sábado, 13 de fevereiro de 2016

NA ERA DO RÁDIO: CAUBY PEIXOTO E ÂNGELA MARIA



"Se o Criador viesse de novo ao mundo, 
não falaria. como Jeová, 
do alto de uma nuvem, 
ou como Júpiter, do corpo medonho
 de um trovão: falaria ao microfone!" 
(Berilo Neves, escritor)


Nos anos de 1940-50 o rádio era a grande janela para o mundo: trazia para quase todos os lares as últimas notícias; moldava a opinião pública; vendia produtos, lançava modas; e alimentava os sonhos dos ouvintes com a voz de atores e atrizes, astros e estrelas. Esse "reino de encanto de sonhos e informação" coroava "reis e rainhas".

Quando a voz tinha um rei como Francisco Alves e tantos outros notáveis: "Meu companheiro dileto/Violão, és meu afeto/És minha consolação/ De tanto roçar meu peito/Tens hoje o timbre perfeito/ Da voz do meu coração".

Tempos de Cauby Peixoto e Ângela Maria, a querida do Sapoti

"Conceição, eu me lembro muito bem,/ Vivia no morro a sonhar/ Com coisas que o morro não tem..." Canção de Jair Amorim e Dunga, vozes inconfundível daquele cantor de bigodinho que a interpretava era a de Cauby Peixoto, que entre 1954 e 1959, foi o cantor mais popular do Brasil. Com qualidades que justificam esse título.

Nascido em 1935, provinha de uma família de músicos. Seu pai era violinista, sua mãe tocava bandolim, e um de seus tios era pianista e homem de rádio. Mas seu parente mais famoso era o sambista Ciro Monteiro. Cauby começou a cantar num programa de calouros da Rádio Tupi, no Rio, por volta de 1951. Três anos depois era celebridade, fazendo sucesso com o fox Blue Gardenia.

Mais tarde vieram Conceição (1956), Nono Mandamento (1957), Prece de Amor (1958) e muitas outras. Segundo alguns, seu rápido êxito se devia não apenas a suas inegáveis qualidades de cantor, mas também ao tipo de publicidade que o cercava. Seu empresário, Di Veras, contratava mocinhas para que desmaiassem "de emoção" à simples passagem do cantor. Seguindo o modelo norte-americano (foi assim que Frank Sinatra virou ídolo), Di Veras fazia confeccionar para Cauby ternos apenas alinhavados, que as fãs "rasgavam com furor", em cenas documentadas por fotógrafos de aluguel. No fim dos anos, 50, Cauby excursionou pelos Estados Unidos, usando o nome de Ron Coby, e gravou Maracangalha, de Caymmi, com o título de I Go.

Quanto a Ângela Maria, era a mais que preferida "Rainha do Rádio" em 1954, tendo começado a carreira em 1947, apresentando-se em programas de calouros como a "Hora do Pato", de Jorge Cúri, na Nacional. Seu verdadeiro nome é Abelim Maria da Cunha, mas a cantora usava então o pseudônimo de Marina da Cunha para que os pais, muito religiosos, não soubessem de sua atividade.

De origem humilde, Abelim trabalhava nessa época numa fábrica de tecidos. Em 1951 já com o nome artístico de Ângela Maria, cantava num clube noturno carioca, o Dancing Avenida, quando foi "descoberta" por Erasmo Silva e Gilberto Martins. Este último levou-a para a Rádio Mayrink Veiga, da qual era diretor. Na Mayrink, Ângela assinou contrato e passou a cantar regularmente, estourando imediatamente em todas as paradas. Foi a cantora mais popular dos anos 50 e recebeu de Getúlio Vargas o apelido de "Sapoti, por sua cor e sua voz, doces como o sapoti". Seus maiores sucessos foram Vida de Bailarina (Américo Seixas e Chocolate) e Lábios de Mel (J. Vilaça e Nage).

A atmosfera do Pós-guerra (1945) influencio o modus de viver do brasileiro. Tudo parecia pairar sobre os ditamos culturais dos americanos e isto é visto nas artes e na produção musical popularizada e retratada através da modelagem. Os ritmos do Tio Sam encontrava espaço do morro as mansões burguesas do Rio e de São Paulo, e por fim, em todo o país.

