quinta-feira, 20 de março de 2014

EU FAÇO DIREITO NA CAVERNA DE PLATÃO!


Na sala lotada, reina o calor. Ar-condicionado sem manutenção. Janelas abertas, criando uma ambiência conflitiva entre o som automotivo do churrasquinho lá fora e aula da professora aqui dentro. Uma explanação de alta relevância constitucional é, de repente solapada, por um fuzuê externo incompatível que rouba a cena, induz, misturando-se com a barrulheira provocada por aquele estímulo. 

Afora isto, tudo bem. Isto é, quase tudo bem... 

Eu faço Direito na Caverna de Platão! Uma instituição de ensino superior super inflada com alunos do FIES - Fundo de Financiamento Estudantil cada vez mais lotando os corredores e salas, ao ponto de estarem tão apinhadas de gente que os mosquitos se ressentem da falta de espaço!


Um diagnóstico da estrutura organizacional interna e externa revelou que a Caverna de Platão deixa muita a desejar.

Como ponto positivo merece destaque o elenco de professores excelentes, que esforçam para desempenharem seu papel mesmo em face de tantas limitações. 

Sendo uma empresa de natureza familiar, ficou patente na análise que não há espaço para desenvolvimento do profissional competente ascender, ou propor mudanças, avançar, dar feições empresariais que confiram qualidade. É nesse ponto que se observa sérios problemas ligados ao clima organizacional, um dos pilares do sucesso na empresa.

Nota-se uma completa desarmonia com o ideal de qualidade de uma empresa séria! Não se tem um sistema de gerencialmente de informação eficaz. O portal de instituição não funciona na parte de intranet prejudicando professores e alunos. Não há segurança no perímetro, apenas um "faz-de-conta". Um acumulo de carros num vasto estacionamento improvisado em terrenos, boa parte das ruas com péssima iluminação, uma situação preocupante!

João B Nunes
Psicólogo e Estudante de Direito


sexta-feira, 7 de março de 2014

UM FUTURO NÃO TÃO LONGE


Estamos neste exato momento no ano de 2070 do século XXI. Grandes transformações em todos os âmbitos têm se processado e a humanidade vive uma nova realidade. 

A população mundial que em 2015 era de 7 e meio bilhão de pessoas, reduziu-se para 5 bilhões. As ondas frequentes de irradiação solar e suas terríveis consequências para o Planeta nos forçaram à mudanças radicais. Instaurou-se uma Gerência Internacional comandada por dez líderes os quais extinguiram a ONU-Organização das Nações Unidas, OTAN-Organização do Tratado do Atlântico Norte, OEA-Organização dos Estados Americanos e demais organismos internacionais para dar lugar a efetivação de uma Nova Ordem Mundial que preserva o respeito e a garantia dos direitos fundamentais do ser humano, mas pune com pena capital determinados crimes, independentemente do país que estes sejam cometidos. Os países cederam parte de seus diretos de independência e soberania para harmonizar um só sistema global.

Instituiu-se uma identidade universal para todo cidadão. Partículas de nanobytes injetadas na corrente sanguínea reúne informações sobre o cadastro da pessoa podendo ser lido através de scanners governamentais e comerciais com a simples aproximação sensorial, sem precisar empregar alguma máquina de leitura ou mecanismo externo.  A pessoa, quando solicitada, verbaliza uma sequência básica alfanumérica e o scanneamento é ativado automaticamente num monitor próximo ou num dispositivo móvel.

A grande mudança verificada é que hoje não existem mais casas, ruas e bairros. A irradiação solar provocou milhares de mortes levando a população a morar em grandes concentrações de macro-condomínios projetados especialmente para essa nova realidade. A mobilidade urbana durante o dia só é possível com o uso de vestimenta especial. Na maioria dos condomínios as pessoas exercem suas atividades em sistema de homeofficer. Não precisam ir à agências bancárias pois o salário é em sistema de créditos proporcional acessível de acordo com a necessidade da pessoa.

Para 90% da população, a alimentação é fornecida pelas empresas de bioprocessamento em forma pastosa contendo os valores nutricionais específicos para cada situação. É o mesmo alimento fornecido para os setores de trabalho de minérios na Lua, ou em condomínios e Centros de Pesquisas de Marte.

Para qualquer tipo de deslocamento, de média ou grande distância, só é possível  através de veículos coletivos, os Transportadores  Hoover, Aéreos e Terrestres.

Na área de saúde, drones especializados diagnosticam as pessoas de forma online, scanneando o estado biopsicossomático, prevendo através da análise o requerido em inibidores neuronais de acordo com cada quadro sintomático, catalogando as possíveis variáveis no aspecto holístico.

Quando o assunto é segurança, tanto das pessoas como patrimoniais, boa parte é coberto por forças de segurança pública, preparado para uso moderado e alta contenção; emprego, para último caso, de armas letais que disparam um micro feixe de luz monocromático que leva à morte em fração de segundos, sem provocar lesões externas. Além de DronesPolice utilizados em quadrantes e perímetros.

O índice de criminalidade, em todas as modalidades caíram em 89%. Armas tradicionais de balísticas se resumiram a poucos exemplares, sendo possível encontrá-las apenas em museus, desde que uma varredura em escala mundial recolheu todas elas, dos exércitos, milícias, e demais forças. Do Iraque, Afeganistão, Oriente Médio com um todo, Balcãs  à Colômbia, na América do Sul, o recolhimento foi preciso, representando um quantum no número de vítimas poupadas, surpreendente.

