Os principais jornais do país reportaram a notícia do crime ocorrido, na noite de ontem (17) em Campina Grande, principal cidade do interior da Paraíba envolvendo quatro homens, entre eles um menor, e a vítima, um travesti, perseguido e morto a socos e pontapés, seguido de trinta golpes de faca.
O crime foi registrado com nitidez pelas câmeras da STTP-Superitência de Transportes e Trânsito, instaladas no cruzamento das ruas João Pessoa com a Índios Cariris, lugar tradicional de ponto de prostituição, primeiramente ocupado por prostitutas e por último, por travestis.
As imagens mostraram um carro preto se aproximando da vítima, quando três homens saem e, em questão de minutos, perseguem, espancam e matam o rapaz que fazia ponto naquele local. Um dos homens precisou puxar o braço do agressor que desferia os golpes de facas, ele parecia estar eletrizado pela fúria. O trânsito no local, por ser um dia de domingo, é reduzido, porém, carros e alguns transeuntes passaram apelas assistindo o crime acontecer.
Sem dúvida, um crime estarrecedor, a vítima ficou reduzida completamente em sua capacidade de defesa.
Minha análise, não destaca o fato de que a vítima era profissional do sexo, mas sim o fato de ser uma pessoa, um ser humano que, como qualquer um de nós, tem os mesmos direitos constitucionais, dentre eles, e o mais importante, o direito a vida. A idéia subjacente é que ninguém tem o direito de tirar a vida de outrem, senão, em legítima defesa, quando esgotadas todas as possibilidades de preservá-la.
Neste ponto, quero aqui, destacar dois temas importantes na discussão: a agressividade e a violência, numa perspectiva da psicologia. Assuntos que deveriam ser debatidos a partir do núcleo familiar, perpassando pela escola e a igreja, instituições que ainda exercem influência na sociedade.
A agressividade é uma energia internalizada, é a base dos instintos de sobrevivência humana e dos animais. Frente a um desafio de qualquer natureza, nosso cérebro dispara o gatilho da agressividade, significando dizer que, quanto maior o barreira que temos a vencer, tanto mais intensa será nossa agressividade. O binômio agressividade e conquista se alternam ao longo de nossa vida.
Com a organização da sociedade em torno da família extensiva, aquela formada pela figura do patriarca e dos inúmeros membros sob o mesmo domínio, estabeleceram as normas sociais de conduta. Com a gênese da família nuclear, formada pela figura central do pai, seguida da mãe, comando a criação dos filhos, essas leis que gerem a comportamento se cristalizaram e transpuseram os limites da família, indo atingir as demais instituições.
Hoje, ao contrário de nossos antepassados longínquos, nós utilizamos a agressividade, por ser ela uma energia motivacional. Para se ter uma idéia, um artista pode ser bastante agressivo ao retratar uma arte numa tela, um músico pode ser bastante agressivo ao executar uma melodia em seu instrumento, um designer pode ser bastante agressivo ao desenvolver um projeto arrojado e inovador, um estudante pode ser bastante agressivo em vencer as etapas de provas de seu colégio. Veja que a conotação não tem ligação com a visão comum sobre o tema.
Porém, quando essa energia, além de não ser canalizada, muito cedo, no período da fixação de regras de conduta, de valores morais e religiosos, é alimentada em ordem crescente, por valores humanos distorcidos, desagregadores, o indivíduo passa a usar o total dessa energia para o mal, então, a agressividade converte-se em violência, que por sua vez, é traduzida de forma multifacetada: violência verbal, xingamento, palavrões, atitudes rebeldes egocêntricas, apropriação indevida do espaço do outro; violência física, geralmente começando com ataques de ira, de menor impacto, empurrões, socos, pontapés, tapas, atingindo um limiar mais agravante, golpes com instrumentos cortantes e disparos de armas de fogo.
Está mais do que na hora, da escola - especialmente em sua base que é o ensino básico e fundamental - desenvolver uma pedagogia umbilicalmente ligada às famílias. O projeto pedagógico ter uma aplicabilidade integrada, assistida, acompanhada, limitadora eficaz da evasão escolar. Psicólogos, assistentes sociais, pedagogos e demais educadores, alargarem sua visão e assumirem a postura de agentes ativos da construção de mentes que estão aí, diamantes brutos, esperando ser lapidados, para vir a se tornar membros atuantes da sociedade.
Noticias de crimes recorrentes como essas, praticadas por pessoas que matam brutalmente sem motivo algum, como animais irracionais, são fortes indícios que a família e a escola falharam onde mais se requeria uma presença forte e decisiva: em sua base educacional.
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