terça-feira, 18 de agosto de 2015

FLORESTAN: UM EDUCADOR A FRENTE DE SEU TEMPO


Consta que “Vicente” (como o apelidara sua madrinha Hermínia Bresser de Lima, com quem viveu parte da infância, que não admitia que alguém de origem tão humilde – filho de sua empregada doméstica – tivesse um nome tão pomposo quanto “Florestan”) estudou até a terceira série primária no Grupo Escolar Maria José, no bairro de Bela Vista, quando dividia o tempo escolar com trabalhos de rua para ajudar no sustento da família, que se resumia, àquela época, a ele e sua mãe – uma moça analfabeta filha de imigrantes portugueses da região do Minho, que após a morte do pai, abandonou o campo, no interior de São Paulo, pelo trabalho duro na metrópole.

Aos nove anos, porém, foi obrigado a dedicar todo o seu tempo às tarefas de sustento da casa. Mas, segundo Florestan, numa visão retrospectiva, os professores tinham cumprido com ele “o seu ofício”, ensinando-lhe muitos hábitos higiênicos e relevantes ideais de vida. Em especial, o amor pela leitura, que resultou na vontade de ligar a natural curiosidade de criança aos livros que lhe fossem caindo às mãos.

O que me foi importante, porque no desespero de romper a castração cultural invisível foi por aí que eu próprio abri o meu caminho, formando uma curiosa cultura letrada, que ia do Tico-Tico à literatura de cordel, aos livros de piada, e a uma variadíssima literatura “erudita”, na qual prevaleciam os livros didáticos e de história, vendidos nos sebos, e os romances. Se a cidade continha alguma civilização, eu me tornei seu adepto e seu afilhado pelo autodidatismo (Fernandes, 1977, p. 146).

Florestan deu continuidade à sua socialização circulando pelo submundo das profissões de baixo valor social (engraxates, aprendizes de barbeiro, alfaiate, balconistas de padaria, copeiros, garçons etc.), um círculo em que as lutas operárias estavam fora de pauta e as fontes de informação eram as pessoas a que serviam ou os jornais sensacionalistas. “Uma criança ou um adolescente, dentro desse submundo, já faz muito quando enfrenta a pressão negativa contra a curiosidade intelectual” (Fernandes,1977, pp. 146 e 147).

(Referência Bibliográfica: BRASIL. MEC. Coleção Educadores. Frorestan Fernandes por Marcos Marques de Oliveira, 2010)

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