João B Nunes
Psicologo, teológo e acadêmico de Direito

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

SOLILÓQUIO

Essa é minha sala. O oitavo ano do primeiro grau no Colégio Anésio Leão, o Estadual da Palmeira (Campina Grande, Paraíba). Próximo à mezinha da professora é aonde me assento todos os dias. Ao meu lado Valéria (filha de um dono de mercearia no bairro do Monte Santo). Uma menina mais alta que eu, magra, esguia... Estudiosa. Ela costumava falar com uma força de expressão que exigia olhos nos olhos. Para mim era tarefa penosa já que fitando seu rosto vez por outra sua saliva expelida dos lábios vinha direto para os meus olhos.

Lá no fundão tá a galera bagunceira. Eu não os condeno. Já fui um deles por algum tempo, do tipo engraçadinho. Eles gostavam de mim. Admiravam meu talento de desenhista. Uns rabiscos que fazia e, vez por outra, deixava na redação do Diário da Borborema para ser publicado. Às vezes ficavam me perguntando o que havia de errado comigo. Por que eu não conseguia namorar uma daquelas moças como os carinhas do fundão as conquistavam tão facilmente. Mas vamos deixar a conversa para depois da aula, porque já vem a professora Neuzinha, “de Geografia Geral”.

Neuzinha aparentava ter seus 42 anos, magra, aproximadamente 1,70m de altura. Voz rouca, agravada pelo vício do cigarro (mas no perímetro do colégio, nunca a vi fumar. Ética). Severa. Fazia a exposição da aula com uma precisão própria dos mestres. Exigente. “Um aluno meu só passa de ano de mostrar competência.” Essa palavra ainda não tinha ouvido com essa facilidade sonora. Agora já familiarizado, concluo que Neuzinha era a própria competência. Morava só, num apartamento na Rua Barão do Abiauí, no Centro, onde também era sindica, com todos os rigores que o cargo impõe. Sua roupa, eu e a maioria da classe sempre achávamos extravagantes. Cores fortes, uso e abuso de babados, completando o manequim, uma maquiagem pesada numa tentativa inútil de esconder os traços bem acentuados de seu rosto.

 Neuzinha era um misto de dureza e ternura. Interrompia a aula muitas vezes para falar sobre sua vida sofrida no Sertão. Falava do pai, reticenciosa. Demonstrava orgulho da bravura do sertanejo do naipe de “meu pai” – dizia ele, com uma lágrima rebrilhando nos olhos.

Dentre os livros que a gente recebia do Governo do Estado (Excelentes livros), estava o de Geografia Geral. Sistemática, Neuzinha sabia dividi-lo bem certinho para o ano letivo.

Eu ficava em casa folheando apenas para ver as imagens ilustrativas. Quando menos me dava conta, já havia lido os primeiros capítulos. Os dias foram passando, os prazos se cumprindo, e a primeira e segunda prova revelou que a turma não estava em sintonia com Neuzinha. A maioria da classe estava com o rendimento abaixo das expectativas da professora. “Bruxa! Pavão! Magrela!” Murmuravam os colegas pelos corredores, sem nunca ousar se dirigir à professora.

Qualquer apelo dos colegas era em vão. Neuzinha ministrava uma aula com toda a maestria e experiência de seus anos de sala de aula e não aceitava flexibilizar o nível do ensino.
O resultado foi que a classe inteira foi para recuperação! E Neuzinha tratou de desenganar quem já estivesse perdido: não adianta chorar! Eu só passo quem estuda e mostra o que aprendeu na prova, e pronto!!!
O assunto da prova final era todo o Continente Africano, com seus aspectos políticos, sociais, culturais, e, claro, geográficos. Coincidentemente eu e a colega Valéria fomos para a final por conta de cinco décimos!  E tínhamos apenas três dias para estudar todo o assunto. Saímos do Colégio indignados. Uma atmosfera pesada atingiu em cheio o pessoal do fundão. Tinha gente que nem atingindo a nota máxima poderia passar de ano. A maior parte daquelas moças e rapazes tão festeiros parou com a algazarra e pesaram a encarar essa nova realidade.

No caminho de casa, pude notar que Valéria não conseguia conter as lágrimas e, em soluços dizia para mim (desta vez quase que cuspindo nos meus olhos) que iria mostrar a “essa professora” o quanto ela estava enganada e que não éramos cachorros para ser tratado de forma tão ríspida!

-João! Eu vou... Eu provar pra essa professora... Vou começar a estudar assim que chegar em casa!
-Eu também vou estudar seriamente, você vai ver! Respondi tentando comungar com aquele sentimento de “perda” que parecia irreparável para os brios da colega.

