de fios passados no sentido transversal do tear, entre os fios da urdidura.’

Partindo desse mote, a sociologia passou a falar de trama social, entrelaçamento de vivências que formam o “tecido social”. Esse tecido social é construído de conexões, ou seja, redes sociais que criamos o tempo todo (antes, muito antes, de se popularizar as ‘redes sociais’ da internet).

Do ponto de vista da psicologia, desse fenômeno social surge a homofilia, a tendência consciente ou inconsciente que cada um de nós temos, de buscar nos associar a pessoas que se, em variados graus, parecessem com a gente.

A palavra literalmente significa “amar os iguais”, o que Nicholas A. Christakis & James H. Fowler (In: O poder das Conexões, editora Campos Elservier, 2009) utiliza para demonstrar a importância do networking e como ele molda nossas vidas, indicando as implicações de escolhas, interesses e preferências compartilhadas com aquelas pessoas que escolhemos para manter nosso networking (rede de contatos).

Um exemplo clássico do que seria praticamente inviável é um torcedor frenético do Flamengo ou Coríntias querer se associar “por afinidade” a um jogador de pôquer.

Os níveis variados de contatos que temos com nossa rede social podem nos revelar que tipo de pessoa somos e quão diferentes podemos ser em relação aos demais. E aí estão as redes sociais virtuais proporcionadas pelas mídias sociais, cujos conteúdos interativos como manifestações de satisfação, desgosto, indignação etc. acabam por revelar muito do que somos, mesmo que essa não seja a intensão, obviamente.

Um ponto importante destacado por Christakis & Fowler (2009) é que podemos ser moldado pelas redes sociais, ou seja, que podemos ser afetados pela rede. Somos tão vulneráveis que os amigos dos amigos dos nossos amigos podem nos afetar na rede social. Ou reproduzimos os mesmos conteúdos de forma quase automática ou rechaçamos, mas que somos afetados, isso sim, somos.

Isto implica em dizermos que a mera forma da rede em nós não é o mais importante, naturalmente. Mas sim, o que de fato flui ao longo dessas conexões.

Em relação às redes sociais podemos ser afetados de tal forma que nos achamos enredados defendendo uma “verdade” cujo conteúdo e contexto não temos a menor ideia e fazer juízos de valor cujos fundamentos nos faltam.

Esses fatores irão contribuir apenas para nos lembrar do lado humano com suas falibilidades tão marcantes e que mesmo assim, não podemos abrir mão de nossas conexões, buscando avaliar a cada gesto em que grau estamos ou não sendo influenciados, e sobretudo, quão proveitoso e edificante poderá ser-nos uma rede de conexões mediada pela ética, fortalecimento de amizades, identificação de oportunidades de negócios, descobertas de talentos e tantas outras possibilidades, igualmente salutares.

João B Nunes   
joaobnunespb@hotmail.com

segunda-feira, 4 de novembro de 2019

ALGUÉM ESTÁ USANDO SEU WHATSAPP?


Mudam-se os tempos e as modalidades de crimes evoluem, alguns um passo à frente das modernas vantagens tecnológicas que se popularizaram como as mídias sociais facebook, instagran, twitter e whatsapp, dentre outros.

Entretanto, em todos os tempos, o que os espertalhões usam para tirar vantagens das pessoas mais desavisadas tem como ponto essencial o imediatismo das emoções.

Atualmente empresas de telefonia móvel determinam um tempo no qual o titular de um número de chip poderá utilizar seus serviços, condicionando a permanência à adesão a alguma oferta de plano ou a recargar de créditos.

Ocorre que o descuido com a manutenção do consumo, provoca a perda do número que é logo utilizado por outra pessoa, e nisso (se aquele número era utilizado na conta do whatsapp do cliente anterior, pode permanecer ativo, inclusive expondo todos os dados para pessoa estranha, que pode muito bem utilizar de má fé) a porta está aberta para uma série de possibilidades criminosas.

O procedimento básico deve ser o de configurar a conta do whatsapp para acesso em duas etapas, ativando uma senha pessoa de seis dígitos. Em caso de roubo de celular ou perda de número do chip o novo cliente não poderá acessar os dados do titular da conta dessa mídia social.

Muitas pessoas estão sendo lesadas por criminosos que passam a utilizar a conta do whatsapp da pessoa que não detém mais o número do chip que agora lhe pertence.

