QUE NÓS PASSAMOS A MAIOR PARTE DE NOSSAS VIDAS NO TRABALHO, É INCONTESTÁVEL. QUE TAMBÉM AS RELAÇÕES INTERPESSOAIS, O AMBIENTE E O CLIMA, DIZEM MUITO ACERCA DO ESTADO DE NOSSA SAÚDE, É OUTRA VERDADE.
O tempo passa, mas o trabalho continua sendo o locus de realização das pessoas. Com efeito, "o trabalho é uma prática transformadora da realidade que viabiliza a sobrevivência e a realização do ser humano. Por meio do ato e do produto de seu trabalho o ser humano percebe sua vida como um projeto, reconhece sua condição ontológica, materializa e expressa sua dependência e poder sobre a natureza, produzindo os recursos materiais, culturais e institucionais que constituem o seu ambiente, e desenvolve seu padrão de qualidade de vida.¹"
Há três aspectos fundamentais que entram na composição da psicodinâmica do trabalho, a saber: o outro, o ambiente e o clima. A mescla desses fatores se constitui na base para a compreensão do que se passa na vida psíquica, social e de trabalho da pessoa do/a trabalhador/a.
Em grau de importância primeira, situamos o outro. Desde as conversas que irão nos encaminhar para uma possível admissão ao fazer prático do dia a dia do trabalho, começamos e terminados a partir e através do outro.
No dizer de Monique Augras, "o mundo humano é essencialmente mundo da coexistência. O homem define-se como ser social e o crescimento individual depende, em todos os aspectos do encontro com os demais.²"
Na verdade, embora não reconheçamos, nossa vida a partir do primeiro balbuciar oficializando o requerimento pela porção alimentar básica da primeira hora da manhã, ali, mesmo, no improviso materno do berço, já somos o resultado de uma rede de dependências em relação ao outro.
E tanto mais nos afastamos do núcleo familiar, tanto mais nos fazemos dependentes de gente que sequer conhecemos e não esbarramos com ela pelos corredores do cotidiano. É a tal da complementariedade que fundamenta a compreensão de si no reconhecimento da coexistência.
Heidegger³ chama a atenção para o fato de que, mesmo sem a presença do outro, o ser no mundo é ser com os outros. Estar só é estar privado do outro, num modo deficiente da coexistência, que constitui uma das estruturas do ser no mundo.
[1] ZANELLE, José Carlos et al. Psicologia, Organizações e Trabalho no Brasil. Porto Alegre: Artmed, 2004.
[2] AUGRAS, Monique. O Ser da Compreensão - Fenomenologia da Situação de Psicodiagnóstico. Petrópoles: Vozes, 1986.
[3] Heidegger - Martin Heidegger (1889-1976) foi um filósofo, escritor, professor universitário e reitor alemão. Obra de destaque O Ser e Tempo (1927).
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