quarta-feira, 29 de maio de 2013

HISTÓRIA SOCIAL DA LOUCURA

UMA INTRODUÇÃO À HISTÓRIA DA LOUCURA
Desde tempos imemoriais a loucura é assunto que causa estranheza para a maioria das pessoas, até na nossa família casos próximos ou não tão próximos vierem marcar nossas histórias em algum nível, dependendo do grau de envolvimento afetivo que temos com aquele determinado membro.

A regra básica para lidar com o assunto é conhecer essa realidade e o ponto inicial é pela história social da loucura, aprendendo com as distorções cometidas a tanto, para refinar o tratamento humano e afetivo, de modo a descobrir o ser que há por trás do louco.

Comecemos pela Grécia Antiga, onde a loucura era vista como manifestação dos deuses, aqui o louco era reconhecido e valorizado socialmente. Neste período as palavras ditas pelo louco eram como um importante saber capaz de interferir no destino das pessoas.

Já Início da Idade Média, como registra Michel Foucault,  na história da loucura, retratando um contexto de exclusão: “(...) mas para se falar da loucura é necessário primeiro fazer uma retrospectiva sobre como era compreendido o processo de exclusão e a criação dos leprosários; o qual foi criado com o intuito de colocar os leprosos não com o objetivo de tratamento, mas sim de excluir da sociedade. Com o desenrolar do momento histórico os leprosários iam gradativamente desaparecendo. Mas logo foi preenchido por pessoas que não contribuíam para sociedade como: os mendigos, feiticeiros, portadores de doenças venéreas, doenças mentais e outros”.

Com a lotação dos leprosários, os excluídos foram colocados dentro de navios sem direção de desembarque. Porém, para a cultura da época a exclusão e o abandono era sinal de salvação.  Logo com o desaparecimento da lepra, surgiram as doenças venéreas, mas estas não permaneceram muito tempo no palco, pois a ciência logo trouxe explicação para sua causa e tratamento. O espaço deixado pela lepra só foi substituído por um fenômeno bastante complexo a loucura, onde a ciência não tinha explicação para sua causa e tão pouco para seu tratamento.
Neste período os loucos passaram a ser associados a demônios e seres possuídos; Passando agora a viver acorrentado e exposto à toda forma de maus tratos e humilhações como: frio, cede fome, e outros. Alguns eram queimados em fogueiras como hereges.

No Renascimento a loucura perde a posição de natureza divina e ganha o status de desrazão, o louco então visto agora como aquele que transgride ou ignora a moral racional.  Sendo inserido no conjunto de periculosidade, concluindo que o mesmo é desrazoado, e não tem controle de seus atos, se tornando uma ameaça, vivenciando agora um paradigma denominado razão e loucura, onde a origem está no interior do homem, se alimentando de nossas angústias, ilusões e sonhos. Sonhos estes que só podem ser realizados no mundo irreal, criado pelo próprio sujeito, um mundo de fantasias.

No Século XVII, com o emergir do mercantilismo que traz como pressuposto a visão de que a população era o bem maior de qualquer nação, pensamento este que trazia uma visão lucrativa, ou seja, todo aquele que não era produtivo para o crescimento da nação era inseridos no conjunto de mendigos, loucos, e outros.
O Século XVIII foi o período no qual nasce um novo conceito de psiquiatria proporcionado pelos trabalhos Philipe Pinel (considerado pai da psiquiatria). Aqui o surgimento da chamada humanização dos loucos, que passaram a ser denominados de pacientes, onde também foram tiradas suas correntes. O tratamento da doença neste momento era medicamentoso e terapêutico. Todo este contexto contribuiu para criação dos hospitais visto como uma instituição médica. Neste período pregava-se a liberdade dos doentes mentais, mas esta liberdade era contraditória, pois os médicos na sua insensata buscam pela cura terminaram trazendo outra forma de escravidão que era o “acorrentamento psicológico”.

