segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

PAULO DA CIDADE DE TARSO


Por volta de 750 do calendário Romano, nasceu Saulus[1]· (Sha’ul), em Tarso da Cicília. Era o primeiro século da era Cristã, pois nessa primeira década Jesus já havia nascido em Belém da Judeia. 
De acordo com Ball (2000), a província de Tarso abrangia 120 quilômetros de norte a sul, alongando-se do ocidente para o oriente da Panfília, “indo até as montanhas de Síria”. “Uma cidade não pouco magnífica” (Atos 21.29), já que na estrada ao sul, para Antioquia, ficava a passagem conhecida como Portão da Síria. Todo o trânsito das linhas comerciais ou se processavam pelo mar ou pelas rotas que convergiam pelas estradas montanhosas da Cicília, tendo Tarso como principal ponto, ou melhor, era a maior cidade do Império Romano na Cicília, numa perspectiva geoestratégica, política, cultural e comercial.
Os pais eram da Tribo de Benjamim (Rm 11.1), da classe dos Fariseus[2] (Fil 3.5) e habitavam em Tarso provavelmente em razão da diáspora[3] que espalhou judeus por todas as regiões do domínio romano. O nome Saulus parece ser uma homenagem ao primeiro rei de Israel dessa mesma tribo, Saul. Paulo do grego pavlos[4].
Percebe-se que, de acordo com os escritos neotestamentários Saulo passou a ser chamado apenas de Paulo a partir do capítulo 13:9 de Atos dos Apóstolos. Por ser da cidade de Tarso, era Judeu com cidadania romana. Houve situação em que ele soube muito bem explorar o direito romano em seu favor.
A educação de Paulo parece ter sido uma das mais notáveis, descrita por ele mesmo como a mais rígida (vivi fariseu como a seita mais severa da nossa religião, At. 26. 5). Além de ter absorvido a melhor fase da influência helenística, o jovem foi “Eu sou judeu, nasci em Tarso da Cilícia, mas criei-me nesta cidade e aqui fui instruído aos pés de Gamaliel, segundo a exatidão da lei de nossos antepassados, sendo zeloso para com Deus”,  At. 22.3.  “[...] E, na minha nação, quanto ao judaísmo, avantajava-me a muitos da minha idade, sendo extremamente zeloso das tradições de meus pais.” (Gl. 1.14). Preparado para conduzir-se “irrepreensível, segundo a justiça da lei” (Fil 3.6).
Gamaliel era o mais conceituado mestre da coletividade judaica, mais de uma linha moderadora (At. 5.33); da escola de Hileu. Esse mestre deve ter preparado Paulo para seguir uma visão de mundo mais aberta em comparação as demais vertentes mais rígidas e ortodoxas. Tão preparado a ponto de encontrarmos Paulo discutindo com os estoicos e epicureus. Além do hebraico, língua nativa, Paulo dominava o aramaico, o latim e o grego. Com essas ferramentas podia transitar em qualquer lugar do mundo de então, entendendo e fazendo-se entender[5].
Talvez Paulo tenha sido educado em Tarso até cumprir o bar-mistivá e na idade dos 12 anos tenha ido morar com familiares em Jerusalém onde passou a estudos mais intensivos da lei e das tradições de moshé (Moisés).
Em Jerusalém, suas aulas certamente intercalavam-se, dentre as notícias mais quentes, os alvoroços de multidões causados por um homem galileu, este, que segundo os crédulos, fazia sinais e milagres extraordinários; levando muitos a acreditar ser ele o Messias.
O notável saber do rapaz Paulo fê-lo se destacar na corte principal dos judeus, o Sinédrio, e, de acordo com os primeiros relatos dos Atos dos Apóstolos, já o vemos como uma espécie de juiz com investidura de autoridade para consentir na morte de Estevão, discípulo exatamente do galileu que, inclusive, já havia sido condenado a morte de cruz pelos Romanos, pela sentença de Poncio Pilatos.
Como um autêntico oficial do sinédrio, Paulo agora é descrito no capítulo 9 dos Atos se dirigindo ao sumo sacerdote para pedir-lhe novas investiduras contra os discípulos do galileu. O texto inicia com expressões fortes “Saulo, respirando ainda ameaças e morte contra os discípulos [...]”.
O plano era chegar à cidade da Damasco e empreender uma verdadeira caçada a qualquer que professasse fé nos ensinos do galileu. “Caso achasse alguns que eram do Caminho (assim era designado aquela sedição), assim homens, como mulheres, os levassem presos para Jerusalém”, versículo 2.
“Perseguir este Caminho até a morte, prendendo e metendo em cárcere homens e mulheres” (Atos 22. 4).
Naquele dia tudo parecia ser como antes. Um dia comum para diligências e apreensões de seguidores desse tal Caminho. Já estava tudo acertado entre as autoridades de Jerusalém. Paulo, devidamente guarnecido partiu para mais uma missão, estrada afora, rumo à Damasco.
Ao aproximar-se (At. 9.2-5) da cidade, subitamente uma luz do céu brilhou ao seu redor, tão forte que o fez cair por terra e nisso ouvir uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? Paulo atordoado com toda essa situação, incomum, sobrenatural, sem enxergar absolutamente nada em volta de si, perguntou ante a voz inquiridora: “Quem és Senhor”? E em resposta ouviu a sentença: “Eu sou Jesus, a quem me persegues.”
Referência Bibliográfica
BALL, Charles Fergunson. A Vida e a Obra de Paulo. 3º edição. Rio de Janeiro: CPAD, 2000.
Bíblia Sagrada. Versão ARC; e, NVI; LH. Sociedade Bíblica do Brasil, 2014.
Ramos, José Augusto. Paulo de Tarso – Grego e Romano, Judeu e Cristão. Centro de Estudos Clássicos. Universidade de Coimbra. Portugal: Humanitas Supplementum, 2010.
STERN, David H. Comentário Judaico do Novo Testamento. São Paulo: Templus, 2008.




[1] Saulus era nome dado em homenagem ao primeiro rei de Israel, Saul.
[2] Fariseus: Pharisaios (grego), proveniente de uma palavra aramaica peras (encontrada em Dn 5.28), significando “separar”, devido a um diferente modo de vida em relação ao público geral.
[3] Diáspora significa ‘dispersão’. É termo que se relaciona à dispersão dos Judeus provocada pela rebelião de um certo Judah ben Hezekiah, em 4 a.C., de acordo com José Augusto Ramos et al in Paulo de Tarso, Centro de Estudos Clássicos da Universidade de Coimbra, 2010.
[4] Pavlos (Grego) de acordo com David H. Stern in: Comentário Judaico do Novo Testamento.
[5] O próprio Flavio Josefo, historiador hebreu afirmava que por volta do século I, circulavam em Jerusalém, tanto quanto na corte de Herodes, homens versado na cultura helenística, que dominavam o grego.

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