sexta-feira, 5 de abril de 2013

A EXTINÇÃO DAS QUADRINHAS JUNINAS



Campina Grande se prepara para a 30ª edição de O Maior São do Mundo, um grandioso evento no calendário da cidade. São 30 dias de festa que movimenta o comércio; a rede hoteleira não consegue dar conta de tantos turistas que vêm ao município saborear as comidas típicas feitas com muito carinho, a exemplo da tradicional pamonha de milho verde, feita no leite de coco, queijo e manteiga da terra. Tem também a canjica, o pé-de-moleque, igualmente saborosos. 

São verdadeiros energéticos naturais que garantem a "sustância" necessária para o arrasta pé do caboclo com a morena, com seu traje especialmente feito para a ocasião. É um desfile de cores, um cuidado incessante com os retoques, uma troca de olhares enamorados que, aqui e ali, acabam terminando em "casório"! E por falar em casamento, no Maior São João do Mundo, todos os anos, o casamento coletivo virou atração. É para mais de 300 pares que trocam aliança de uma vez só!

Mas que festa teria brilho sem as tradicionais quadrilhas juninas? Tem gente que passa boa parte do ano se preparando para garantir seu espaço nas quadrilhas, esse segmento do São João que ilustra o cortejo matuto, as vestes  feitas de panos de chita, as maquiagens montadas à caráter, buscando reproduzir o modo de vida da ruralidade que homenageava os santos da boa colheita. 

O que torna a festa, de fato, tradicional, vanguardeira, originalmente original (redundância proposital) é o toque especial de realce da vida matuta, item que exalta a criatividade dos quadrilheiros. É precisamente isso que não identificamos nas apresentação desses últimos anos. 

No Nordeste, criou-se um "corrida por excelência" que alimenta a disputa renhida pelo prêmio da quadrilha ideal. A quadrilha que, com muito esforço, sagrou-se a campeã no Município, depois no Estado, agora, conflitua com os demais estados para, diante de uma mesa julgadora formada por peritos carnavalescos, obter a nota máxima e conquistar o troféu de regional.

Até chegar lá, uma verdadeira neurose toma conta dos envolvidos, que em suas particularidades, vão incrementando as quadrilhas com "cenários", com uma inventividade tão fértil que acabam por descaracterizar a quadrilha no seu essencial, ela deixa de ser matuta para ser estilizada, bombada por ritmos que não guardam relação alguma com aquela quadrilha tradicional . 

Mas como ganhar o troféu de campeã sem tornar a "quadrilha estilizada" a mais estilizada de todas? Cair na folia pré-carnavalesca dando também uns toques radicais de Rock-in-holl pauleira, pronto, assim, matou definitivamente a tão bonita quadrilha junina. 

A culpa dessa tragédia cultural é do governo local que não destina verba para custear o aparato que cada quadrilha apresenta? Afinal, na quadrilha estilizada, só um vestido exageradamente brilhoso varia entre R$ 1.000,00 à R$ 1.600,00! Ou será que quem está matando a quadrilha junina são os próprios quadrilheiros? Não me atrevo a dar essa resposta, embora já a tenha na ponta da língua.

Porém, não podemos deixar de frisar que existem muitas coisas que o dinheiro não pode comprar, uma delas é a criatividade. O pensamento criativo, como ditado por Von Oech (in Um 'Toc' na Cuca; ed. Cultura, 2002), "supõe uma atitude, uma perspectiva, que leva a procurar idéias, a manipular conhecimento e experiência". Desse prisma surgem os grandes campeões. Agora, por favor, não matem as quadrilhas juninas! A cultura vanguardeira agradece.

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