Tendo como objetivo apenas o diagnóstico e rotulação dos pacientes; um lugar onde os médicos eram os detentores do saber e a ele cabia toda autoridade sobre suas vidas como também de sua doença. Inicia-se então a grande caminhada do doente mental, este se tornando objeto de estudo da medicina, e recebendo em troca exclusão social, alienação sendo refugiando em tempo integral nos hospitais longe da família e do contexto social ao qual estava inserido; levando a um estado de cronificação da doença. A medicina justificativa esta estratégia de trabalho como sendo necessário e importante para o processo terapêutico.


O Brasil copiou o modelo hospitalocêntrico das experiências europeias do século XIX. Os hospitais eram administrados pelas Santas Casas de Misericórdias tendo como gestores a Igreja Católica a detentora do poder. O Hospício de Pedro II foi inaugurado em1852 no Rio de janeiro este surgiu como resposta á loucura e ao louco, desencadeado devido o numero crescente de pessoas livres e ociosas que circulavam pelas cidades principais da capital.

Este hospital tenha como objetivo implícito limpar a cidade das pessoas denominadas improdutivas. Então a história da loucura esta lado a lado com o capitalismo, momento este onde foram criadas as primeiras indústrias farmacêuticas no país. Os Psicotrópicos tinham o objetivo de propiciar a cura da doença mental; porem seu segundo plano era lucrativo.

Amarante define reforma psiquiátrica como um processo histórico de formulação crítica e prática, que tem como objetivos e estratégias o questionamento elaboração de propostas de transformação do modelo clássico e do paradigma da psiquiatria (1995).

Este foi um importante marco na história da reforma psiquiátrica, que repercutiu em todo o mundo, foi à perspectiva Basagliana que surgiu na Itália, a partir de 1961, com a experiência de Franco Basaglia, no hospital psiquiátrico de Gorizia. Este movimento veio produzir uma modificação na forma de assistência prestada aos doentes mentais, ou seja, uma modificação dos saberes e praticas prestada pela assistência psiquiátrica clássica. A reforma psiquiátrica veio modificar os serviços prestados aos doentes mentais de formal gradual trazendo uma atenção mais humanizada ao sujeito ao qual deveria ser visto de forma integral onde o todo não pode ser separado das partes; levando a garantia de uma inclusão social que é direito de todo cidadão Brasileiro.


No Brasil o processo de reforma psiquiátrica ocorreu em 1970; contemporâneo do movimento sanitário.  Período este que se dividiu em dois momentos o primeiro se deu através da critica ao modelo hospitalocêntrico (1978-1991). O Segundo momento acontece com a implantação das redes extra- hospitalares (1992-2000).

sábado, 11 de maio de 2013

PERÍCIA PSIQUIÁTRICA

Uma excelente matéria produzida por Marcia Guimarães da Revista Psique (edição especial, Ano I, Nº 5), despertou-me a atenção para um tema que, nestes útimos anos vem sendo objeto de muitas especulações. Afinal, existe mente criminosa? Uma pessoa que comete um delito carrega, em seu código genético, características que predispõe ao crime?

Raciocinar dessa forma não implica em desenhar uma árvore genealógica de criminosos potenciais? O psiquiatra forense Talvane de Moraes, vice-presidente da Associação Psiquiátrica do Rio de Janeiro (APERJ), afirma que não existe a terminologia 'mente criminosa'. "Na escala de crimes você tem, numa ponta, o crimonoso eventual, que pode cometer um crime pacional, resultante de uma ação simultânea; e no outro extremo, existem pessoas que cometem crimes graves, cruéis, dissoantes do comportamento do resto da sociedade, mas isto não quer dizer que elas tenham nascido assim", explica Morais, lembrando que as reações bioquímicas que ocorrem no cérebro de um criminoso são semelhantes às de quem não comete crime algum.

Falar no mecanismo bioquímico é falar das etapas de funcionamento cerebral. Toda pessoa tem momentos em que é alterado o status de sua bioquímica cerebral, o que não quer dizer ela vá cometer um crime.