Enviam textos solicitando depósitos bancários, passando-se pelo dono do número anterior, e muitos familiares, amigos e/ou clientes depositam quantias em contas de terceiros sem se aperceber do golpe.
Regras básicas:

- Utilize o módulo ‘dupla confirmação’ na conta de seu whatsapp;

- Cheque a confirmação de qualquer pedido diretamente com a pessoa interessada seja telefonando e ouvindo-a sobre tal e qual pedido de depósito bancário ou quaisquer outras ações;

- Não havendo condições de falar diretamente com a pessoa interessada (como ocorreu recentemente com um senador da república, porque o criminoso, passando-se pelo parlamentar, disse que estaria numa reunião e não podia dar mais explicações, mas que estaria precisando com urgência do depósito de R$ 2.000,00), peça para tal pessoa enviar pelo mesmo texto do whatsapp uma informação que ninguém mais saberia.

- Se você perceber de cara que se trata de um golpe, peça o número da conta para efetuar o depósito e se dirija a uma delegacia de polícia mais próxima e faça um boletim de ocorrência.

A polícia tem mecanismo que possibilita rastrear o criminoso a partir de pistas que ele mesmo deixa no caminho que percorre até a consumação do crime. Por isso que é importante denunciar. 

Mas, a regra de ouro para não ser fisgado pelo golpe é sempre manter a calma, analisar a abordagem e checar se, de fato, está atendendo um pedido de uma pessoa de seu ciclo de conhecimento ou alguém fingindo ser esse alguém.

João B Nunes

sexta-feira, 1 de novembro de 2019

A SUSTENTABILIDADE DEPENDE DE NÓS


Nós fazemos parte de um todo ecossistema, portanto, desde o micro cosmo onde habitamos aos grandes mares e matas é tudo parte de um ambiente único que se interliga.

Criar uma consciência socioambiental, massificando-a nas novas gerações podem representar a sobrevivência do Planeta. 

A INTELIGÊNCIA PERCEPTUAL DA MULHER


O homem precisava se ausentar por longas distâncias para garantir uma boa caça, enquanto isso, a mulher se dedicava ao plantio de leguminosas e tubérculos que compunham a base alimentar. Não era tarefa fácil para ambos, mas para a mulher parece que a árdua missão exigia mais que se imagina. Ela tinha que cuidar dos filhos, amamentar, mantê-los aquecidos nos períodos de intensos invernos e protegê-los das feras que rondavam sua habitação.

Era preciso desenvolver uma inteligência perceptual que possibilitasse a leitura dos mínimos sinais de perigo. E de sinais a mulher entende. Mais que o homem, a mulher tem uma acuidade visual, olfativa e auditiva capaz de fazer leitura de cenário, ambiente e de pessoas. 

O olhar da mulher é sempre uma leitura, uma análise, logo vem a síntese, uma conclusão, que pode não acerta 100%, mais chega perto. Sentimentos (amor, raiva, agressividade, insatisfação etc.), intensões, comportamentos esboçados, quanto mais experiente nas vivências mais aguçada e assertiva ela se torna. 

Em tempos de acirradas competitividades ler os sinais daquilo que não é verbalizado é, sem dúvidas, uma vantagem a mais. Sinais de perigo, sinais de que deve avançar eu manter a cautela, enfim, sinais que se desdobram em sentidos que dão origem a tantos e tantos outros sentidos exigindo esse dom interpretativo e sensível (quase sensitivo) da mulher.

Os sinais, mesmo aqueles mais sutis, que ninguém mais consegue ver, a mulher os percebe passa a utilizar cada um deles como elementos que darão corpo a intuição. Intuir é algo que qualquer um pode fazer, contudo, como já frisado, a mulher sobressai. 


João Batista Nunes
Formado em psicologia e pós-graduando em GRH.

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

A ESTRUTURA DA PERSONALIDADE



Freud observou em seus pacientes uma sucessão incessante de conflitos e conciliações psíquicas. Ele viu pulsão contra pulsão, proibições sociais bloqueando pulsões biológicas, e modos de enfrentar frequentemente em conflito uns com os outros.

Foi somente ao final de sua carreira que ele organizou, para si mesmo, este aparente caos, propondo três componentes estruturais básicos da psique: o id, o ego e o superego. Embora estes termos sejam comuns na atualidade, eles são artificialmente abstratos e produzem uma impressão diferente daquela pretendida por Freud (Solms, 1998).

Suas palavras foram simples e diretas: Das es (id) significa apenas "isso", das Ich (ego) significa "eu", e das uber-Ich (superego) significa "acima do eu". É um pouco tarde para corrigir os estragos causados pela tradução inicial do trabalho de Freud. Seus escritos foram deliberadamente obscurecidos para que parecessem mais científicos, o que era bem ao gosto da mentalidade norte-americana predominante da época (Bettelheim, 1982).