Separamos-nos como de costume na rua que dava para casa e ela se foi atordoada com seus pensamentos em brasa.

Sexta, sábado, domingo, segunda à tarde, já estávamos de volta à cena da prova. Minhas mãos suadas de nervoso. Dedos tamborilando sobre a carteira. A professora Neuzinha, com um lenço multicolorido amarrado naqueles cabelos cacheados passou por mim distribuindo a prova. A hora da verdade – pensei.

Os colegas foram saindo um por um e depositando suas provas sob o olhar severo da professora que observava atentamente a turma do fundão. Valéria também saiu. O aspecto de seu semblante era como um êxtase. Parecia envolvida numa alegria que não dava para esconder um sorriso de satisfação.

Quando eu terminei a prova, entreguei a professora e ao sai no corredor já não havia mais nenhum colega. Retornei para casa já sentindo a falta do corre-corre diário das aulas, da presença de cada um de minha turma.

Na quinta-feira à tarde, vim ao colégio para ver o resultado final. Percebi que meus colegas começavam a chegar e se juntar com os que já por lá estavam. Dirigi-me para o pátio da escola onde estavam afixadas as folhas com as respectivas turmas. Fui procurando nome por nome e quando me deparai com o meu, suspirei aliviado, escondendo um sorriso de felicidade. Minha vontade era de sair pulando de alegria! Passei de ano!

O tempo também passou, e hoje me vieram essas lembranças. Puxa vida, Valéria se casou, foi ser mãe, abandonou os estudos para nunca mais voltar, pelo menos este pareceu ser o intento do esposo.

A professora Neuzinha nunca mais a vi. Gostaria de poder me encontrar com ela para lhe dar um abraço forte e agradecer-lhe imensamente por tudo! A turma do fundão se fragmentou. Aquelas meninas lindas e atraentes que desejei namorar se envolveram com drogas e  prostituição. Um colega foi morto pela polícia, numa dessas madrugadas tensas de tiroteio no bairro do Jeremias. Outro que ficava admirando meus desenhos, enlouqueceu completamente devido ao uso de variadas drogas. Não chegaram a terminar os estudos do primeiro grau.


Quanto a mim, sou um milagre de Deus.


João Batista Nunes 
Psicólogo, Teólogo e Acadêmico de Direito.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

O SOFRER PSÍQUICO PROVOCADO PELO ASSÉDIO MORAL




INTRODUÇÃO

O trabalho tem um significado muldimensional para a pessoa do trabalhador. Tem gente que se realiza no desempenho de suas funções. Há pesquisas de desempenho que associam a motivação das pessoas mais ao bem-estar no ambiente do trabalho do que ao que se ganha em dinheiro.

O ambiente do trabalho e as pessoas nele envolvidas exercem uma carga de importância emocional decisiva para o trabalhador ou trabalhadora. Mas quando esse ambiente é minado por condutas depreciativas e tratamentos não condizentes com a ética em flagrante atentado contra a dignidade da pessoa humana, ferindo os princípios morais que deveriam ser o norte das relações interpessoais, então o clima no trabalho passa a ficar turvo e nebuloso, com tensões negativas, gerando mal-estar, criando prisões psíquicas que podem deixar marcas profundas. Em outras palavras, a pessoa pode estar sendo vítima de assédio moral.

Sem rodeios o assédio moral é caracterizado pelo “cerco” em torno de um trabalhador/trabalhadora ou de grupos de trabalhadores de terminada repartição pública ou privada, ou setor de trabalho dos inúmeros segmentos existentes Brasil afora. Esse “cerco” se traduz como formas de tratamento hostilizante que degrada, humilha, sobrecarrega e deprecia a pessoa publicamente, levando-a a desenvolver quadros psíquicos que comprometem a saúde da vítima, e sua vida social, atingindo, por conseguinte, até a família, além, obviamente, de comprometer a produtividade, pelo baixa autoestima provocada.

Porque as pessoas muitas vezes se submetem ao assédio moral? E outras tantas ao assédio sexual? A resposta a essas questões não são simples, elas encerram tantas outras que subjazem no complexo repertório de situações vividas pelo trabalho e trabalhadora brasileiros.

Questões que vão da completa falta de informação e esclarecimento sobre o que é o assédio moral e as garantias constitucionais da dignidade humana; até as de ordem social ligadas a história individual de cada vítima. É um pai de família que é o único provedor e fica-se imaginando o que acontecerá consigo quando sua filhinha lhe pedir comida. É a mãe solteira que depende do emprego para manter seu lar; é a pessoa que tem dependes idosos ou doentes; ou mesmo uma situação de endividamento que prende o trabalhador e tantos outras situações agregadas.