Quanto aos suprimentos vitais, a água potável é processada e racionalizada, representando um limite máximo por membros de cada família. As necessidades higiênicas são feitas através de cápsulas de higiene pessoal à vapor, a base de soluções químicas.

Todo o processo agroindustrial é feito em enormes silos espalhados por quadrantes, atendendo especificamente o população daquele determinado setor. Não é possível mais plantar e colher com uma atmosfera comprometida pela irradiação e outros males provocados pelo efeito estufa. Chuvas corrosivas são frequentes. 

Problemas relacionados à fecundação humana acomete 97% da população mundial, representando uma diminuição avançada de gestação, e consequentemente, envelhecimento rápido. O governo investe com poucos resultados no processo de acompanhamento do processo gestacional assistido das pouquíssimas mulheres em condição de ovular. 

Encoraja-se, através de incentivos governamentais que mulheres achadas em condições férteis, optem por morar em alguma estação domiciliar de Marte, como parte do plano de povoação num novo ambiente, mas sadio, até que a superestação lunar esteja concluída.

A saga continua...





segunda-feira, 3 de março de 2014

RITINHA PARTEIRA


Lá pelos idos de 1980, no alto do Jeremias¹, Rua São Cosme, morava Dona Ritinha, viúva. Mãe de Genaro e Madalena. Ritinha podia ser considerada também, mãe de inúmeros filhos. Ela era parteira, daquelas tradicionais, com apurado olho clínico e vasta experiência em trazer à luz, a qualquer hora que fossem requisitados seus serviços.

Madalena teve dois filhos, De Assis e Edjane. O primeiro deu para ladrão e assaltante, cujas recorrências eram conhecidas pelo Comissário de Polícia do Bairro, Sargento Joca; Já Edjane, desencaminhou-se com um velho enxerido, torneiro mecânico daquelas oficinas perto do Quartel do Exército, que lhe pagava algumas moedas para apalpa-la nas partes íntimas. Depois, passou a ganhar algum dinheiro a mais como rapariga. 

Tanto Madalena, enfermeira, quanto Edjane, sua filha e neta de Dona Ritinha, foram morar definitivamente no Rio de Janeiro, deixando para trás, De Assis, preso da Cadeia de Monte Santo².

Dona Ritinha, já com cabelos brancos, entrou para lei dos crentes. Podia-se encontrá-la na igrejinha da Assembleia de Deus, distante apenas três casas de onde morava.

Sempre que saia de casa era comum transeuntes de todas as cores, aqui e acolá, cumprimentarem-na com a expressão: "Benção, mãe!"

Eram os "filhos e filhas" de Dona Ritinha. 

Quando em altas horas da madrugada um moleque trazia o recado de urgência (não tinha celular, nem telefone público, daqueles azuis da Telpa, com fichinhas cinzas) em relação à Dona Ritinha era sempre caso de mulher prenha³ em vias de parir4. Ao que, de presto, era atendido. 

Ao chegar, com dificuldades pelo péssimo estado das ruas esburacadas e lamacentas do Jeremias (à época), com pouca ou nenhuma iluminação à noite, passava a examinar a barriguda aflita. "-Fique calma, mulher! Esse menino só vai nascer amanhã pela tardinha!" 

Tal como Dona Ritinha previra, acontecia! E logo era trazido ao mundo dos viventes mais um ser inocente para ser moldado pelo meio que o envolvia.

Dona Ritinha morreu já bastante velha e cansada de seus dias, numa casa onde morava com seu filho Genaro, na Rua Isabel Cristina Barbosa Dias, Conjunto Promorar, Bairro do Jeremias. Quanto aos serviços de parteiras, nessa mesma localidade, as gestantes, nas necessidades urgentes da gravidez, apelam logo para o SAMU e Maternidade Dr. Elpídio de Almeida.

Sobre: De acordo com o DATASUS, no Brasil são realizados, em média, 41 mil partos domiciliares por parteiras tradicionais, principalmente nas Regiões Norte e Nordeste. Elas estão desaparecendo aos poucos, sem sucessoras, mas ainda são bastante ativas nas áreas mais remotas e inacessíveis.   


João B Nunes
Psicólogo e Acadêmico do Curso de Direito

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¹ Bairro do Jeremias, Zona Norte da cidade de Campina Grande, Estado da Paraíba. Bairro periférico, com histórico de vulnerabilidade social. O terceiro bairro mais antigo da cidade, originado a partir da ocupação de terrenos (década de 1920, mais ou menos) de um sítio pertencente ao Sr. Jeremias, que morava no principal acesso, à época, Rua XV de Novembro. Todos os domingos, pela manhã, no final de cada mês, a viúva de Seu Jeremias, passava pelas casas cobrando o "foro", um tipo de imposto do tempo Imperial que os herdeiros de terras praticavam em relação aos ocupantes;
² Bairro do Monte Santo, Zona Norte, limite com o Jeremias;
³ Mulher prenhe ou prenha era expressão de uso corrente em muitos dos interiores nordestinos para dizer que tal mulher estava grávida;
4 Parir: Dar à luz/parturiente.