domingo, 24 de julho de 2011

O QUE É INCLUSÃO DIGITAL?


Gostaria de começar discorrendo sobre O QUE NÃO É inclusão digital, para poder me aproximar mais ou menos no que realmente interessa no uso e abuso dessa expressão tão recorrente no governo e em certos ciclos.

Primeiro, com a devida vênia, não é preciso ser um expert no fabuloso mundo midiático, do tipo tecnológico ao extremo, daqueles caras que usam chinelão de couro, jeans desgastado e mochila com um tablet e um notebook de última geração, óculos fundo de garrafa e andar despojado. Mas, seja em qualquer situação, via de regra, é preciso saber fazer uma leitura justa da realidade. Isto já era proposto pelos filósofos da Antiguidade, do tempo em que vela dava choque. Enfim:

-INCLUSÃO DIGITAL não é um curso básico de World, Excel e Paint

-INCLUSÃO DIGITAL não é um curso de Internet para aprender a usar o Orkut, Facebook e Twitter.

Governos e instituições sociais beneficentes têm se esmerado para apresentar números otimistas desse tipo de “inclusão digital”. Louvável esse esforço, mais isso ainda não é INCLUSÃO DIGITAL.

Afinal, o que é então? Inclusão Digital é, numa definição prática e simples, a apropriação igualitária, justa, de qualidade técnica e de insumos, que o pobre da periferia, dos morros, da zona rural, das escolas públicas, dos lixões, deveriam ter como item indispensável, acessório, para a formação e transformação de suas realidades, a partir do fluxo e refluxo de conhecimentos que possibilitem a compreensão, a maturação do saber, ou dos Sete Saberes de Edgar Morin, acunhando e aprofundado o traçado com Celso Furtado, desenvolvimento sustentável em nível local, perpassando por Anísio Teixeira, Educação para todos, findando com Paulo Freire, desenvolvimento educacional a partir do meio.

Do que adianta ter acesso a um computador novíssimo e potente, se tudo que sei é acessar o Orkut? Se meu mundo é reduzido à mesmice de todos os dias? Ou pior, se o sinal da Internet é fraco, sem qualidade. Tem coisa mais excludente do que fingir que isso é inclusão digital?

É preciso investir maciçamente na educação crítica, na formação do ser total, no afloramento de consciências para se chegar a mínima noção de que não nos basta a “vontade política” de se promover a inclusão digital, é necessário e urgente romper os laços com monopólios das telecomunicações que enriquece às custas dos governos e nessa quebra de braço e cabo de guerra, essas empresas sempre ganham e são responsáveis diretas pelo atraso e ineficiência dos projetos de inclusão digital.

Quando estamos diante da televisão somos bombardeados por um quantum de sugestões que criam e impõe modelos sociais de forma unilateral, para expectadores passivos; quando nos apropriamos da inclusão digital, existe uma troca de idéias, e a possibilidade de somatório de lá pra cá e de cá pra lá. Ou seja, o desenvolvimento que se dá lá, pode partir inclusive de cá, mesmo que a distância geográfica entre o “cá” e o “lá” seja continental. Isso é Inclusão Digital.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

A GUERRA SANTA NEOPENTECOSTAL


Analisando a evolução expansionista e, obviamente patrimonial, de uma das maiores igrejas neopentecostais, a Universal do Reino de Deus, vejo-me de volta numa das salas de aula da Faculdade de Psicologia (UEPB) em Campina Grande naquela manhã em que ouvia grupos de colegas fazendo a defesa dos textos de GUARESCHI (Textos em representações sociais, cap.6, pág.191-223) sob o título "Sem Dinheiro não Há Salvação".

Alí, fora-me confirmado o pensamento de que quase todos sabem falar sobre futebol, muito pouco, sabem falar - com propriedade -, sobre religião e/ou movimentos religiosos. Foi quando, chegada a minha vez, pude sanar vários pensamentos equivocadíssimos que pairavam de forma nebulosa misturando Tomé com bebé, do tipo pentecostalismo, neopentecostalismo e tradicionalismo religioso. Para minha surpresa, ao passo em que lhes esclarecia os fundamentos originados no Séc. XVI, até antes com Jonh Huss e Wycliff, culminado com Matin Lutero, ouve um silêncio sepulcral e os que dantes se debulhavam em risos entoando o velho hino destoado da realidade de que "todo pastor é ladrão" se curvaram ao crivo da história crítica que aí está, disponível nos melhores livros à espera de arguto leitor.

O fato é que a Igreja Universal do Reino de Deus, pertencente ao grupo dos neopentecostais que emergiram na década de 80 no Brasil, não se denomina evangélica, nem católica romana, nem espírita ou outra linha filosófico-religiosa, mas sim "cristã", e pronto. O que aproxima os líderes fundadores desse ramo religioso é o discurso coerente, direto, persuasivo, com que arrebanha milhares de pessoas. O Bispo Edir Macedo, por exemplo, é um senhor elegante, educado, um profissional das massas pelo poder de mobilização já demonstrado pelo IURD. Comparado ao Missionário RR Soares, outro da mesma estirpe, um gentleman que conquista um sem número de pessoas pelo Brasil a fora. O ponto chave dessa cepa é que os pastores subalternos, do mais próximo e mais instruído ao pastorzinho de periferia se utilizam de práticas de arrecadação financeira que não é facilmente vista ou até mencionadas pelos grãos líderes.

Parece até que, ouvindo Edir Macedo, não estamos na mesma Universal com suas megas reuniões de pessoas que juram de pés juntos que encontram a riqueza e felicidade, coisa que não existem em outras igrejas, só lá, é marca exclusiva. É possível ouví-los fazer o chamamento pela TV utilizando vários "testemunhos", atingindo várias áreas, mas principalmente a financeira, a saúde e a sentimental. Ouvi certa vez um homem afirmando ao entrevistador que fez uma doação de três carros 0k, e com isso sua vida mudou exponencialmente.

Sem dúvida, com novas denominações que "estouram" em âmbito nacional, mais agressivas quanto ao método, o Brasil se tornou um território disputado em cada metro quadrado pelos neopentecostais e a Universal precisou mudar o estilo e discurso para garantir espaço e vantagem em relação às demais. Hoje, os líderes não mais precisam chutar estátuas de santos da velha romanista, que outrora era famosa por essas mesmas práticas de loteamento do céu. Hoje, eles se investiram de uma capacidade mobilizadora penetrante na classe média, daí a linguagem empresarial e fórmulas mágicas de ressucitamento de empresas e vocações profissionais falidas, mas lembre-se: só na Universal! O apelo populista ainda é forte, mas com roupagem nova.

Hoje, a guerra é contra os próprios concorrentes neopentecostais. E aqui e acolá ouve-se os pupilos de Edir Macedo mencionar algo sobre os tais concorrentes "desclassificados", no mesmo instante em que convidam para as superreuniões não mais de descarregos, mas da busca pela fortuna, onde o fiel "revoltado" com sua situação poderá enriquecer, mudando da água para o vinho, enfim, coisas desse tipo. Aos amigos católicos, macumbeiros, evangélicos e ateus, se querem ficar ricos, o endereço é no "Fala que Eu Te escuto!"