segunda-feira, 15 de abril de 2013

A CAMPINA DE LAURITZEN (PARTE I)



Os fatos históricos, posto que dinâmicos, sempre estão em constante movimento e redefinição. Particularmente, não aprecio narrativas prontas, acabadas. Prefiro trilhar pelo caminho mais íngreme na busca e garrimpagem do que se reveste ou venha revestir de importância para o conhecimento do passado (preferencialmente, sem retoques) e compreensão do presente. 

Naturalmente, o tempo do discurso eivado de romântismo poético e preciosismos latinizantes, com persistentes excessões, já passou e agora, resta ao pesquisador um olhar sereno, imparcial, desapegado das armadilhas contextuais, recontar a história com a crueza e monocromia de um Euclides da Cunha. 

Bem, vamos começar?

Como bem pontuado por Evaldo Gonçalves de Queirós (2000), Campina Grande nasceu com essa vocação histórica de desempenhar, ao longo do tempo, o importante papel de Cidade-Mercado. Nasceu do encontro de vários destinos, oferencendo pousada aos inúmeros viajores do sertão e do cariri pararaibanos, bem como de outras procedências nordestinas.

Nunca recusou seu acolhimento generoso a quem quer que seja. Essa hospitalidade campinense é marca registrada, de que nunca renunciou. Foi assim ponto de encontro, de conversas e de estreitamento de relações de quantos, tangidos pela vontade de vencer, deixavam seus afazeres nos campos e se entregavam à tarefa das trocas e vendas, das compras e escambos os mais diversos, nessa sublime missão de aproximar interesses e satisfazer desejos.

Foram os Tropeiros da Borborema que fundaram Campina Grande e a fizeram crescer. Simbolizou o exemplo mais afirmativo de uma revolução de costumes, ainda não descrita pelos sociólogos, nem pelos historiadores: Campina Grande ofereceu aos agricultores e criadores das várias áreas do Estado a oportunidade rara de se tornarem comerciantes, e até prestadores de serviços, antes da organização social e econômica da Paraíba.

Além dessa função de Cidade-Pousada, Campina Grande avançou pioneiramente, como sempre soube fazer, para aumentar suas ações. Acolher, simplesmente, era muito pouco para quem estava geograficamente privilegiada, no cimo da Serra, olhando mais de perto as alturas. Mas a hospitalidade por si só, não representava muito para as ambições de um aglomerado urbano com tendências a se tornar, em pouco tempo, uma Capitania do Comércio. Dentro dessa perspectiva, em vez de um simples ponto de encontro e conversa, Campina Grande haveria de se transformar numa cidade que, além da simples hospitalidade, disponibilizasse mercadorias e serviços, até então, somente prodigalizados na Capital do Estado e em algumas cidades do brejo paraibano. Cumpria a Campina se aparelhar para esse desafio: não só seria Cidade-Pousada. Seria, ao lado disso, uma Cidade-Mercado, capaz de abastecer toda uma hinterlândia, não só dentro dos limites estaduais, mas, sobretudo, além dessas fronteiras.

Esta foi a grande revolução: os Tropeiros da Borborema, também com vocação de pioneiros, a exemplo da cidade que os acolhia, preferiram, a certa altura de suas caminhadas, se fixarem na Campina Grande, convencidos de que se tornariam autores e responsáveis pela maior façanha de que se tem notícia na História da Formação da Paraíba.

Seriam, como foram, os fundadores de uma nova Civilização, representada por novas Conquistas, somente conhecidas na orla, onde começaram e, nessa época, estacionavam os impulsos civilizatórios do País.

A fundação da cidade de Campina Grande representou um fato inusitado, até então. Sem rios por perto, nem mananciais que lhe garantissem o abastecimento, fugiu dos parâmetros convencionais. Fixou-se no planalto, ignorando que somente as planícies geraram as grandes civilizações. Seja na antiguidade, seja nos tempos atuais Campina tinha que ser diferente. 

Para ela, o que importavam, desde o começo, eram os desafios. E por mais difíceis que fossem, melhor. Sua gente, formada por desbravadores sem fronteiras, sabia que o futuro da cidade haveria de ser construído com muito trabalho e pertinácia. Não foi de brincadeira que os migrantes do sertão, do cariri e do interior do Piauí, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará, vieram para Campina Grande.

A princípio, como Tropeiros. Depois, estabeleceram-se, convictos de que jamais abandonariam aquele solo, nem dele abririam mão, investindo nele todas as suas economias, trazendo, inclusive, suas famílias, a exemplo do que fizeram os primeiros povoadores da América do Norte. Se, até então, na Paraíba, tinha se registrada a ação dos bandeirantes, interessados em desbravar nosso território, somente preocupados em levar daqui nossos bens, os Tropeiros da Borborema, fundadores da Campina Grande, foram os primeiros a dar o melhor exemplo de pioneirismo, fixando-se para ali permanencerem, em caráter permante e definitivo.

Com tal ânimo, o clima foi por demais propício para o surgimento da Cidade-Mercado. Os antigos Tropeiros, acolhidos anteriormente como viajores, transformaram-se em habitantes comprometidos em fazerem funcionar a Cidade, com um novo modelo. Nasce Campina Grande, sob os auspícios de um grande centro abastecedor do nordeste brasileiro, reunindo suas duas funções básicas: Cidade-Pousada e Cidade-Mercado. 

Nessas condições, Campina Grande deu dois saltos simultaneamente: em termos quantitativos, aumentando seu espaço, como cidade, e qualitativos, quando diversificou suas atribuições, atendendo a um maior número de demandas.

Estavam criados todos os pré-requisitos para que Campina Grande continuasse a dar todos os demais saltos, que a tornaram na florescente Vila Nova da Rainha e na Capital do Trabalho, cujo epíteto, ainda hoje, conserva como galardão de que todos nós nos orgulhamos.


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Continua...


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