O id

O id é o núcleo original de onde emerge o resto da personalidade. Ele é biológico por natureza e contém o reservatório de energia para toda a personalidade. O id propriamente dito é primitivo e desorganizado. "As leis lógicas do pensamento não se aplicam ao id" (Freud, 1933, p. 73).

Além disso, o id não se modifica à medida que crescemos e amadurecemos. O id não muda pela experiência, porque não está em contato com o mundo externo. Seus objetivos são simples e diretos: reduzir a tensão, aumentai o prazer e minimizar o desconforto. O id se esforça para fazer isso através de ações reflexas (reações automáticas como espirrar ou piscar) e pela utilização de outras porções da mente.

O id pode ser comparado a um rei cego que tem poder e autoridade absolutos, mas cujos conselheiros de confiança, principalmente o ego, lhe dizem como e onde utilizar estes poderes.

Os conteúdos do id são quase totalmente inconscientes. Eles incluem pensamentos primitivos que jamais foram conscientes e pensamentos que foram negados, considerados inaceitáveis à consciência. Segundo Freud, experiências que foram negadas ou reprimidas ainda possuem a capacidade de afetar o comportamento da pessoa com a mesma intensidade sem estarem sujeitas ao controle consciente.

O ego

O ego é a parte da psique que está em contato com a realidade externa. Ele se desenvolve a partir do id, à medida que o bebê toma ciência de sua própria identidade, para atender e aplacar as constantes demandas do id.

Para realizar isso, como a casca de uma árvore, o ego protege o id, mas também obtém energia dele. Ele tem a tarefa de garantir a saúde, segurança e sanidade da personalidade. Freud pressupunha que o ego tem diversas funções em relação tanto ao mundo exterior quanto ao mundo interior, cujos anseios ele procura satisfazer.

Suas principais características incluem o controle do movimento voluntário e as atividades que resultam em autopreservação. Ele se torna ciente dos eventos externos, relaciona os aos eventos do passado e, mediante atividade, evita a condição, adapta-se a ela ou modifica o mundo externo para torná-lo mais seguro ou mais confortável.

Para lidar com "eventos internos", ele tenta manter controle sobre "as demandas das pulsões, decidindo se elas podem obter satisfação, adiando esta satisfação para os momentos e circunstâncias favoráveis no mundo externo ou suprimindo suas excitações por completo" (1940, p. 2-3).

As atividades do ego consistem em regular o nível de tensão produzida pelos estímulos internos e externos. Um aumento de tensão é sentido como desconforto, ao passo que uma diminuição de tensão é sentida como prazer. Portanto, o ego busca o prazer e procura evitar ou minimizar a dor.

Assim, o ego é originalmente criado pelo id como tentativa de lidar com o estresse. Entretanto, para fazer isso, o ego deve, por sua vez, controlar ou modular as pulsões do id, para que a pessoa possa perseguir modos realistas de lidar com a vida.

O ato de namorar serve como exemplo de como o ego controla as pulsões sexuais. O id sente a tensão oriunda da excitação sexual insatisfeita e, sem a influência do ego, reduziria esta tensão através de atividade sexual imediata e direta.

Dentro dos limites de um namoro, contudo, o ego pode determinar quanta expressão sexual é possível e como estabelecer situações em que o contato sexual seja mais satisfatório. O id é sensível às necessidades, ao passo que o ego é sensível às oportunidades.

O superego

Esta última parte da estrutura da personalidade se desenvolve a partir do ego. O superego serve como juiz ou censor sobre as atividades e pensamentos do ego. Ele é o repositório de códigos morais, de padrões de conduta e dos construtos que formam as inibições para a personalidade. Freud descreve três funções do superego: consciência, auto-observação e formação de ideais.

Como consciência, o superego atua para restringir, proibir ou julgar a atividade consciente, mas ele também age inconscientemente. As restrições inconscientes são indiretas, aparecendo como compulsões ou proibições. "O sofredor [...] se comporta como se estivesse dominado por um senso do qual nada sabe" (1907, p. 123).

O superego desenvolve, aperfeiçoa e mantém o código moral de um indivíduo. "O superego de uma criança, na verdade, se constrói sobre o modelo, não de seus pais, mas do superego de seus pais; os conteúdos que o preenchem são os mesmos, e isso torna-se o veículo da tradição [...], as quais se propagaram dessa forma de geração para geração" (1933, p. 39). Portanto, a criança aprende não apenas os reais limites em qualquer situação, mas também as visões morais dos pais.

terça-feira, 22 de outubro de 2019

FREUD E A LIBIDO


A libido é o conceito de Sigmund Freud que designa o aspecto mental da energia sexual que está por trás das várias transformações dos impulsos sexuais. É um conceito teórico que, como veremos, foi elaborado em princípio para esclarecer as observações clinicas patológicas de pacientes neuróticos, em que as tensões sexuais associadas a ideias sexuais eram tidas como fundamentais no aparecimento da angústia e de outros sintomas. 