CONCEITO

O assédio moral é toda e qualquer conduta abusiva (gesto, palavra, comportamento, atitude) que atende, por sua repetição ou sistematização, contra a dignidade ou a integridade psíquica ou física de uma pessoa, ameaçando seu emprego ou degradando o clima de trabalho.

O assédio moral está restrito ao poder hierárquico no ambiente de trabalho? Não. A noção de assédio moral é extensiva a qualquer um no ambiente de trabalho, do topo da hierarquia à base do quadro. Podendo ser classificado como: - assédio vertical – é praticado pelo servidor hierarquicamente superior (chefe) para com os seus subordinados; - assédio horizontal – é praticado entre colegas de serviço de mesmo nível hierárquico; - assédio ascendente – é praticado pelo subordinado que possui os conhecimentos práticos inerentes ao processo produtivo sobre o chefe.

O assédio pressupõe intenção? Nem sempre ele é intencional, é possível que os atos causem efeitos no servidor assediado independente de intenção, ainda que o assediador afirme não ter desejado fazê-lo. Nesse caso existirá apenas a ignorância do agente quanto à extensão quanto à extensão dos efeitos provocados pelo seu comportamento.

Assédio moral – atitudes hostis. Deterioração proposital das condições de trabalho: -retirar da vítima a autonomia; -não lhe transmitir mais as informações úteis para a realização de tarefas; -contestar sistematicamente todas as suas decisões; -criticar seu trabalho de forma injusta ou exagerada; -privá-la de acesso aos instrumentos de trabalho: faz, telefone, computador, mesa, cadeira, entre outros; -retirar do trabalho que normalmente lhe compete; dar-lhes permanentemente novas tarefas; atribuir-lhe proposital e sistematicamente tarefas superiores às suas competências; -pressioná-la para que não faça valer seus direitos (férias, horários, prêmios); agir de modo a impedir que obtenha promoção; -atribuir à vítima, contra a vontade dela, trabalhos perigosas; -atribuir á vítima tarefas incompatíveis com sua saúde; -causar danos morais, psicológicos, físicos entre outros, em seu local de trabalho; -induzir a vítima ao erro; -controlar suas idas ao médico; -advertir a vítima em razão de atestados médicos ou de reclamação de direitos; -contar o tempo de permanência ou limitar o número de vezes em que o trabalhador vai ao banheiro.

CONSEQUÊNCIAS DO ASSÉDIO MORAL SOBRE A SAÚDE

Os reflexos em quem sofre assédio moral são extremamente significativos, vão desde a queda da autoestima até a existência de problemas de saúde, entre eles: -depressão, angústia, crises de competência, crises de choro, entre eles; - insônia, pesadelos, alterações no sono; - diminuição da capacidade de concentração e memorização; isolamento, tristeza, redução da capacidade de fazer amizades; -falta de esperança no futuro; -mudança de personalidade, passando a praticar a violência na família; - mudança de personalidade, reproduzindo as condutas de violência moral; aumento de peso ou emagrecimento exagerado; -distúrbios digestivos, aumento da pressão arterial, tremores e palpitações.

O QUE DIZ A LEGISLAÇÃO?

-A Constituição Federal, em seu artigo 1º fixa os fundamentos da República, entre eles: cidadania, dignidade da pessoa humana e os valores sociais do trabalho (Art. 1º, incisos II, III e IV); em seu art. 3°, CF/88 elenca os objetivos fundamentais da República: a construção de uma sociedade livre, justa e solidária e a promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (BRASIL, 1988, artigos 1º e 3º, e incisos). Poderia ser acrescentado o art. 5º onde se lê:

Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança [...], I – homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição; III – ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desumano ou degradante.

Mas, de particular importância nesse somatório de previsões constitucionais se destaca: “São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurando o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrentes de sua violação” (BRASIL, 1988, art. 5º e incisos).

Liste-se ainda o previsto no Código Civil: “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”; e mais: “Aquele que por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo” (BRASIL, 2002).

IDENTIFICADO O ASSÉDIO MORAL: O QUE O TRABALHADOR E TRABALHADORA PODEM FAZER?

