Freud observou em seus
pacientes uma sucessão incessante de conflitos e conciliações psíquicas. Ele viu
pulsão contra pulsão, proibições sociais bloqueando pulsões biológicas, e modos
de enfrentar frequentemente em conflito uns com os outros.
Foi somente ao final de sua
carreira que ele organizou, para si mesmo, este aparente caos, propondo três
componentes estruturais básicos da psique: o id, o ego e o superego. Embora
estes termos sejam comuns na atualidade, eles são artificialmente abstratos e
produzem uma impressão diferente daquela pretendida por Freud (Solms, 1998).
Suas palavras foram simples
e diretas: Das es (id) significa apenas "isso", das Ich (ego)
significa "eu", e das uber-Ich (superego) significa "acima do
eu". É um pouco tarde para corrigir os estragos causados pela tradução
inicial do trabalho de Freud. Seus escritos foram deliberadamente obscurecidos
para que parecessem mais científicos, o que era bem ao gosto da mentalidade
norte-americana predominante da época (Bettelheim, 1982).
O id
O id é o núcleo original de
onde emerge o resto da personalidade. Ele é biológico por natureza e contém o
reservatório de energia para toda a personalidade. O id propriamente dito é
primitivo e desorganizado. "As leis lógicas do pensamento não se aplicam
ao id" (Freud, 1933, p. 73).
Além disso, o id não se modifica
à medida que crescemos e amadurecemos. O id não muda pela experiência, porque
não está em contato com o mundo externo. Seus objetivos são simples e diretos:
reduzir a tensão, aumentai o prazer e minimizar o desconforto. O id se esforça
para fazer isso através de ações reflexas (reações automáticas como espirrar ou
piscar) e pela utilização de outras porções da mente.
O id pode ser comparado a um
rei cego que tem poder e autoridade absolutos, mas cujos conselheiros de
confiança, principalmente o ego, lhe dizem como e onde utilizar estes poderes.
Os conteúdos do id são quase
totalmente inconscientes. Eles incluem pensamentos primitivos que jamais foram
conscientes e pensamentos que foram negados, considerados inaceitáveis à
consciência. Segundo Freud, experiências que foram negadas ou reprimidas ainda
possuem a capacidade de afetar o comportamento da pessoa com a mesma intensidade
sem estarem sujeitas ao controle consciente.
O ego
O ego é a parte da psique
que está em contato com a realidade externa. Ele se desenvolve a partir do id,
à medida que o bebê toma ciência de sua própria identidade, para atender e
aplacar as constantes demandas do id.
Para realizar isso, como a
casca de uma árvore, o ego protege o id, mas também obtém energia dele. Ele tem
a tarefa de garantir a saúde, segurança e sanidade da personalidade. Freud pressupunha
que o ego tem diversas funções em relação tanto ao mundo exterior quanto ao mundo
interior, cujos anseios ele procura satisfazer.
Suas principais
características incluem o controle do movimento voluntário e as atividades que
resultam em autopreservação. Ele se torna ciente dos eventos externos,
relaciona os aos eventos do passado e, mediante atividade, evita a condição,
adapta-se a ela ou modifica o mundo externo para torná-lo mais seguro ou mais
confortável.
Para lidar com "eventos
internos", ele tenta manter controle sobre "as demandas das pulsões,
decidindo se elas podem obter satisfação, adiando esta satisfação para os
momentos e circunstâncias favoráveis no mundo externo ou suprimindo suas excitações
por completo" (1940, p. 2-3).
As atividades do ego
consistem em regular o nível de tensão produzida pelos estímulos internos e
externos. Um aumento de tensão é sentido como desconforto, ao passo que uma
diminuição de tensão é sentida como prazer. Portanto, o ego busca o prazer e
procura evitar ou minimizar a dor.
Assim, o ego é originalmente
criado pelo id como tentativa de lidar com o estresse. Entretanto, para fazer
isso, o ego deve, por sua vez, controlar ou modular as pulsões do id, para que
a pessoa possa perseguir modos realistas de lidar com a vida.
O ato de namorar serve como
exemplo de como o ego controla as pulsões sexuais. O id sente a tensão oriunda
da excitação sexual insatisfeita e, sem a influência do ego, reduziria esta
tensão através de atividade sexual imediata e direta.
Dentro dos limites de um
namoro, contudo, o ego pode determinar quanta expressão sexual é possível e
como estabelecer situações em que o contato sexual seja mais satisfatório. O id
é sensível às necessidades, ao passo que o ego é sensível às oportunidades.
O superego
Esta última parte da
estrutura da personalidade se desenvolve a partir do ego. O superego serve como
juiz ou censor sobre as atividades e pensamentos do ego. Ele é o repositório de
códigos morais, de padrões de conduta e dos construtos que formam as inibições
para a personalidade. Freud descreve três funções do superego: consciência, auto-observação
e formação de ideais.
Como consciência, o superego
atua para restringir, proibir ou julgar a atividade consciente, mas ele também
age inconscientemente. As restrições inconscientes são indiretas, aparecendo
como compulsões ou proibições. "O sofredor [...] se comporta como se
estivesse dominado por um senso do qual nada sabe" (1907, p. 123).
O superego desenvolve,
aperfeiçoa e mantém o código moral de um indivíduo. "O superego de uma
criança, na verdade, se constrói sobre o modelo, não de seus pais, mas do superego
de seus pais; os conteúdos que o preenchem são os mesmos, e isso torna-se o veículo
da tradição [...], as quais se propagaram dessa forma de geração para
geração" (1933, p. 39). Portanto, a criança aprende não apenas os reais
limites em qualquer situação, mas também as visões morais dos pais.
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