Gostaria de começar discorrendo sobre O QUE NÃO É inclusão digital, para poder me aproximar mais ou menos no que realmente interessa no uso e abuso dessa expressão tão recorrente no governo e em certos ciclos.
Primeiro, com a devida vênia, não é preciso ser um expert no fabuloso mundo midiático, do tipo tecnológico ao extremo, daqueles caras que usam chinelão de couro, jeans desgastado e mochila com um tablet e um notebook de última geração, óculos fundo de garrafa e andar despojado. Mas, seja em qualquer situação, via de regra, é preciso saber fazer uma leitura justa da realidade. Isto já era proposto pelos filósofos da Antiguidade, do tempo em que vela dava choque. Enfim:
-INCLUSÃO DIGITAL não é um curso básico de World, Excel e Paint
-INCLUSÃO DIGITAL não é um curso de Internet para aprender a usar o Orkut, Facebook e Twitter.
Governos e instituições sociais beneficentes têm se esmerado para apresentar números otimistas desse tipo de “inclusão digital”. Louvável esse esforço, mais isso ainda não é INCLUSÃO DIGITAL.
Afinal, o que é então? Inclusão Digital é, numa definição prática e simples, a apropriação igualitária, justa, de qualidade técnica e de insumos, que o pobre da periferia, dos morros, da zona rural, das escolas públicas, dos lixões, deveriam ter como item indispensável, acessório, para a formação e transformação de suas realidades, a partir do fluxo e refluxo de conhecimentos que possibilitem a compreensão, a maturação do saber, ou dos Sete Saberes de Edgar Morin, acunhando e aprofundado o traçado com Celso Furtado, desenvolvimento sustentável em nível local, perpassando por Anísio Teixeira, Educação para todos, findando com Paulo Freire, desenvolvimento educacional a partir do meio.
Do que adianta ter acesso a um computador novíssimo e potente, se tudo que sei é acessar o Orkut? Se meu mundo é reduzido à mesmice de todos os dias? Ou pior, se o sinal da Internet é fraco, sem qualidade. Tem coisa mais excludente do que fingir que isso é inclusão digital?
É preciso investir maciçamente na educação crítica, na formação do ser total, no afloramento de consciências para se chegar a mínima noção de que não nos basta a “vontade política” de se promover a inclusão digital, é necessário e urgente romper os laços com monopólios das telecomunicações que enriquece às custas dos governos e nessa quebra de braço e cabo de guerra, essas empresas sempre ganham e são responsáveis diretas pelo atraso e ineficiência dos projetos de inclusão digital.
Quando estamos diante da televisão somos bombardeados por um quantum de sugestões que criam e impõe modelos sociais de forma unilateral, para expectadores passivos; quando nos apropriamos da inclusão digital, existe uma troca de idéias, e a possibilidade de somatório de lá pra cá e de cá pra lá. Ou seja, o desenvolvimento que se dá lá, pode partir inclusive de cá, mesmo que a distância geográfica entre o “cá” e o “lá” seja continental. Isso é Inclusão Digital.