sábado, 13 de fevereiro de 2016

NA ERA DO RÁDIO: CAUBY PEIXOTO E ÂNGELA MARIA



"Se o Criador viesse de novo ao mundo, 
não falaria. como Jeová, 
do alto de uma nuvem, 
ou como Júpiter, do corpo medonho
 de um trovão: falaria ao microfone!" 
(Berilo Neves, escritor)


Nos anos de 1940-50 o rádio era a grande janela para o mundo: trazia para quase todos os lares as últimas notícias; moldava a opinião pública; vendia produtos, lançava modas; e alimentava os sonhos dos ouvintes com a voz de atores e atrizes, astros e estrelas. Esse "reino de encanto de sonhos e informação" coroava "reis e rainhas".

Quando a voz tinha um rei como Francisco Alves e tantos outros notáveis: "Meu companheiro dileto/Violão, és meu afeto/És minha consolação/ De tanto roçar meu peito/Tens hoje o timbre perfeito/ Da voz do meu coração".

Tempos de Cauby Peixoto e Ângela Maria, a querida do Sapoti

"Conceição, eu me lembro muito bem,/ Vivia no morro a sonhar/ Com coisas que o morro não tem..." Canção de Jair Amorim e Dunga, vozes inconfundível daquele cantor de bigodinho que a interpretava era a de Cauby Peixoto, que entre 1954 e 1959, foi o cantor mais popular do Brasil. Com qualidades que justificam esse título.

Nascido em 1935, provinha de uma família de músicos. Seu pai era violinista, sua mãe tocava bandolim, e um de seus tios era pianista e homem de rádio. Mas seu parente mais famoso era o sambista Ciro Monteiro. Cauby começou a cantar num programa de calouros da Rádio Tupi, no Rio, por volta de 1951. Três anos depois era celebridade, fazendo sucesso com o fox Blue Gardenia.

Mais tarde vieram Conceição (1956), Nono Mandamento (1957), Prece de Amor (1958) e muitas outras. Segundo alguns, seu rápido êxito se devia não apenas a suas inegáveis qualidades de cantor, mas também ao tipo de publicidade que o cercava. Seu empresário, Di Veras, contratava mocinhas para que desmaiassem "de emoção" à simples passagem do cantor. Seguindo o modelo norte-americano (foi assim que Frank Sinatra virou ídolo), Di Veras fazia confeccionar para Cauby ternos apenas alinhavados, que as fãs "rasgavam com furor", em cenas documentadas por fotógrafos de aluguel. No fim dos anos, 50, Cauby excursionou pelos Estados Unidos, usando o nome de Ron Coby, e gravou Maracangalha, de Caymmi, com o título de I Go.

Quanto a Ângela Maria, era a mais que preferida "Rainha do Rádio" em 1954, tendo começado a carreira em 1947, apresentando-se em programas de calouros como a "Hora do Pato", de Jorge Cúri, na Nacional. Seu verdadeiro nome é Abelim Maria da Cunha, mas a cantora usava então o pseudônimo de Marina da Cunha para que os pais, muito religiosos, não soubessem de sua atividade.

De origem humilde, Abelim trabalhava nessa época numa fábrica de tecidos. Em 1951 já com o nome artístico de Ângela Maria, cantava num clube noturno carioca, o Dancing Avenida, quando foi "descoberta" por Erasmo Silva e Gilberto Martins. Este último levou-a para a Rádio Mayrink Veiga, da qual era diretor. Na Mayrink, Ângela assinou contrato e passou a cantar regularmente, estourando imediatamente em todas as paradas. Foi a cantora mais popular dos anos 50 e recebeu de Getúlio Vargas o apelido de "Sapoti, por sua cor e sua voz, doces como o sapoti". Seus maiores sucessos foram Vida de Bailarina (Américo Seixas e Chocolate) e Lábios de Mel (J. Vilaça e Nage).

A atmosfera do Pós-guerra (1945) influencio o modus de viver do brasileiro. Tudo parecia pairar sobre os ditamos culturais dos americanos e isto é visto nas artes e na produção musical popularizada e retratada através da modelagem. Os ritmos do Tio Sam encontrava espaço do morro as mansões burguesas do Rio e de São Paulo, e por fim, em todo o país.

João B Nunes
Psicologo, teológo e acadêmico de Direito

Nenhum comentário: