quinta-feira, 3 de outubro de 2019

CONSELHOS SOCIAIS DINÂMICOS DE CREDITAÇÃO

Por João Batista Nunes



Sem rodeios: aprenda definitivamente que nem tudo que parece ser corresponde aos fatos. Pode haver nas entrelinhas do discurso ou naquela apresentação acima de qualquer suspeita algo que se contradiz e pode guardar um abismo profundo que separa o discurso heroico da vileza e escalada destreza.

Aprendi com aquele sábio professor numa das primeiras aulas de direito penal: “a natureza humana nunca deixará de surpreender, não há limites para a maldade.”

Mesmo as ações mais ingênuas, de promoção social, de incentivos e visibilidade, de patrocínio, do que se afigura benemérito, boas práticas sustentáveis, socioambientais, socioeducacionais e inclusivas, muitas vezes podem estar maculadas por vícios e descaminhos, articulados por mente sinistra, motivada por princípios sorrateiros e desumanos.

Exemplos nos registros da história não faltam. Pessoas e instituições que foram enganadas por anos a fio se ressentem de terem deixado escapar sinais quase imperceptíveis desse nível de manipulação e exploração da credulidade.

O cerne da questão é que estamos vivendo tempos valorização da solidariedade nos seus diversos aspectos, com uma gama de temas que mexem com o muito que ainda existe de sensibilidade humana, e isto encorajado pelo fato de que existem recursos, pessoas e instituições que estão prontas a gastar, a destinar, a fazer concessões, alocações, para a promoção do bem-estar de segmentos, grupos e indivíduos. Isto porque fazer o bem, faz bem.

Considero que seja de grande relevância que você (na qualidade de pessoa física ou jurídica) observe algumas pontos de realce que devem ser levados em conta na hora de se fechar um pacote de doação ou patrocínio:

1º - vá além das informações contidas e arranjadas no projeto/proposta; conheça in loco escritório, local, equipes, pessoas próximas e em arredores, testemunhos de fornecedores etc.;

2º - sendo um empreendimento, evento, projeto a pequeno, médio e longo prazos, busque conhecer a equipe gestora. Cuidado! Ao constatar que esta ou aquela organização, ação, evento ou projeto é gerido por uma única pessoa, desconfie. Quase sempre essa pessoa é a principal beneficiária. De alguma forma obscura, ela consegue manter a coesão de grupos de pessoas, mas que, por meios subterrâneos esconde seu verdadeiro “potencial”;

3º - vá além dos demonstrativos de despesas. A maquiagem dos custos pode ir além das aparências e atitudes pseudotransparentes podem esconder ciclos viciosos entre a pessoa proponente, fornecedores e até patrocinadores da má-fé.

Uma medida antifraude eficiente seria a institucionalização de Conselhos Dinâmicos de Creditação, com membros da sociedade, com competências em contabilidade, logística, investigação fiscal, administração entre outras, para fiscalizar nos mínimos detalhes a natureza de eventos, projetos e ações de fins beneficentes, feitos com recursos de origem diversa.

O CONSELHO SOCIAL DE CREDITAÇÃO é quem iria atestar, depois de uma análise criteriosa, esmiuçada, que aquele determinado evento, naquela dado momento, nem antes nem depois, estava dentro dos conformes de transparência, realmente transparente.

A solidariedade e a participação voluntária em prol do bem comum são as atitudes que melhor definirão o presente século, mas isto não quer dizer que não se faça acompanhar de instrumentos técnicos e operativos de detecção de possíveis fraudes, ou mesmo de validação de credibilidade, investindo de autoridade, seriedade e compromisso verdadeiro com o bem-estar das causas sociais que se propõe defender, quando idealizado na primazia da transparência, não turvada, mas cristalina como manda a verdade e a justeza da probidade.

Para gestores de empreendimentos beneficentes e de bem-estar coletivo, fornecedores e patrocinadores que seguem a cartilha da ética e das boas práticas, não há o que temer. Do contrário, é bom repensar as práticas obscuras, porque a honestidade não confere lucro rápido, mas produz honra e prosperidade em todas as esferas de atuação humana.


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