segunda-feira, 14 de outubro de 2013

SEU GERALDO - O RETRATISTA


De todas as recordações que os mais velhos guardam do Bairro do Jeremias, Área Norte de Campina Grande-PB, além da Difusora de Laura de Chico Venâncio e do Cabaré da Nega Tonha, cantado por Zito Borborema, é sem dúvida os tempos idos do vái-e-vem de Seu Geraldo. 

Seria qualquer "Geraldo", ou mais um dentre tantos comuns moradores senão pelo seu ofício: "tirar retrato" como se dizia à época (1980-90). Com sua máquina fotográfica "Zenite" com flash acoplado.

Aniversário que se preze não era completo se não chamassem Seu Geraldo. Na hora do partir do bolo era um verdadeiro alvoroço, pessoas comprimidas pelos recantos da sala, ansiosas para sair no "retrato". E as expectativas? Depois de quatro a cinco dias, tempo da revelação, Seu Geraldo já trazia todas as fotos num Álbum. 

Disposto, comparecia a enterros, clicando as últimas feições do morto; as missas, nas ocasiões festivas, aos cultos dos crentes, aos terreiros de macumba, enfim, casamentos, batizados,times de futebol de pelada, lá estava Seu Geraldo!

Nesse tempo havia algo de especial em tirar retrato, algo místico, singular. As pessoas se preparavam, usavam a melhor roupa, não poupavam no Contorrer de Alfazema (daqueles verdes e fortes), do olho para cabelos, que tanto conferia brilho como maciez. 

A emoção tomava conta das pessoas, afinal, não era todo dia que se podia tirar retrato! E se porventura não satisfizesse o gosto, a chance estaria por conta do próximo aniversário no qual Seu Geraldo fosse novamente chamado. 

O retratista do Jeremias acompanhou o desabrochar do bairro, registrando através de sua máquina Zenite as caras e feições de tanta gente que se vinha e que se ia num constante movimento da vida. Do retrato preto e branco para compor a Carteira de Trabalho Identidade do cidadão, ou a Carteira de Estudante ao mais chique retrato colorido, tudo se convertia num fascínio indescritível.


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