A libido ocupou um lugar cada vez mais importante na teoria freudiana do psiquismo e no seu desenvolvimento. Com o tempo, Freud passou a incluir observações de afecções mais psicotizantes, como a psicose maníaco-depressiva, a hipocondria e a paranoia.

O conceito de libido seria substituído pelo Eros, ao qual foi incorporado, quando Freud introduziu uma teoria da sexualidade mais ampla e correlacionada com a filosofia da Antiguidade. Podemos encarar as mudanças teóricas de Freud como uma passagem da investigação das minúcias da vida sexual dos seus pacientes para a consideração do lugar fundamental da vida e da morte na condição humana.

Na teoria freudiana das pulsões sexuais, libido é um conceito tanto “quantitativo”, relativo à quantidade hipotética de energia sexual que motiva os impulsos sexuais, quanto “qualitativo”, uma vez que a libido diz respeito especificamente às pulsões sexuais. 

Não deve ser confundido com energia psíquica na acepção geral. Segundo Freud, a libido é [...] uma força quantitativamente variável que poderia servir de medida dos processos e das transformações que ocorrem no âmbito da excitação sexual. Diferenciamos essa libido, por sua origem particular, da energia que se supõe subjacente aos processos mentais em geral, e assim também lhe atribuímos um caráter qualitativo.

A libido é, portanto, um recurso hipotético para medir os processos sexuais, uma unidade imaginária de mensuração quantitativa, é um conceito. É o que o psicanalista francês Jacques Lacan descreveu como [...] Uma quantidade que não se sabe como medir, cuja natureza se desconhece, mas que sempre se presume existir. 

Essa noção quantitativa permite unificar a variação em resultados qualitativos e da certa coerência ao modo pelo qual eles se sucedem. A noção de libido é uma forma de unificação no âmbito dos resultados psicanalíticos.

Por fim, de acordo com Freud, a libido também tem relação com a natureza do amor e do desejo, ou com luxúria e desejo sexual, que é o significado de libido em latim. E aí Freud se afasta das considerações puramente científicas para dar atenção ao campo incerto das emoções humanas.

Para além das fronteiras psicanalíticas a libido ganhou espaço no mundo jurídico ao entrar na composição dos crimes sexuais no Código Penal brasileiro, e numa concepção geral é utilizada como uma palavra que se refere à energia sexual da pessoa, manifestada de diferentes formas.

quinta-feira, 3 de outubro de 2019

CONSELHOS SOCIAIS DINÂMICOS DE CREDITAÇÃO

Por João Batista Nunes



Sem rodeios: aprenda definitivamente que nem tudo que parece ser corresponde aos fatos. Pode haver nas entrelinhas do discurso ou naquela apresentação acima de qualquer suspeita algo que se contradiz e pode guardar um abismo profundo que separa o discurso heroico da vileza e escalada destreza.

Aprendi com aquele sábio professor numa das primeiras aulas de direito penal: “a natureza humana nunca deixará de surpreender, não há limites para a maldade.”

Mesmo as ações mais ingênuas, de promoção social, de incentivos e visibilidade, de patrocínio, do que se afigura benemérito, boas práticas sustentáveis, socioambientais, socioeducacionais e inclusivas, muitas vezes podem estar maculadas por vícios e descaminhos, articulados por mente sinistra, motivada por princípios sorrateiros e desumanos.

Exemplos nos registros da história não faltam. Pessoas e instituições que foram enganadas por anos a fio se ressentem de terem deixado escapar sinais quase imperceptíveis desse nível de manipulação e exploração da credulidade.

O cerne da questão é que estamos vivendo tempos valorização da solidariedade nos seus diversos aspectos, com uma gama de temas que mexem com o muito que ainda existe de sensibilidade humana, e isto encorajado pelo fato de que existem recursos, pessoas e instituições que estão prontas a gastar, a destinar, a fazer concessões, alocações, para a promoção do bem-estar de segmentos, grupos e indivíduos. Isto porque fazer o bem, faz bem.

