João Batista Nunes
Embora sua carreira acadêmica tenha sido breve, John B Watson, o fundador do comportamentalismo, foi fundamental na elaboração de uma psicologia objetiva, livre do mentalismo, e com o mesmo grau de cientificidade da física.
Quando Watson tinha treze anos, seu pai fugiu
com outra mulher, para nunca mais voltar, o que magoou Watson pelo resto da sua
vida. Muitos anos depois, quando Watson já era rico e famoso, o pai foi a Nova
York tentar vê-lo, mas ele se recusou a encontrá-lo.
Na infância e na juventude, Watson foi
descrito como um delinquente. Ele mesmo dizia ser preguiçoso e insubordinado, e
nunca foi além da média necessária para passar de ano na escola. Seus
professores o consideravam indolente, insolente e, às vezes, incontrolável. Ele
se envolvia em brigas e foi preso duas vezes, numa delas por dar tiros em área
urbana. Mesmo assim, ele se matriculou na Universidade Furman, dos batistas, em
Greenville, aos dezesseis anos, decidido a ser ministro religioso.
Ele prometera à mãe, muitos anos antes, que
abraçaria a vida clerical. Watson estudou filosofia, matemática, latim e grego,
e esperava graduar-se em 1899 e entrar no Seminário Teológico de Princeton no
outono seguinte.
Ocorreu uma coisa curiosa no último ano de
Watson em Furman. Um dos professores avisou os alunos que quem entregasse o
exame final com as páginas trocadas seria reprovado. Watson levou a sério o
desafio, pôs a prova invertida e foi reprovado, ao menos foi assim que ele
contou a história. Um exame mais recente dos dados pertinentes da história – no
caso, as notas que Watson preferiu contar revela algo de sua natureza, isto é,
“sua ambivalência diante do sucesso.” Sua constante luta por conquistas e
aprovação era sabota com frequência por atos de pura obstinação e impulsividade,
mais características de uma evitação da responsabilidade.
Watson ficou em Furman mais um ano e recebeu
o grau de mestre em 1900; neese ano, porém, sua mãe faleceu, liberando-o do
voto de tornar-se ministro. Em vez do seminário teológico, foi para a Universidade
de Chicago. Na época, era “um jovem ambicioso, muito consciente do status
social, ávido por deixar sua marca no mundo, mas totalmente confuso quanto à
sua escolha de profissão e desesperadamente inseguro com relação à sua falta de
meios e de sofisticação social. Ele chegou ao campus com cinquenta dólares no
bolso.”
Escolhera Chicago para pós-graduar-se em
filosofia sob a direção de John Dewey, mas, passado algum tempo, considerou
Dewey incompreensível. “Eu nunca soube do que ele estava falando na época”,
relembrou Watson, [...] “e, infelizmente para mim, continuo não sabendo.” Seu
entusiasmo pela filosofia logo diminuiu.
Interessou-se pela psicologia graças à obra
de James Rowland Angell, e estudou neurologia, biologia e fisiologia com
Jacques Loeb, que lhe deu a conhecer o conceito de mecanismo. Ele trabalhou em
várias ocupações – garçom de uma república, tratador de ratos e assistente de
zelador (suas tarefas incluíam limpar a escrivaninha de Angell).
Perto do final dos estudos, sofria ataques
agudos de ansiedade e não conseguia dormir sem uma lâmpada acesa.
Em 1903, Watson se doutorou, a pessoa mais
jovem a obter um doutorado na Universidade de Chicago. Embora fosse aprovado
com louvor, ele relata que teve um profundo sentimento de inferioridade quando
Angell e Dewey lhe disseram que seu exame doutoral não era tão bom quanto o de
Helen Thompson Woolley, que se graduara dois anos antes (Woolley, apesar de sua
competência, enfrentou uma considerável discriminação sexual e foi preterida na
carreira acadêmica).