Em primeiro lugar reunir provas das recorrências do assedio moral de que está sendo vítima; anotar com detalhes todas as humilhações sofridas (dia, mês, ano, hora, local, ou setor, nome do agressor, colegas que testemunharam, conteúdo da conversa e o que mais achar necessário); dar visibilidade, procurando a ajuda dos colegas, principalmente daqueles que presenciaram o fato ou que já sofreram humilhações do agressor; evitar conversar com o agressor, sem testemunhas; procurar seu representante sindical e relatar o fato.

CONCLUSÃO

O sofrer psíquico é, na verdade, um somatório de agravantes internos e externos ao indivíduo, ora acentuado pelas relações sociais no âmbito familiar ora, e principalmente, pelo ambiente do trabalho onde a vida de prolonga por mais tempo. 

Quando se estar diante de situações humilhantes na relação de emprego a pessoa automaticamente é confrontada e desafiada a se posicionar. É como se o cérebro atingisse o limiar do "tudo-ou-nada". Nesse ponto, ou a pessoa reage acionando os meios legais com as devidas provas (as provas podem ser áudio, vídeo, facilmente gravados por celular; e, também testemunhos de colegas de trabalhos) e provoca o devido processo de reparação do dano moral, e o direito assegurado de continuar no emprego, caso queira. Ou simplesmente, se submete a situação degradante. Se optar por essa segunda escolha, terá que conviver com o fato de que a humilhação perpetrada por alguém nunca se limita aos níveis iniciais. O agressor vai ampliando os níveis, visto que a vítima mostrou-se passiva, e, isto, vai comprometer drasticamente a saúde física e psíquica do trabalhador. 

Se pensar um pouco mais, não há razão alguma para se submeter. Outro emprego em outra empresa estará lhe aguardando e novos amigos, novas relações, novos ares com mais dignidade irão returbinar sua vida. Mas, acima de qualquer coisa está a sua saúde! Não se deixe abater, não se entregue. Vá à luta e seja um (a) vencedor (a). 

Autor João Batista Nunes
Psicólogo e Acadêmico de Direito.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