Considero que seja de grande relevância que você (na qualidade de pessoa física ou jurídica) observe algumas pontos de realce que devem ser levados em conta na hora de se fechar um pacote de doação ou patrocínio:

1º - vá além das informações contidas e arranjadas no projeto/proposta; conheça in loco escritório, local, equipes, pessoas próximas e em arredores, testemunhos de fornecedores etc.;

2º - sendo um empreendimento, evento, projeto a pequeno, médio e longo prazos, busque conhecer a equipe gestora. Cuidado! Ao constatar que esta ou aquela organização, ação, evento ou projeto é gerido por uma única pessoa, desconfie. Quase sempre essa pessoa é a principal beneficiária. De alguma forma obscura, ela consegue manter a coesão de grupos de pessoas, mas que, por meios subterrâneos esconde seu verdadeiro “potencial”;

3º - vá além dos demonstrativos de despesas. A maquiagem dos custos pode ir além das aparências e atitudes pseudotransparentes podem esconder ciclos viciosos entre a pessoa proponente, fornecedores e até patrocinadores da má-fé.

Uma medida antifraude eficiente seria a institucionalização de Conselhos Dinâmicos de Creditação, com membros da sociedade, com competências em contabilidade, logística, investigação fiscal, administração entre outras, para fiscalizar nos mínimos detalhes a natureza de eventos, projetos e ações de fins beneficentes, feitos com recursos de origem diversa.

O CONSELHO SOCIAL DE CREDITAÇÃO é quem iria atestar, depois de uma análise criteriosa, esmiuçada, que aquele determinado evento, naquela dado momento, nem antes nem depois, estava dentro dos conformes de transparência, realmente transparente.

A solidariedade e a participação voluntária em prol do bem comum são as atitudes que melhor definirão o presente século, mas isto não quer dizer que não se faça acompanhar de instrumentos técnicos e operativos de detecção de possíveis fraudes, ou mesmo de validação de credibilidade, investindo de autoridade, seriedade e compromisso verdadeiro com o bem-estar das causas sociais que se propõe defender, quando idealizado na primazia da transparência, não turvada, mas cristalina como manda a verdade e a justeza da probidade.

Para gestores de empreendimentos beneficentes e de bem-estar coletivo, fornecedores e patrocinadores que seguem a cartilha da ética e das boas práticas, não há o que temer. Do contrário, é bom repensar as práticas obscuras, porque a honestidade não confere lucro rápido, mas produz honra e prosperidade em todas as esferas de atuação humana.


quinta-feira, 5 de setembro de 2019

NA SEMANA DO BRASIL, UM CHAMADO À SOBERANIA


"Modus operandi* é uma expressão em latim que significa o modo de operar ou executar uma atividade seguindo, geralmente, os mesmos procedimentos. É exatamente assim que a França opera no Brasil há mais de 500 anos.

Desde o início da nossa colonização, para que houvesse a conquista desse Novo Mundo, se fazia necessário estabelecer um bom relacionamento com as tribos nativas.

Percebendo a rivalidade natural entre os novos “donos das terras”, que buscavam colonizá-la aprisionando os índios e os escravizando, os franceses exploraram uma relação descomprometida em razão de legalmente não terem direito sobre o Mundo Novo.

Contrariando o Tratado de Tordesilhas, adotavam estratégia de serem os primeiros a ocupá-la. Defendendo o princípio do direito internacional “uti possidetis”, pelo qual a terra pertence a quem dela toma posse.

O controle da população ameríndia foi decisivo na nossa colonização, sendo as alianças com as diversas tribos fator de vitória ou derrota.

Logo os franceses se aperceberam que conquistar um território tão hostil passava pelas referidas alianças.

A não homogeneidade entre as diversas tribos, em razão de não terem a mesma cultura e os mesmos costumes, apesar de algumas semelhanças, facilitou a aproximação entre eles.

Os portugueses, colonizadores, eram vistos como o inimigo maior, como explica o professor Carvalho França: “Os franceses não colonizaram a região, e é a colonização, o implantar-se na terra, que cria animosidades”.

Foi assim que, sempre através da conquista dos índios, os franceses obtiveram facilidades nas invasões e saques ao nosso Brasil. Como registro histórico desse relacionamento, temos, já em 1509, a ida de sete índios brasileiros ao porto de Rouen, levados pelo capitão Thomas Aubert.

Em 1512, aparece uma descrição do desfile dos indígenas pela cidade. “Eram originários dessa ilha que chamam Novo Mundo, e chegaram a Rouen com sua barca, seus adornos e as suas armas. Têm a cor carregada e os lábios grossos. Seus rostos são recortados por cicatrizes. Não têm pelos nem barba, nem no púbis nem em qualquer outra parte do corpo, salvo os cabelos e sobrancelhas”. Pasmo, o cronista acrescenta: “Falam pela boca”.