Nesse mesmo ano, Watson casou com uma de suas
alunas, Mary Ickes, de dezenove anos, filha de uma família social e
politicamente importante. Conta-se que a jovem e impressionável Mary escrevera
um longo poema de amor para Watson num dos exames, em vez de responder às
perguntas.
Não se sabe que nota recebeu, mas Watson ele
conseguiu. Sua família se opôs ao casamento; seu irmão chamou Watson, que
tivera vários casos com alunas, de “um patife egoísta e presunçoso.”
Watson permaneceu como instrutor na
Universidade de Chicago até 1908. Publicou sua dissertação sobre a maturação
neurológica e psicológica do rato branco e cedo demonstrou sua preferência por
sujeitos animais.
Dizia Ele:
Eu nunca quis usar sujeitos humanos. Detestei
servir como sujeito. Eu não gostava das instruções enfadonhas e artificiais que
eram dadas aos sujeitos. Sempre me sentia pouco à vontade e agia sem
naturalidade. Com os animais, eu me sentia em casa. Tinha a impressão de que.
Um determinado pensamento: será que não poderei descobrir, ocorria-me cada vez
mais vezes um determinado pensamento: será que não poderei descobrir,
observando o seu comportamento, tudo o que os outros alunos estão descobrindo
usando [observadores humanos]/?
Alguns dos professores e colegas de Watson se
lembram de que ele não era bom em introspecção. Sejam quais forem os talentos
especiais ou os temperamentos necessários para isso, ele não os tinha. É
possível que isso tenha sido parte do ímpeto que o fez rumar na direção de uma
psicologia comportamental objetiva. Afinal de contas, se ele não era bom na
prática da técnica essencial do seu campo, suas perspectivas de carreira eram
as piores possíveis... a não ser que ele pudesse desenvolver outra abordagem.
Além disso, se a psicologia fosse uma ciência dedicada apenas ao estudo do
comportamento, que, de fato, podia ser feito tanto com animais como com seres
humanos, os interesses profissionais dos psicólogos animais podiam ser
promovidos e introduzidos na corrente principal do campo.
Em 1908, quando se tornou elegível para um
cargo de professor-assistente em Chicago, Watson recebeu a oferta de um cargo
de professor efetivo na Johns Hopkins, de Baltimore.
Embora relutasse em deixar Chicago, Watson
não tinha muita escolha, devido à promoção, à oportunidade de dirigir o
laboratório e ao substancial aumento de salário oferecidos pela Johns Hopkins.
Ali, ele passou doze anos, seu período mais produtivo para a psicologia.
O ousado Watson afirmou certa vez:
Deem-me uma dúzia de crianças saudáveis e bem formadas e meu mundo específico para criá-las, e eu me comprometo a escolher uma delas ao acaso e treiná-la para que chegue a ser qualquer tipo de especialista que escolher: médico, advogado, artista, comerciante, e inclusive mendigo ou ladrão, sem levar nem um pouco em conta seus talentos, capacidades, tendências, habilidades, vocação ou a raça de seus antepassados (WATSON, 1930, p. 104).
O ousado Watson afirmou certa vez:
Deem-me uma dúzia de crianças saudáveis e bem formadas e meu mundo específico para criá-las, e eu me comprometo a escolher uma delas ao acaso e treiná-la para que chegue a ser qualquer tipo de especialista que escolher: médico, advogado, artista, comerciante, e inclusive mendigo ou ladrão, sem levar nem um pouco em conta seus talentos, capacidades, tendências, habilidades, vocação ou a raça de seus antepassados (WATSON, 1930, p. 104).
REFERÊNCIAS
WATSON, J. B. Psychology as the behaviorist views it. Psychological Review, 20, pp. 158-177, 1933.
SCHULTZ, D. P. & SCHULTZ, S. E. S. História da Psicologia Moderna. 8ª ed. Revista e Ampliada. São Paulo: Cultrix, 1997.
SCHULTZ, D. P. & SCHULTZ, S. E. S. História da Psicologia Moderna. 8ª ed. Revista e Ampliada. São Paulo: Cultrix, 1997.
Nenhum comentário:
Postar um comentário