As manchetes de Jornais exploram exaustivamente as notícias de escândalos, geralmente envolvendo desvios de altas verbas públicas. Meses e meses seguidos na mesma temática e as descobertas ganham novos contornos. É o Mensalão do PT, é Petrolão, é a Máfia das Próteses e por aí em diante. "A culpa é desses políticos ladrões!!!" Bradou uma mulher dentro de um ônibus apinhado de gente, sob os olhares concordantes.
Depois de refletir sobre esse tema chego a seguinte conclusão: é muito fácil resumir a sintomática da corrupção no Brasil a classe política. Afinal, o volume de recursos desviados anualmente em todo o Brasil é algo astronômico.
E se a gente começasse a raciocinar na contramão desse pensamento formado e disseminado no senso comum? De quem seria a culpa pela histórica corrupção brasileira? Se não são os políticos os únicos responsáveis pela roubalheira reinante, quem mais seria?
Ouso afirmar: somos nós mesmos. Não são os políticos! Eu, você, todos nós. Como pode ser isto? Simples, mesmo que sejamos tardios em admitir.
A cultura da corrupção é alimentada por nós mesmos, nas mínimas coisas. Quando demonstramos para nossa família que "somos espertos" em estacionar na vaga destinada a idosos ou deficientes físicos, ou "furamos fila" para ser atendidos mais rápido em detrimento dos que já estão a mais tempo; ou quando mentimos para tentar justificar situações as mais triviais possíveis, estamos não apenas alimentando a corrupção, mas sendo corruptos e corruptores.
Quando fazemos micro inscrições com as possíveis respostas as questões da prova, somos desleais conosco, com nossos pares em sala de aula, sobretudo, desonestos para com nossos professores. Poderemos vir a ser até alguém na vida, quem sabe um (a) doutor (a), um(a) operador(a) do direito ou outro profissional, mas nossa trajetória já vem maculada pela corrupção.
Numa relação de pagamento pela compra de algo, quando recebemos uma quantia a mais do devido e, percebendo claramente a situação, omitimo-nos a retornar e devolver o excedente recebido, coitados de nós! Pensando em tirar vantagem sobre aquela quantia, na verdade estamos prostituindo nossa consciência, tentando encarar com naturalidade uma óbvia situação de desonestidade: somos corruptos!
São nas mínimas coisas do cotidiano que transmitimos aos nossos familiares mensagens não verbalizadas de posturas, comportamentos típicos de corrupção. O tirar vantagem de tudo, o velho "jeitinho brasileiro" tão danoso, tão prejudicial, vez que toda vez que estou na vantagem, de forma enganosa, significa que outras pessoas estão sendo injustiçadas, na desvantagem.
Outra questão se nos impõe: a situação esta irremediavelmente perdida?
Não. Desde que, como fruto de um amadurecimento dessa reflexão, minha postura seja conduzida pelo respeito ao próximo, pelo senso de justiça, de imparcialidade, de íntima disposição para as coisas corretas, pela lisura dos atos. "Seria eu limpo com balanças falsas, e com uma bolsa de pesos enganosos?" (Miquéias 6:11); "Dai pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus." (Mateus 22:21).
Mas a cristalização dessa postura deve começar pelo exemplo na vivência do lar, onde os olhares das crianças estão atentos ao que dizemos e fazemos (as palavras conseguem persuadir, porém os exemplos arrastam multidões); depois temos o importante ambiente da escola, um espaço privilegiado de socialização de saberes e posturas. É preciso que a escola desenvolva estratégias para incutir nas mentes, principalmente na primeira infância, os valores da retidão, da anticorrupção.
Então, estaremos formando gerações que em pouco tempo estarão conduzindo os destinos do País, movidas pelo verdadeiro sentimento de justiça e repúdio, repugnância, repulsa aos comportamentos desonestos.
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