E continua: “Fomos e somos usados ao longo da nossa história. Nossa flora e nossa fauna foram saqueados durante todos esses séculos até os dias atuais”.

Para ilustrar o que já ocorria em 1550, transcreve narrativa do historiador Jean Marcel Carvalho França, sobre o circo tupi na França: “Por entre árvores carregadas de frutas e folhagem exuberantes, exibiam araras e papagaios, e gorjeavam diversas outras aves. Macacos e saguins corriam para o solo e dali voltavam aos seus esconderijos.”

“Ao redor, uma paliçada servia de muralha protetora. Atrás dela, estavam cerca de 300 homens de cabeleira revoltas, bronzeados e nus, ou vestidos de inocência, como descreveu Cristóvão Colombo em seu primeiro contato com os indígenas da América”.

“Os brasileiros traziam seus rostos enfeitados, suas faces e orelhas furadas e entrelaçadas de pedras longas, brancas e verdes. Uns atiravam flechas tentando acertar aves e pequenos animais, outros corriam atrás dos macacos. Ali perto, um grupo cortava madeira, que trocava por machados, foices e rastelo de ferro com marinheiros franceses”.

“De repente, um conflito: surgidos do meio da mata, Tabajaras iniciam um combate com os Tupinambás”. A batalha e o escambo, muito comuns no litoral sul da América recém-descoberta, não era lá, mas na francesa Rouen, na foz do rio Sena e capital da Normandia. De brasileiros mesmo, havia 50 indígenas, provavelmente Tupinambás, afirma o brasilianista Ferdinand Denis.

O acontecimento fazia parte da “entrada” do rei francês Henrique II e de sua mulher, Catarina de Médici, na cidade. Era uma disputa entre Lyon e Rouen, para mostrar ao rei como era a vida e os costumes dos habitantes do Brasil. Já naquela época, nós, brasileiros, em conjunto com nossa fauna e flora, divertíamos os franceses. Éramos as marionetes do palco.

Antes, em 1540, o rei Francisco I ironizou a decisão do Papa acerca do Tratado de Tordesilhas: “Gostaria de ver a cláusula do testamento de Adão que me excluiu dessa partilha”.

Não era apenas pelo pau-brasil que os franceses cobiçavam o nosso Brasil. A moeda, ducado, continha 3,5 gramas de ouro. Peles de animais estavam cotadas a 3 ducados, e papagaios que falassem francês valiam 6 ducados.

“A eterna camaradagem” dos franceses com nossos índios tinha como objetivos enfraquecer o colono português, dificultando nossa colonização; fomentar a discórdia entre as tribos rivais, incentivando as guerras entre eles; ter mão de obra local na captura de animais e na derrubada de nossas florestas de pau-brasil; tê-los como guerreiros para enfrentar os donos da terra.

Assim como há cinco séculos, assistimos hoje tudo do mesmo. Nossos cooptados caciques estão em Paris fomentando o fogo na floresta. Tudo igual, o modus operandi, as mesmas técnicas, os mesmos personagens. Nós, brasileiros, temos memória curta."

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Modus operandi é artigo publicado no dia 05 de setembro por Roberto Cavalcanti, Coluna Opinião/Correio da Paraíba.

sexta-feira, 19 de julho de 2019

O INCONSCIENTE


Esse foi o título inaugural de Sigmund Freud, médico neurologista e criador da escola de pensamento psicanalítico ou a psicanálise. Um tema que era do interesse apenas de estudiosos da filosofia e das ciências psi, psicologia, psicanálise e psiquiatria para adentrar o mundo das ciências sociais aplicadas. Nesse caso, jornalistas, publicitários, gestores sociais e operadores do direito têm demonstrado especial atenção à existência de um mundo de domínio subjetivo, o inconsciente.

A analogia mais utilizada para se obter a dimensão do inconsciente é a do iceberg que no mar torna claro apenas aquele bloco de gelo que pode ser um pequeno monte escondendo a enorme montanha submersa, escondida aos olhos do observador, demonstrando a ideia de que muitos conteúdos que verbalizamos ou exprimimos através dos mais variados gestos encontram respostas emocional e motivacional em nosso inconsciente.  

Em seu Vocabulário da psicanálise, Laplanche e Pontalis afirmam que, “ se fosse preciso concentrar numa palavra a descoberta freudiana, essa palavra seria incontestavelmente a de inconsciente”. Creio que a quase-totalidade dos téoricos em psicanálise concordaria com esta afirmação, embora nem todos concordem quanto à significação, à extensão e aos limites daquilo que entendem por inconsciente.