PAULO DA CIDADE DE TARSO


Por volta de 750 do calendário Romano, nasceu Saulus[1]· (Sha’ul), em Tarso da Cicília. Era o primeiro século da era Cristã, pois nessa primeira década Jesus já havia nascido em Belém da Judeia. 
De acordo com Ball (2000), a província de Tarso abrangia 120 quilômetros de norte a sul, alongando-se do ocidente para o oriente da Panfília, “indo até as montanhas de Síria”. “Uma cidade não pouco magnífica” (Atos 21.29), já que na estrada ao sul, para Antioquia, ficava a passagem conhecida como Portão da Síria. Todo o trânsito das linhas comerciais ou se processavam pelo mar ou pelas rotas que convergiam pelas estradas montanhosas da Cicília, tendo Tarso como principal ponto, ou melhor, era a maior cidade do Império Romano na Cicília, numa perspectiva geoestratégica, política, cultural e comercial.
Os pais eram da Tribo de Benjamim (Rm 11.1), da classe dos Fariseus[2] (Fil 3.5) e habitavam em Tarso provavelmente em razão da diáspora[3] que espalhou judeus por todas as regiões do domínio romano. O nome Saulus parece ser uma homenagem ao primeiro rei de Israel dessa mesma tribo, Saul. Paulo do grego pavlos[4].
Percebe-se que, de acordo com os escritos neotestamentários Saulo passou a ser chamado apenas de Paulo a partir do capítulo 13:9 de Atos dos Apóstolos. Por ser da cidade de Tarso, era Judeu com cidadania romana. Houve situação em que ele soube muito bem explorar o direito romano em seu favor.
A educação de Paulo parece ter sido uma das mais notáveis, descrita por ele mesmo como a mais rígida (vivi fariseu como a seita mais severa da nossa religião, At. 26. 5). Além de ter absorvido a melhor fase da influência helenística, o jovem foi “Eu sou judeu, nasci em Tarso da Cilícia, mas criei-me nesta cidade e aqui fui instruído aos pés de Gamaliel, segundo a exatidão da lei de nossos antepassados, sendo zeloso para com Deus”,  At. 22.3.  “[...] E, na minha nação, quanto ao judaísmo, avantajava-me a muitos da minha idade, sendo extremamente zeloso das tradições de meus pais.” (Gl. 1.14). Preparado para conduzir-se “irrepreensível, segundo a justiça da lei” (Fil 3.6).
Gamaliel era o mais conceituado mestre da coletividade judaica, mais de uma linha moderadora (At. 5.33); da escola de Hileu. Esse mestre deve ter preparado Paulo para seguir uma visão de mundo mais aberta em comparação as demais vertentes mais rígidas e ortodoxas. Tão preparado a ponto de encontrarmos Paulo discutindo com os estoicos e epicureus. Além do hebraico, língua nativa, Paulo dominava o aramaico, o latim e o grego. Com essas ferramentas podia transitar em qualquer lugar do mundo de então, entendendo e fazendo-se entender[5].
Talvez Paulo tenha sido educado em Tarso até cumprir o bar-mistivá e na idade dos 12 anos tenha ido morar com familiares em Jerusalém onde passou a estudos mais intensivos da lei e das tradições de moshé (Moisés).
Em Jerusalém, suas aulas certamente intercalavam-se, dentre as notícias mais quentes, os alvoroços de multidões causados por um homem galileu, este, que segundo os crédulos, fazia sinais e milagres extraordinários; levando muitos a acreditar ser ele o Messias.
O notável saber do rapaz Paulo fê-lo se destacar na corte principal dos judeus, o Sinédrio, e, de acordo com os primeiros relatos dos Atos dos Apóstolos, já o vemos como uma espécie de juiz com investidura de autoridade para consentir na morte de Estevão, discípulo exatamente do galileu que, inclusive, já havia sido condenado a morte de cruz pelos Romanos, pela sentença de Poncio Pilatos.
Como um autêntico oficial do sinédrio, Paulo agora é descrito no capítulo 9 dos Atos se dirigindo ao sumo sacerdote para pedir-lhe novas investiduras contra os discípulos do galileu. O texto inicia com expressões fortes “Saulo, respirando ainda ameaças e morte contra os discípulos [...]”.
O plano era chegar à cidade da Damasco e empreender uma verdadeira caçada a qualquer que professasse fé nos ensinos do galileu. “Caso achasse alguns que eram do Caminho (assim era designado aquela sedição), assim homens, como mulheres, os levassem presos para Jerusalém”, versículo 2.
“Perseguir este Caminho até a morte, prendendo e metendo em cárcere homens e mulheres” (Atos 22. 4).
Naquele dia tudo parecia ser como antes. Um dia comum para diligências e apreensões de seguidores desse tal Caminho. Já estava tudo acertado entre as autoridades de Jerusalém. Paulo, devidamente guarnecido partiu para mais uma missão, estrada afora, rumo à Damasco.
Ao aproximar-se (At. 9.2-5) da cidade, subitamente uma luz do céu brilhou ao seu redor, tão forte que o fez cair por terra e nisso ouvir uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? Paulo atordoado com toda essa situação, incomum, sobrenatural, sem enxergar absolutamente nada em volta de si, perguntou ante a voz inquiridora: “Quem és Senhor”? E em resposta ouviu a sentença: “Eu sou Jesus, a quem me persegues.”
Referência Bibliográfica
BALL, Charles Fergunson. A Vida e a Obra de Paulo. 3º edição. Rio de Janeiro: CPAD, 2000.
Bíblia Sagrada. Versão ARC; e, NVI; LH. Sociedade Bíblica do Brasil, 2014.
Ramos, José Augusto. Paulo de Tarso – Grego e Romano, Judeu e Cristão. Centro de Estudos Clássicos. Universidade de Coimbra. Portugal: Humanitas Supplementum, 2010.
STERN, David H. Comentário Judaico do Novo Testamento. São Paulo: Templus, 2008.




[1] Saulus era nome dado em homenagem ao primeiro rei de Israel, Saul.
[2] Fariseus: Pharisaios (grego), proveniente de uma palavra aramaica peras (encontrada em Dn 5.28), significando “separar”, devido a um diferente modo de vida em relação ao público geral.
[3] Diáspora significa ‘dispersão’. É termo que se relaciona à dispersão dos Judeus provocada pela rebelião de um certo Judah ben Hezekiah, em 4 a.C., de acordo com José Augusto Ramos et al in Paulo de Tarso, Centro de Estudos Clássicos da Universidade de Coimbra, 2010.
[4] Pavlos (Grego) de acordo com David H. Stern in: Comentário Judaico do Novo Testamento.
[5] O próprio Flavio Josefo, historiador hebreu afirmava que por volta do século I, circulavam em Jerusalém, tanto quanto na corte de Herodes, homens versado na cultura helenística, que dominavam o grego.