Mas o impulso que leva uma pessoa a ter um comportamento criminoso não pode ser explicado geneticamente, como um juiz pode ter absoluta certeza de que o indivíduo que praticou o crime tinha a real noção do que estava fazendo? Como diferenciar um crime premeditado, ou um ato cometido num impulso de raiva, de outro praticado por uma pessoa com algum tipo de transtorno mental?

A psiquê humana não é uma questão de domínio do magistrado. Para evitar equívocos na hora da sentença, o juiz solicita a assessoria de profissionais especializados na avaliação da mente humana - como é o caso do psiquiatra e do psicólogo forense - que traçam o perfil psicológo de quem praticou o crime ajudando, assim, a humanizar os julgamentos por meio das perícias psiquiátricas.

O perfil psiquiátrico é definido por meio de entrevistas e de análise das relações subjetivas do crime, ou seja, da lógica que o motivou. O impulso de defesa, a raiva, a inveja, a vingança, o despeito ou a frustração estão presentes na maioria das histórias. O papel do psiquiatra forense é avaliar se a pessoa cometeu o crime com pleno discernimento ou não, utilizando seu conhecimento técnico.

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sexta-feira, 3 de maio de 2013

AS SENSAÇÕES EM JOHN LOCK



Para algumas pessoas os sentidos se confundem. Olhar para um número, por exemplo, evoca uma cor específica. Esse fenômeno, chamado sinestesia, aparentemente ocorre porque areas cerebrais que normalmente não interagem no processamento de informações “esbarram” em outras regiões e as ativam. O resultado dessa “contaminação” é que um único estímulo – visual, auditivo, olfativo ou tátil – pode desencadear a percepção de dois eventos sensoriais diferentes e simultâneos. Há pessoas, por exemplo, que toda vez que sentem um odor (real), escutam certo som (imaginário). Outros enxergam em cor uma letra do alfabeto escrita com tinta preta. Não se trata de um quadro temporário na maioria dos casos, ainda que haja algumas raríssimas exceções; por isso um dos principais critérios para a detecção de sinestesia é sua estabilidade ao longo do tempo. Também não é caracterizada como distúrbio. Os sinestésicos são pessoas absolutamente normais, que não manifestam problemas cognitivos ou outras disfunções.

O filósofo inglês John Locke foi o primeiro a descrever a sinestesia. No ensaio sobre o entendimento humano, de 1690, ele conta a história de um intelectual cego que, depois de muito refletir sobre como representar os objetos visíveis, orgulha-se de ter finalmente percebido o significado da cor vermelha: “É como o som de uma trompa”. Para alguns historiadores, porém, o primeiro registro do fenômeno sinestésico é do filósofo grego Aristóteles, que escreveu sobre o paralelismo entre “aquilo que é agudo ou grave ao ouvido e aquilo que é áspero ou suave ao tato”.

O conhecimento sobre a sinestesia se ampliou no início do século 18 graças aos trabalhos do físico inglês Isaac Newton e do matemático alemão Gottfried Leibniz. O primeiro estudou o caso de um cego que representava as cores com o timbre dos instrumentos musicais; o segundo observou a existência de uma relação entre as cores que compõem o espectro da luz visível e as notas da escala musical.

Em 1880, o polímata inglês Francis Galton publicou um artigo no qual descreveu pessoas que, uma vez submetidas a estímulos reais, percebiam atributos inexistentes nestes, por exemplo a cor de um número. Galton intuiu que não se tratava de simples associação conceitual, mas de um fenômeno de percepção contraditória. A comunidade científica recebeu o estudo com ceticismo e a maioria dos pesquisadores preferiu ignorar o fenômeno, que julgavam fruto de mentes fantasiosas, sugestionáveis ou propensas a enganar o pesquisador. Os avanços na área não foram significativos até a segunda metade do século 20. Nas décadas de 60 e 70 surgiram muitos estudos sobre os efeitos sinestésicos de substâncias como ácido lisérgico, mescalina e psilocibina.

Fonte: Mente e Cérebro