Uma das maneiras de se começar a falar no inconsciente freudiano pode ser a de se apontar o que ele não é, ou então, a de se marcar a sua diferença com relação àquela concepção de subjetividade dominante até Freud. 


O termo “ inconsciente” , quando empregado antes de Freud, o era de uma forma puramente adjetiva
O Inconsciente 169para designar aquilo que não era consciente, mas jamais para designar um sistema psíquico distinto dos demais e dotado de atividade própria.

A concepção que mais se aproximou da de Freud foi a de Herbart, que mesmo assim não falava de um psiquismo topograficamente dividido em sistemas, mas de ideias que continuavam dinamicamente ativas após terem sido inibidas pelas demais. Qualquer que tenha sido, porém, a noção de inconsciente elaborada antes de Freud, o fato é que ela não designava nada de importante ou de decisivo para a compreensão da subjetividade.

Um outro aspecto importante a ser ressaltado é o da identificação do inconsciente com o caos, o mistério, o inefável, o ilógico etc., e esta identificação ocorreu tanto anteriormente a Freud como no interior do próprio espaço do saber psicanalítico. Até hoje encontramos “descrições” do inconsciente como sendo o lugar da vontade em estado bruto e impermeável a qualquer inteligibilidade.

Aqueles que identificam o inconsciente freudiano com o caótico e o arbitrário devem reler o capítulo VII da Traumdeutung, quando Freud declara enfaticamente que não há nada de arbitrário nos acontecimentos psíquicos, todos eles são determinados. 

Aqueles que identificam o inconsciente freudiano com o caótico e o arbitrário devem reler o capítulo VII da Traumdeutung, quando Freud declara enfaticamente que não há nada de arbitrário nos acontecimentos psíquicos, todos eles são determinados. 

Os fenômenos lacunares são, portanto, indicadores de uma outra ordem, irredutível à ordem consciente e que se insinua nas lacunas e nos silêncios desta última. Essa outra ordem é a do inconsciente, estrutura segunda, e que não é apenas topograficamente distinta da consciência, mas é formalmente diferente desta. O inconsciente não é o mais profundo, nem o mais instintivo, nem o mais tumultuado, nem o menos lógico, mas uma outra estrutura, diferente da consciência, mas igualmente inteligível.

João B Nunes

quarta-feira, 17 de julho de 2019

A CHEGADA DO CIRCO NO JEREMIAS



O Bairro do Jeremias em Campina Grande possuía, à época, uma população de quase 11 mil habitantes, ruas íngremes, ladeiras esburacadas, paisagens monocromáticas, mães e meninos barrigudos a observar o acontecer de cada dia, a prestanista Dona Severina passando com suas bacias, panelas de pressão, jogos de lenções e penicos de plástico, tudo em suáveis prestações no cartão (literalmente um cartão róseo de papelão onde se notava a quitação das quinzenas), a carvoaria de Seu Pretim dava uma ideia que o tempo tinha se esquecido de passar naquela região da cidade. 

A missa dos domingos, as novenas, os cultos na igreja dos crentes, a difusora de Laura de Chico Venâncio e o jogo no campo do Galícia era o que se tinha como agenda familiar. Se bem, que em certos dias, o arrasta pé do forró da SAB (Sociedade de Amigos do Bairro) era o máximo. 
Mas aqui e acolá uma moça era desencaminhada por algum sujeito sem compromisso, o forró acabava com um corre-corre, o fi de Seu Chico Cangula enfiou a faca no buxo de um cabra que se estrebuchava no chão do salão. No final, não tinha quem dissesse quem foi ou quem não foi o autor do crime.

Para a molecada a coisa mudava de feição sempre que aparecia um parque de diversão com aquelas mesmas opções de sempre sendo que parecia ser uma novidade. Seu Jorge da Palmeira, pai de Miguel tinha um. Com tiro ao alvo, com chumbinhos que ninguém acertava, com o lança argolas com direito a vários brindes, o carrossel com os cavalinhos pintados de cores diferentes e a roda gigante que dava aquele friozão na barriga cada vez que parava no alto. Para quem ia prevenido no bolso, tinha a barraca da maçã do amor (aquelas caramelizadas), a barraca das roletas de cana, a barraca da batatinha frita, feita com aquele óleo reutilizado de tantas e tantas outras frituras, e o homem do carrinho de pipoca. 

Dava para se ver que poucas pessoas com seus filhos realmente usufruíam daquelas opções de lazer e entretenimento. Não importava, assim mesmo o parque se enchia de gente miúda achando o máximo simplesmente em estar transitando por aquele espaço tão colorido e iluminado por aquelas fios intercalando as lâmpadas que ao longe dava a ideia de um lugar aonde a diversão não teria fim. 

