sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

RUI, A ÁGUIA DE HAIA


Eis ai um grande brasileiro que a História Nacional não irá esquecer, dentre tantos filhos ilustres desta terra. Cultíssimo, jurista de larga nomeada, advogado corajoso, gozava de uma imensa popularidade. Seu nome havia sido indicado pelo Barão do Rio Branco para representar o Brasil na 2º grande Conferência Internacional de Paz em Haia, Holanda em 1907.

Intelectual, um erudito. Rui após mobilizar a opinião pública brasileira quanto a questão do Acre, submetida a arbitragem internacional, defendida pelo amigo Rio Branco, demonstrara espírito indomável, posições pétreas, como de quem não volta jamais atrás acerca de suas palavras.

Seu ego robustecido pela erudição, sofrera uma das mais antigas (e ao mesmo tempo atual) de todas as lições a que os grandes homens deveriam trazê-las inscritas em seus corações: a da humildade de espírito.

A história mostrou que o Rio Branco estava certo em todas as suas postulações e venceu do modo surpreendente a questão para o Brasil recebendo o louvor de todos os brasileiros e nesse episódio, além de Rui não ter outra saída senão admitir que estava completamente equivocado, demonstrou que a voz da maioria sem sempre é a correta e justa.

O próprio Rio Branco, enfim, com grande demonstração de espírito público e ser humano, sem resquício algum de ressentimento, indicou o nome de Rui para essa tão grande e honrosa missão.

Rui relutou muito. Já com seus 58 anos e a saúde precária desde a mocidade, ainda sentindo os reflexos de seus esforços junto ao Ministério da Fazenda, das campanhas pela legalidade e pelo Estado de Direito na era florianista, do trabalho, na réplica às observações de Carneiro Ribeiro ao seu Parecer sobre o Código Civil. Mas quanto a essa nova missão não tinha dúvida. Sabia que era capaz.

Naturalmente tinha consciência de que em Haia iria lidar com grande nomes internacionais, diplomatas experientes, tendo por trás de si Estados poderosos.

Mesmo em épocas tão pretéritas da política das Relações Exteriores e do direito internacional brasileiro, já se podia sentir o peso do marketing pessoal. Rio Branco habilmente preparava o caminho de seu embaixador. Mandou Joaquim Nabuco à Europa, espalhar a fama do representante brasileiro. Vários perfis de Rui, meses antes de sua ida eram publicados em jornais europeus. 

No navio, rumo à Europa, Rui fez amizade com o representante argentino, Luis Maria Drago, que contribuiu para colocá-lo a par das tendências fundamentais da Conferência. Ao chegar em Haia, o embaixador brasileiro, conselheiro Rui Barbosa, estava pronto para a luta.

E ela seria tremenda. Ignorado de início pelos representantes das grandes potências, Rui parecia falar em vão. Os presentes pareciam indiferentes aquela figura, discursando ao vento. Uma sensação de frustração invadiu seu ser. Mas ele buscava se fortalecer a partir das correspondências trocadas com o Barão, animando-o: não desista!

Ele soube se impor, apesar de o acharem meio arrogante, um homem franzino tentando dar lições à velha Europa. 

No dado momento das discussões, chamaram-lhe a atenção pelo que consideravam sua opinião política incompatível com a conferência de Paz, pelo que Rui se levantou e, todos perceberam sua imensa palidez, ia falar. 

Aos borbotões saiu-lhe o discurso, em francês, defendendo a opinião antes emitida. Em nome dos povos fracos e da própria noção de paz internacional, justificava a intromissão da política na Conferência. Não seria política, afinal, a absoluta ausência de debate político a que as grandes potências pretendiam sujeitar o conclave? Exaltou-se, falou como nunca antes falara, cercado do silêncio pasmo e admirativo de todos, Ao fim, não bateram palmas, mas Mr. Barbosa mudara de dimensão. Era agora, pessoalmente, um dos grandes.

Daí em diante, foi sucesso. Colocaram-no na Comissão dos Sete Sábios. Ouviam com atenção suas palavras. Contra a discriminação militarista ergueu-se a voz de Rui Barbosa defendendo a igualdade jurídica dos Estados. "Todos os países eram iguais perante a ordem internacional."

Rui defendeu com maestria o princípio básico: "todos são iguais perante a lei". E com isto inovava radicalmente na teoria política internacional. Como não podai deixar de ser, essa revolução não foi bem aceita de início. Mais, relutantes, as grandes potências tiveram que ceder, constrangidas pelos rumos das discussões que, levadas a efeito por Rui, chamaram atraíram a atenção da opinião pública internacional.

Aquela 2º Conferência Internacional pela Paz, de Haia, não resultou em grandes avanços, mas Rui se notabilizou perante os grandes debatedores, tidos inicialmente como baluartes do encontro. Ao chegar no Brasil, em grande festa, chamaram-no de "A Águia de Haia."

João Batista Nunes
Psicólogo Organizacional, Acadêmico do Curso de Direito e Pós-graduando em Gestão de Recursos Humanos. João Pessoa, Estado da Paraíba, Brasil.

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