Na faculdade de psicologia da UEPB, tive o prazer de ter sido apresentado ao emérito professor Dewey, através de sua obra "Vida e Educação" (1965), traduzida para o português por outro ícone da reforma educacional, o professor Anísio Teixeira, um profundo estudioso da escola behaviorista.
Dewey formulou sua base teórica educacional defendendo o princípio de que vida e educação estão interligadas e, por essa razão, não deve haver nenhuma separação entre si. Vida, em condições integrais, e educação são o mesmo. Depois que os fins da educação não podem ser senão mais e melhor educação, no sentido de maior capacidade em compreender, projetar, experimentar e conferir os resultados do que façam. A educação torna-se, desse modo, uma "contínua reconstrução de experiências".
A educação, na visão de Dewey é o processo de reconstrução e reorganização da experiência, pelo qual lhe percebemos mais agudamente o sentido, e com isso nos habilitamos a melhor dirigir o curso de nossas experiências futuras. Logo, a educação é fenômeno direto da vida, tão inelutável quanto a própria vida.
Depois de estudar a questão da educação tácita, legada pelas experiências sensoriais básicas e a educação institucionaliza, cuja maior representante é a escola, tem-se a resolução do problema da aprendizagem, isso é, a forma como aprendemos, de onde se destaca o método. O método pressupõe a classificação e exposição dos processos e modos pelos quais as "matérias" ou quaisquer outros assuntos podem ser melhor apresentadas e impressas na mente de quem aprende.
Se o nosso interesse fundamental é pela vida, aprender significa adquirir um novo modo de agir, um novo "comportamento" (behavior) de nosso organismo. Na linguagem usual: "saber é poder", isso é uma máxima. Aprender para a vida significa que a pessoa não somente poderá agir, mas agirá do novo modo aprendido, assim que a ocasião que exija este saber apareça. Mas quais as condições por que se processa essa aprendizagem que se integra, assim, diretamente a vida?
Em primeiro lugar: 1) Só se aprende o que se pratica. Seja uma habilidade, seja uma idéia, seja um controle emocional, seja uma atitude ou uma apreciação, só as aprendemos se as praticarmos. A escola, mesmo com feições de modernidade está organizada para permitir que se pratiquem certas habilidades mecânicas e certas idéias, sem cogitar da prática de outros traços morais e emocionais desejáveis em uma personalidade. Como aprender, com efeito, honestidade, bondade, tolerância, no regime preordenados de lições marcadas para o dia seguinte? Como tratar da devastação da vida pelas drogas, como o craque que está logo alí na esquina, vitimizando nossos adolescentes e jovens? Só uma situação real de vida, em que se tenha de exercer determinado traço de caráter, pode levar à sua prática e, portanto, à sua aprendizagem.
Nesta mesma linha de pensamento: 2) não basta praticar. A intenção de quem vai aprender tem singular importância. Aprende-se através da reconstrução consciente da experiência, isto é, as experiências passadas afetam a experiência presente e a reconstroem para que todas venham influir no futuro. Assim, não posso adquirir um novo modo de agir, se não tenho a intenção de adquiri-lo. A psicologia ensina exatamente que não aprendemos todas as "respostas" que nosso organismo dá aos "estímulos" de qualquer situação. O organismo escolhe as "respostas" que satisfazem o seu esforço. Em cada caso particular, aprendo aquilo que constitui o fim de minha atividade no caso. Aprendo as respostas justas, corretas, bem sucedidas e deixo de aprender as respostas mal ajustadas, falhas, erradas. Vê-se que o sucesso e insucesso determina inteiramente a direção de minha aprendizagem. É a atitude, o propósito, a intenção de quem vai aprender que decide sobre o que vai ser aprendido.
Tudo isso implica no fato de que 3) aprende-se por associação. Não se aprende somente o que se tem em vista, mas as coisas que vem associadas com o objetivo mais claro da atividade educativa, importa em desprezar, por vezes, coisas mais importantes do que o próprio objeto de ensino. Enquanto ensinamos aritmética, podemos estar ensinando também uma atitude de desgosto pela matéria, que venha perdurar toda a vida. Tal fato subjetivo, por sua vez, guarda relação com outro ponto pertinente: 4) não se aprende nunca uma coisa só. À medida que aprendemos uma coisa, várias outras são simultaneamente aprendidas.
Geralmente, em qualquer experiência, enquanto a atenção se dirige para esse ou aquele fator, tomando dele consciência mais ou menos viva, segundo Kilpatrick, duas ou três diferentes aprendizagem estão sendo adquiridas, com respeito a cada fator: primeiro, uma atitude de gosto ou de desgosto; segundo, uma idéia do que é o fator e de como ele age; terceiro, um ideal de qual deveria ser o seu caráter e a sua ação. Essa atitude, essa idéia e esse ideal se constroem juntamente com o objetivo direto da atividade.
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