Ali era o lugar onde não apenas a gurizada deixava fruir alegrias como os próprios adultos, pais, mães e tios não se continham e a pretexto de acompanharem as crianças esbanjavam emoções há muito represadas.
Quando menos se dava fé, o parque já não estava lá, apenas o espaço vazio dentro daquela imagem que compunha a feirinha do bairro.

O bairro era outra vez sacudido com as trombetas difusoras da velha Chevrolet anunciadas, na voz do palhaço, que o Circo acabara de chegar para alegria de todas as crianças. Confeitos arremessados ao ar para o atropelo alvoraçado de um grupo de crianças que vinham correndo atrás do carro. eram o mote da chamada às atrações “inéditas” prometidas para a “grande estreia!!!”

Enquanto o palhaço no calor intenso da manhã ensolarada descia e subia as ladeiras do bairro, o fumaceiro do cano de escape de um motor já vencido pelo desgaste criava uma espécie de névoa tóxica que se misturava as cabeças da gurizada teimosa em seguir aquele carro.

O Circo era aquela estrutura mediana, coberta com uma lona amarela e azul, com algumas estrelas brancas espalhadas no alto. Rodeado por grades de ferro que davam para duas bilheterias borboletas giratórias, um ônibus onde se alojavam os artistas e demais trabalhadores, dois carros de pequeno porte, um caminhão já sofrido, e o espetacular ônibus da “Monga”, a mulher que se transformava em gorila. 

Tudo aquilo gerava uma atmosfera de mistério. A pintura do ônibus apresentava uma mulher mal desenhada, de biquíni, e perto dela a imagem de um gorila com ares de violenta ameaça. E um letreiro bem destacado: “Monga”, no espaço a baixo, em letras menores, a “Mulher Gorila.” 

Muita gente que não podia pagar o ingresso se assustava somente com os grunhidos emitidos naquele ônibus do medo. As crianças chegavam a ter pesadelos com aquelas imagens que se formavam na mente. No clímax do espetáculo, o Gorila que agora já não tinha mais nenhuma mínima expressão do humano que ainda pouca esboçava um rosto feminino, sacodia a grade que o separava do pequeno público e tentava se sair furioso em direção as pessoas, mais um ou dois sustos uma cortina preta de uma lado e do outro vermelha fechava a parte que separava os dois ambientes dentro do velho ônibus.

Na parte do picadeiro, dentro do circo propriamente, as brincadeiras de palhaços tomava conta. Eram números simplórios e repetitivos que arrancavam sorrisos e aplausos da plateia, geralmente com atuações de situações atrapalhadas, revides, deita e rola, performances de gesticulações e malabarismos davam o tom da parte inicial da noite de estreia. 

Depois vinha o mágico com seus truques mirabolantes, nada de mulher que era cerrada ou que desaparecia, nem coelho na cartola. Era tudo muito simples como retirar das mangas da camisa uma série de lenços coloridos, uma pequena exibição pirotécnica restrita ao espaço de uma pequena bancada, para fazer sumir um objeto e convidar alguém da plateia (já treinado para tal, sem ninguém saber, é claro!) e esse mesmo objeto aparecer em seu bolso.

O trapézio era um dos pontos máximos. Uma mulher de biquíni revestido com lantejoulas brilhantes executava algumas manobras que iam atingindo um grau de dificuldade e prendia os olhares da plateia nas piruetas que dava. Em sequencia, a corda bamba e a perícia de uma artista com seu bastão, indo e vindo encenando ao longo do trajeto algum movimento que desse a ideia de que iria cair naquele momento.

Não havia animais, como poderia ter pelo menos um leão aposentado daqueles que são vendidos dos circos de grande porte. No caso desses circos que vão de bairro a bairro, o custo de manutenção comprometeria a subsistência dos trabalhadores. Afinal, ser artista circense em dias como aqueles não era fácil nem rendia dinheiro. Os que se dão a promover o sorriso de uma plateia geralmente tende a percorrer um caminho de desafios permeado muitas vezes de tristezas e dissabores.

Nos últimos dias do circo no bairro, aquele mesmo carro passava chamando a população para a despedida do “grande circo” e por isso os ingressos custariam a metade do preço normal, ninguém podia faltar! Desta vez nem tinha o lançar dos bombons muito menos o alvoroço das crianças, apenas os gritos do anunciador.

As últimas noites eram lotadas, o que muitos não sabiam era que as apresentações também eram pela metade. Contudo, o prazer de viver um ambiente diferente de entretenimento para tantos expectadores valia a pena.

Por João B Nunes
Formado em psicologia e acadêmico de direito.